EU
E O SENHOR DOS MUNDOS
Clerisvaldo
B. Chagas, 17 de agosto de 2020
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
2.366
Ajeitei o chapéu de massa, aprumei o bornal e dei início a caminhada pela trilha. A meta era chegar ao topo do monte por veredas desconhecidas. Encontrei a primeira inclinação e subi por ela entre a vegetação de porte. Depois de muito andar subindo por aquele caminho estreito, parecia que eu estava só no meio do mundo. Eis que de repente avistei um homem alto de longos cabelos examinando os frutos de uma árvore. “Que bom! Alguém para me informar”. Fiz o cumprimento de praxe e o homem me perguntou: “Está indo para onde meu jovem?” Respondi: “Estou fazendo caminhada com destino ao topo, mas não sei se é por aqui. Pode me indicar o caminho? Quem é o senhor?”. Eu achava que fosse um morador da serra, mas ele me respondeu: “Jesus, eu sou o caminho, a verdade e a vida”. Um forte arrepio doce percorreu todo o meu corpo, da cabeça aos pés.
“Venha,
dê-me sua mão”, disse ele. Dei a mão automaticamente como se tivesse
hipnotizado. Não consegui mais dizer nada. Senti me descolar do chão, flutuar
com ele e subir a trilha como pássaro voando baixo, sem parar, até o cume. Lá
em cima ele largou minha mão e disse: “Contemple quanto é belo esse panorama
que você queria ver”. Ainda sem conseguir falar, escutei sua palestra sobre
outras coisas até que ele disse: “Quero que você faça um cruzeiro de madeira e
o coloque exatamente aqui”. Deu-me a metragem da cruz, disse o tipo da madeira,
a profundidade do buraco e a metragem que deveria ficar soterrada. Após, mandou
preencher o buraco com concreto e deixar um entorno na cruz para visitantes
cansados descansarem da subida.
Depois,
o Senhor indagou se eu tinha dúvidas. Respondi que não. E Ele: “Você me
promete?” Falei pela segunda vez: “Mestre, prometer eu não prometo, prometo
apenas tentar”. Ele nada respondeu, apenas disse que quando tudo estivesse como
ele pediu, voltaria para um exame. Despediu-se e sumiu da minha vista. Eu me belisquei por todo canto para ver se era
verdade tudo aquilo. Desci a serra trêmulo de medo e de ansiedade.
Providenciei
tudo que ele me pediu, com um carpinteiro. Contratei pessoas para transportar o
cruzeiro de madeira de lei. O braço da cruz foi pregado lá mesmo no topo. Após
tudo terminado, voltei lá sozinho, uma semana depois. Quando cheguei ao topo, o
mestre já estava lá, sentado e contemplando a paisagem. Ele deu-se por
satisfeito e eu apenas perguntei: “Senhor, eu posso plantar um pé de rosas
vermelhas no pé da cruz?” Ele disse: claro que pode, mas medindo cinco metros à
direita”. Eu havia levado a muda e fiz como ele mandou. Daquele dia em diante
nunca mais fui o mesmo na minha vida.
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