terça-feira, 10 de junho de 2025

 

CACHAÇA

Clerisvaldo B. Chagas, 11 de junho de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3,247


 


O irmão do padre Bulhões, Pedro Bulhões, era dono de cartório, mas o outro irmão, Antônio Bulhões, era proprietário de fabriqueta de cachaça, em pleno comércio de Santana do Ipanema. Ficava muito perto da esquina que desaguava para a Avenida Barão do Rio Branco, entre a farmácia Confiança do senhor Hermínio Tenório (Moreninho) e a alfaiataria do senhor Walter Alcântara.  Mas, havia também uma fábrica de cachaça na esquina da primeira travessa da Rua Antônio Tavares, pertencente ao senhor Manoel Lopes. Á margem do Rio Ipanema, bem perto da Ponte Padre Bulhões, havia uma outra fábrica de cachaça. Esta pertencia à família Lemos, porém, não temos certeza se era a mesma em que o Sinval o rapaz recitadorl tomava conta.

A produção dessa mercadoria era transportada em lombo de jumento: tanto surgia em ancoretas para longas viagens, quanto nas garrafas em caçuás. Não temos lembrança de outra bebida alcoólica fabricada na cidade. Estamos querendo dizer que havia muitas fábricas dos mais diferentes artigos em Santana do Ipanema e que tudo acabou, não existindo uma só fábrica de nada. Havia três fabricas de calçados, de vinagre, de corda, oito de sola, de carne-de-sol, de doces, de fubá, de tempero, de colchas, de mosaicos, chapas de fogões (fundição) de selas, de arreios, de colchões. Tudo que havia foi extinto, inexplicavelmente e a cidade passou a importar tudo o que antes produzia. Deixou de ser uma cidade industrial para comercial. Hoje somos uma cidade comercial.

Quanto ao consumo de bebidas alcoólicas, não notamos nenhuma diferença da metade do século passado para hoje. O que varia são as marcas de cachaça que aparecem, geralmente importadas de Pernambuco. Algumas delas são mais sofisticadas, mas outras ainda são chamadas de “rinchonas”, o que vem a ser cachaça ruim cachaça fuleira, cachaça peba, cachaça que não vale nada. E se não há mais indústria, não há mais empregos melhores e a juventude vai montar no seu futuro, apenas atrás de um balcão de loja qualquer.

Nem uma cachaça de Santana você consegue hoje tomar.

Fazer o quê?


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NÃO DEIXEI DE RESPONDER

Clerisvaldo B. Chagas, 10 de junho de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.246



 

Fui perguntado sobre as coisas da cidade que mais marcaram a minha juventude. Pelo menos nunca omiti a mim mesmo, a minha história, aos meus sentimentos, os sentimentos de naturalidade. E nem que você queira, pode apagar a nódoa, no bem sentido, da qual se impregna para sempre na infância. Portanto tive que responder sem titubear os lugares que exerceram grades influências na minha vida. E cito com prazer pelo menos esses: Poço dos Homens, no rio Ipanema; Igreja Matriz de Senhora Santana; Grupo Escolar Padre Francisco Correia, no Bairro Monumento; a Rua Antônio Tavares e suas adjacências e a Biblioteca Pública, dirigida por Nilza Marques e Ginásio Santana na pessoa do professor de Geografia Alberto Nepomuceno Agra.

Sem pensar nunca que poderia ser um escritor, passava as férias escolares (três meses no início do ano, um mês nos meados) no povoado Pedrão de Olho d’Água das Flores, na casa da minha tia Delídia. Dali trouxe várias bagagens e detalhes da caatinga, mais usos e costumes, que seriam enfeixados futuramente nos meus romances regionalistas/históricos. Juntei sem saber todas as leituras dos diversos autores do mundo na Biblioteca Pública, o aprendizado do Pedrão, as incursões na caatinga, nas capoeiras e no rio Ipanema para solidificar meus escritos impactantes. Claro que muitas outras coisas foram se agregando ao nosso entendimento, ao nosso estilo e ajudando a iluminar a estrada. Ninguém nasce no rio, mas de repente se vê nadando.

Muito valeu uma biblioteca pública, emprestadora de livros quinzenais; uma bibliotecária educada, entendida e prestativa; um ambiente agradável, formal e limpo; e a leitura agradabilíssima de gibis americanos, folhetos de feiras (romances, cordéis) e livros de bolso americanos, de bang-bang. Tudo são fábricas de escritores. Não posso deixar aqui de exaltar o esforço de alguns prefeitos da terra ao enxergar e tentar praticar a Cultura, muito difícil de ser entendida antigamente. Preito ao “Prefeito Cultura” e fundador do museu, Hélio Cabral de Vasconcelos e ao prefeito fundador da Biblioteca Pública, Coronel José Lucena de Albuquerque Maranhão.

Santana do Ipanema para o mundo.

Orgulho em ser SERTANEJO.

 


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