terça-feira, 8 de março de 2011

CINZAS DE FOGUEIRA

CINZAS DE FOGUEIRA
(Clerisvaldo B. chagas, 9 de março de 2011)

Quarta-feira de Cinzas. Ainda tem muitos camaradas curtindo a terça de Carnaval. Blocos inteiros ultrapassaram o limite da meia-noite, viram o dia raiar e tentam um prolongamento infinito das suas emoções. Como é bom extravasar! Deus não condena a alegria. O condenável é apenas aquilo que não se coaduna com os princípios cristãos, a violência, o álcool em excesso e muitas outras práticas nocivas que muitas vezes terminam em tragédia. Brincar o Carnaval com sabedoria é salutar e recomendável, quando inúmeros problemas imaginários evaporam no sentimento alegre, na música, na camaradagem, na euforia que não cabe dentro da alma. Entretanto, poucos são os conscientes que sabiamente fazem como manda a regra do bem viver. Nesse novo dia vamos contemplando o que restou do reinado de Momo pelas calçadas e sarjetas numa filmagem real da vida humana. Aqui, acolá, um fantasiado passa procurando um bar aberto para os últimos tragos de uma farra que se extingue. Um instrumento mudo, uma ressonância nos ouvidos dos que persistiram nos quatro dias numa toada de ilusões.
Tem início, para os católicos, o período da Quaresma que são os quarenta dias antes da Páscoa, a partir de hoje e sem contar os domingos. Essa fase é praticada há bastante tempo pela Igreja e faz parte do calendário cristão ocidental. Chamamos a este dia, especialmente quarta-feira de cinzas, lembrando o simbolismo do Médio Oriente, quando as pessoas colocavam cinzas à cabeça demonstrando arrependimento perante o Senhor. Os católicos celebram missas, ocasião em que os sacerdotes marcam as testas dos fiéis com cinzas e realizam belas práticas sobre esse significado. Representam às cinzas, reflexão sobre a vida, mudança, conversão, a nossa fragilidade perante a morte. Geralmente o cristão só retira a marca deixada na testa, no início da noite. Ainda pela Igreja, na quarta-feira de Cinzas não se come carne, assim como na Sexta-Feira Santa. O jejum e abstinência são guardados pelas pessoas que gostam de manter a tradição. O próprio Cristo falou sobre a força do jejum, hoje comprovado pela Ciência. Infelizmente esse dia, outrora tão sagrado para todos, torna-se propício aos indiferentes a tudo.
De um jeito ou de outro, o chamado feriadão foi bom para o funcionalismo e ruim para os comerciantes, segundo eles. Azar! A ambição pelo dinheiro nunca satisfaz ao avarento. Vamos voltar ao ritmo normal pelo menos até à Semana Santa. Afinal, ninguém é de ferro. É difícil parar para refletir. Mesmo assim, vamos vivendo como se fôssemos eternos nessa condição terrena, mas quando o nosso mundo desaba, notamos que não passamos de CINZAS DE FOGUEIRA.

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CARNAVAL DA SEGUNDA

CARNAVAL DA SEGUNDA
(Clerisvaldo B. Chagas, 8 de março de 2011).

          O tempo em Alagoas continua nublado com nuvens cinza. Às vezes nem sequer as folhas movem-se pela falta da mais leve brisa. O calor sufoca dentro de casa, nas ruas, nos automóveis. De vez em quando, pequena e cansada chuva tenta amenizar o mormaço asfixiante. O máximo que consegue é aumentar essa quentura do mês de março. Novamente a capital está ocada como talo de abóbora. Fica fácil enfrentar o trânsito reduzido de avenidas quase vazias. Os bares do centro estão fechados. Os donos, ou estão nas farras do litoral norte/sul ou fugiram da chateação dos poucos bêbedos que ficaram. Pegar umas latinhas só nos postos de gasolina; almoçar, somente em raríssimos restaurantes ou nas barracas do litoral sul. É a segunda-feira de Carnaval pontilhando a terra. Para quem não brinca, visitar o santuário da Virgem dos Pobres é boa opção. É logo ali perto do Extra, numa entrada estreita e ladeirosa que termina na metade da barreira. Está havendo retiro. Os inúmeros agradecimentos por graças alcançadas, estão pregados ao longo da parede que leva ao santuário.
          Na realidade, nesses dias de Carnaval, poucas são as opções de visitas sociais. Em compensação, para quem aprecia a Natureza litorânea, além das lagunas, pode encontrar a majestade dos cenários deslumbrantes. Passeio de jangada na piscina natural da Pajuçara; uma geladinha na praia do Francês; pescaria na barra da lagoa ou boa caminhada pela ilha de Santa Rita deixam o indivíduo na mais completa ordem. Não vamos cair na tolice de sair de casa meio-dia por que o Sol não alisa nem mesmo a sertanejos como nós. Perguntamos a moça que vende coco verde onde está à freguesia, cadê o povo. Ela nos olha com olhar brejeiro, sorriso maroto e responde: “Oxente! O povo, meu senhor, tá nos Carnavá”. Indagamos se não estamos no “Carnavá”. A moça já vai ficando invocada e responde estirando o beiço: “Virche! Não senhor. Os Carnavá é pracolá, ói!” E vai ajudando o beiço com a mão, como quem está varrendo com os dedos.
          A noite chega. O Sol parece ter ficado embutido na escuridão, pois o calor continua sufocante. As pessoas correm ao único supermercado aberto, como prevenção para amanhã. Um funcionário ameaça fechar a porta de ferro. Saem pedidos aperreados dos clientes retardatários. Lá fora, àquela chuvinha mortiça também vai anunciando que o mercado fechou. Os pneus vão fazendo ruídos estranhos pelo asfalto borrifado. Não se ouve uma só música de Carnaval nem dentro nem fora do estabelecimento. A segunda-feira vai-se despedindo meio tristonha, cansada, abatida pelo sufoco climático do dia. E se for para dizer, vou copiar a frase do flanelinha guarda carro:”Tá na hora de pegar o beco”. Adeus CARNAVAL DA SEGUNDA!

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