terça-feira, 29 de julho de 2014

O CANDIDATO E O ANUM-PRETO



O CANDIDATO E O ANUM-PRETO
Clerisvaldo B. Chagas, 30 de julho de 2014.
Crônica Nº 1.229

Anum-preto.
Zé Neguinho era a ave humorista das capoeiras. Pássaro miúdo e negro gostava de vigiar o mundo no cabeçote das estacas. As balas roliças de barro seco zoavam sem parar, mas Zé Neguinho pulava, trilava, batia as asas como quem diz: “acerta o alvo cagão!” O bizaco de balas ia-se esvaziando e, às vezes, nem pedrinhas substitutas havia nas veredas.
Outro passarinho protegido, era o anum-preto. Medonho comedor de insetos derrubados pelos bovinos levava ─ sem merecer ─ a fama de devorador de carrapatos e por isso não era perseguido pelo homem. Entretanto, na raiva, pelo dia ser da caça, bem que o caçador procurava descontar a frustração em cima do Cuculiforme cuculídea das caatingas. Anum-preto não zombava como Zé Neguinho, mas parecia possuir uma rede protetora invisível. Meter-lhe bala de peteca ou chumbo de espingarda, somente matava de raiva o atirador. O bicho era tão difícil de ser atingido que o povo caboclo do sertão repetia o ditado: “Quem tem pólvora pouca não atira em anum”.
Estamos vivendo mais uma fase de campanha eleitoral. Como mandar é bom e gastar dinheiro alheio também, não faltam brigas de raposas pelas tocas idolatradas. Está cada vez mais difícil cordeiro jantar com carnívoro canídeo, isto é, entrar no céu a pulso como diz o povo.
Em Alagoas, concorre a genética, pois nada muda entre os aspirantes ao continuísmo.
O ex-candidato a governador Eduardo Tavares, ouviu muito bem o canto da sereia. O canto faz esquecer as condições do barco. Sem ser ainda bastante conhecido para um embate desse porte, o, então, candidato Tavares pelo menos mostrava ser bem intencionado em relação ao nosso território. Alagoas precisa com urgência de um nome novo com respaldo moral em garantia. Os donos da política, entretanto, não permitem que o alagoano sonhe com o novo. Quem sabe se o nome tão esperado pelos sofredores caetés, não seria o Tavares! Entrando pela porta errada e tendo que recuar, Eduardo deixa o povo a vê os mesmos dentes afiados de sempre. Que pena! O dito popular continua em voga: “QUEM TEM PÓLVORA POUCA NÃO ATIRA EM ANUM”.
           

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domingo, 27 de julho de 2014

LAMPIÃO, O FIM DO REINADO



LAMPIÃO, O FIM DO REINADO
Clerisvaldo B. Chagas, 28 de julho de 2014.
Crônica Nº 1.228

Setenta e seis anos separam o dia de hoje da hecatombe de Angicos. Uma noite/madrugada gélida e chuvosa “frio de matar sapo”, ocultou o avanço heroico de três volantes alagoanas nas águas e terras do rio São Francisco.
Três canoas unidas por caibros e cordas de caroá, descem nas águas agitadas do Velho Chico, entre 19 e 20 horas, enfrentando os perigos da corrente e mais tarde uma lua nova fantasmagórica. São 48 homens nus, tiritando de frio nas canoas laterais. Roupas, armas e munições estão sob a lona que encobrem a embarcação do meio.
O tenente João Bezerra, comanda as três volantes: a sua, a do sargento Aniceto e a do aspirante Chico Ferreira, mesmo em constantes desentendimentos. Com a chuva miúda, as águas agitadas, o ranger constante do ajoujo e a nudez escondida pelas trevas, alguém sentencia: “Vestido de Adão ainda pode haver salvação”.
Em torno das 22 horas as embarcações chegam ao lugar Remanso, praticamente defronte o coito de Lampião. Uma das canoas vai buscar o coiteiro Pedro de Cândido, abaixo do povoado Entremontes, cerca de 1 km. Entre tortura e ameaça o coiteiro que se tornou mais conhecido, termina levando as volantes até a grota da fazenda Angicos, com seu irmão Durval.
Os volantes bebem muita cachaça e Pedro de Cândido traça o cerco. Pertinho do amanhecer, escuro ainda, acontece o ataque aos cangaceiros. Os policiais estão conduzindo e atirando com metralhadoras. No final do ataque são contados 11 cangaceiros mortos que são degolados pelos soldados raivosos. O restante do bando conseguiu escapar, alguns dos mortos tiveram os nomes confundidos e, atualmente, estão escritos em Angicos os nomes: Lampião, Maria Bonita, Quinta-feira, Mergulhão, Enedina, Luiz Pedro, Elétrico, Moeda, Alecrim, Colchete II e Marcela.
Os corpos dos bandidos ficaram amontoados sob pedras no leito do riacho onde estavam acampados. As 11 cabeças foram expostas em várias cidades e povoados de Alagoas até chegar a Maceió onde foram entregues.
O reinado de terror lampiônico acabava de ruir e com ele (mais Corisco, dois anos depois), a página negra sobre o cangaço foi virada.
·         Texto baseado no livro “LAMPIÃO EM ALAGOAS”, dos autores Clerisvaldo B. Chagas e Marcello Fausto, onde o prezado leitor encontra todos os detalhes que procura. A maior obra escrita sobre o cangaço no estado.


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