domingo, 18 de maio de 2025

 

ÁGUA NA PEDRA

Clerisvaldo B. Chagas, 19 de maio de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3. 235




É natural que as pessoas tenham abandon

ado hábitos antigos e tenham se integrado aos tempos modernos, aqui no Sertão de Alagoas. Foram deixados de lado os remédios do mato, a procura de águas nas cacimbas de rios periódicos e a lavagem de roupas nos pilões de pedra. Motivos pela ordem: remédios de farmácia em abundância, água encanada do rio São Francisco e máquinas de lavar. Muitas outras coisas poderiam ser citadas, mas vamos parar por aqui com objetivo de falar sobre os pilões de pedras, um dos motivos do meu próximo livro sobre a zona rural. Pedra d’Água, Caldeirão, Caldeirão de pedra, são os nomes que se dão no Sertão às rochas, rochedos, lajes, lajeiros, lajedos, lajeado, que afloram e que adquirem, pela Natureza, várias formas que acumulam águas pluviais.

Aqui no Sertão alagoano, no município santanense, temos até um povoado de denominação, Pedra d’Água dos Alexandre. E é interessante porque pertence a dois municípios: um lado da rua é Poço das Trincheiras, o outro lado, Santana do Ipanema. É terra da cangaceira Maria do Cangaceiro Pancada. Maria de Pancada como ficou conhecida. Pois bem, O nome Pedra d’Água vem justamente de algumas rochas da região que acumulava água das chuvas em suas formas. Em Santana existem vários pilões de pedra. Somente na região de Camoxinga dos Teodósio existem mais de cinco, porém, hoje estão esquecidos por causa da existência de água encanada. Se você não alcançou, que pena! Era um encanto as lavadeiras de roupa nos caldeirões de pedra. Simplesmente romântico.

Tirando a faina charmosa das lavadeiras nas rochas, o local   é atrativo para pássaros e outros animais selvagens, e mesmo lugar de emboscada para caçadores, hoje ilegais. Suas formas de retenção da água pluvial tem uma ótima variação: rachaduras, cavidades simples, panelas, caldeirões, torneados profundos ou não e panelas em forma de parafuso. Ali vêm beber, o sapo, a raposa, o furão, o lobo-guará, a cobra, o cassaco e todos os selvagens do perímetro, durante, principalmente o período de estiagem prolongada. Durante o tempo mais frio do inverno, urubus e teiús costumam usar esses e outros lajeados para obrigatórios banhos de sol, como os humanos. Por isso e por mais ainda, é tão importante um lajeiro tipo caldeirão na propriedade quanto uma lagoa, um riacho, uma várzea.

LAJEADO COM ÁGUA (foto: PULSAR).

 


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segunda-feira, 28 de abril de 2025

 

NA FURNA DA ONÇA

Clerisvaldo B. Chagas, 29 de abril de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.233

 



Caverna, lapa, gruta, furna e sovaco, no Sertão representam a mesma coisa. Há muitos anos recebi um convite de uma professora, líder rural da Camoxinga dos Teodósio, para conhecer a Furna da Onça. Uma furna com cerca de 50 metros de interior, situada em uma das cabeças da serra do Poço – serra que divide os municípios de Santana do Ipanema e Poço das Trincheiras.  Na época não fui. Muito tempo depois, na mesma abordagem, já não dava para mim, enfrentar lugares de difíceis acessos. Porém, desta feita se formos mesmo percorrer todas as regiões do município, sei que um companheiro subirá até o local e mostrará para o mundo a Furna da Onça, tanto em foto quanto em vídeo.  E mais uma espécie de corredeiras onde a pesca é farta quando os peixes sobem nas cheias do riacho Camoxinga.

Mas aprendi muito e muito mais, entrevistando sobre esta região serrana. Por exemplo, que o antigo sítio onde o santanense ia buscar água boa e cara no tempo do abastecimento com jericos, não pertence ao nosso município. Marcela, sítio que ficou tão famoso pela sua água, pertence ao Poço das Trincheiras. Outra coisa para você em primeira mão: O rio Ipanema quando penetra no município de Santana do Ipanema, entra pelo sítio Água Fria, Banha os seguintes sítios, Água Fria, Mata Verde, Poço Grande, entra na cidade com barragem artificial na BR-316, prossegue banhando os sítios Barra do João Gomes, Poço da Areia e sai do município pelo sítio Jaqueira. São detalhes que, somente pessoas abnegadas aos estudos específicos descobrem e contam para os outros que abrem a boca admirados.

Ainda temos detalhes sobre nascimento, foz e sítios banhados pelo riacho Camoxinga, bem como a sua extensão total. E nessa entrevista prévia, para os nossos trabalhos de campo, descobrimos também o grotão de Arão. Grota profunda na aba da serra do Poço, dividida em dois braços, verdadeiro terror das enxurradas de invernos e trovoadas, funcionando como verdadeiros riachos de montanhas. É por isso que vale à pena uma boa entrevista, nem que seja no Zap, como fiz. O que vale é o amor à causa em ambos os lados, para que o mundo pulule de conhecimentos.

FURNA SEMELHANTE A DA ONÇA (FOTO: STOCK).

 

 

 


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