CASA VELHA
Clerisvaldo B. Chagas, 21 de agosto de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.369
(FOTO: OSCAR SILVA):
Após vencer na vida (coletor federal) um dos escritores mais antigo de Santana do Ipanema visitou sua terra e a casa em que nascera e fora criado pela avó, em 1953. Fugira da fome para se alistar na Revolução Paulista. Sua casa era defronte a nossa. Eu estava com 7 anos na ocasião da visita. Convivi muito com a sua avó “Zifina” Flandreleira. Somente conheci Oscar em uma outra visita, já adulto, jantei com ele no Biu’s Bar e Restaurante, Rua Delmiro Gouveia, quando ele me pediu para escrever a história de Santana.
Veja
o que ele escreveu após a visita de 1953. Não poderia ficar escondida uma das
mais belas crônicas que eu já li. Na íntegra:
“A
casa velha da Rua do Sebo, a casa de minha avó, dava na vista de todo mundo que
passava por ali. Trepada em verdadeiros rochedos, frente de taipa, reboco a
cair pela metade, oitão esquerdo exposto à chuva e à tempestade, de pé ainda,
ou quase agachado, o velho pardieiro resistia e desafiava o próprio tempo
destruidor, os antigos donos morreram ou fugiram e deixaram-na abandonada. Ela,
porém, mau grado a vontade dos que a queriam demolida, ali ficou e ali
continuava (1953), página dilacerada da grande história do povo santanense. Data
nossa.
Antigamente,
quando Santana fincava no morro da Goiabeira o cruzeiro que marcaria a chegada
do século, aquela casa era simplesmente um quartinho de pólvora de algum
fogueteiro da vila, a catingueira ou o marmeleiro, em redor, teús lutando com
cascavéis, enquanto mocós e preás
corriam espantados à procura de abrigo contra o perigo iminente.
Passaram-se
os dias. O quartinho de pólvora virou casa. E nessa casa nasceram lutas que
eram de toda uma geração.
Casa
velha da Rua do Sebo. Ali se viveu e lutou. Nela se hospedaram matutos para as
missas dos domingos ou das sextas-feiras. Nela morreram os primeiros donos e
dela fugiram os que não morreram. Casa velha da Rua do Sebo, festas ao Divino
carpinteiro, casamentos de moças e rapazes, menino nascendo em ano de seca, menino
dormindo para entreter a fome, menino fugindo da paz em procura da guerra! Casa
velha da Rua do Sebo, página dilacerada da grande história do povo santanense”.
·
SILVA,
Oscar. Fruta de Palma. Caetés, 1953, Págs 89-90.
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