quinta-feira, 12 de junho de 2025

 

PAPAGAIO

Clerisvaldo B. Chagas, 13 de junho de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.249

 



Era uma casa de taipa, isolada, bem no sopé do serrote do Pelado. A estrada iniciava ali na periferia, Bairro São Vicente e levava seu usuário para o povoado São Félix e região. Era na cumeeira, diante da porta da frente que havia um rude cata-vento de madeira e ao lado da metade da porta, um poleiro também de madeira, com um papagaio a tomar sol, acorrentado pela perna. Essa paisagem simpática, modesta e atípica, sempre me chamava atenção e me deixava pensativo, quando por ali passava em direção à serra do Gugi, quase todos os domingos. Uma jornada de 2 léguas (12 km) a pé, para comer galinha na casa de Jonas, no pé da serra do Gugi, beber caldo-de-cana e chupar manga Gobom no pé, no alto da serra no sítio do senhor Olavo e dona Neném. Eu, e os saudosos amigos Mileno Carvalho e Francisco Assis. 

Toda a região, nos últimos anos foi modificada. O casario do Bairro São Vicente, se expandiu pelo sopé do serrote do Pelado e emendou com diversas construções do bairro vizinho, Lagoa do Junco. Agora tem hotel de luxo, condomínios de alto nível, conjuntos diversos, mercadinhos e inúmeras prestadoras de serviços. A nova paisagem urbana ocupa ladeiras, grotas, planos com asfalto e planejamento. A vizinha Lagoa do Junco tornou-se um Complexo de Justiça, muitas prestações de serviços, faculdade, escola modelo, CISP e a transformação quase completa dos dois barros pegados, em uma nova cidade. Nada mais de casa de taipa, cata-vento e papagaio.

Já faz muito tempo que me dirigi à serra do Gugi, ponto culminante de Santana do Ipanema, mas deixei registrado uma cena fictícia do meu romance DEUSES DE MANDACARU, lá no sítio de Olavo. Continuo admirando aquele monte situado na região do povoado São Félix. Foi decantado por dois escritores, Oscar Silva e Clerisvaldo B. Chagas. E para não ficar somente em nós, é por ali que o simpático riacho Gravatá vem lamber-lhe os pés. E a região do serrote do Pelado e adjacências vão focando noutra Santana do Ipanema, inclusive ornamentando a entrada da cidade, para quem chega da capital. A Lagoa do Junco, mesmo já está se estruturando para ser o futuro local da feira semanal de Santana que sairá do Cento da cidade. Ê... Meu papagaio...

UNEAL NA LAGOA DO JUNCO, EM 2013 (FOTO: B.CHAGAS/LIVRO 230).

 


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quarta-feira, 11 de junho de 2025

 

BAMBÁ

Clerisvaldo B. Chagas, 12 de junho de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.248


 

Nome muito utilizado no rio Ipanema, imediações e por onde se vendia peixes. Enquanto a pobreza chiava no campo e na cidade dentro dos lares ou nas andanças das ruas, o rio temporário do Sertão nunca abandonara a sua generosidade, ou durante as cheias ou na sequidão com os diversos poços que restavam da fartura, inúmeras famílias conseguiam criar os meninos com a pesca miúda oferecida. No rio Ipanema, um peixe de três quilos já era considerado grande, enorme, bem-criado. E todos nós que amávamos o rio sabíamos os nomes doshabitantes das águas: Bambá, Traíra e Mandim, os maiores. Piaba, carito ou chupa-pedra, os menores. A bambá, no rio São Francisco era chamada Xira e decantada em prosa e verso. O carito era o mais vil. E, praticamente somente uma família muito pobre da Rua São Pedro, pescava carito. A família Rei.

Ninguém conhecia por ali outro tipo de peixe produzido no trecho citadino. Certo dia, porém, surgiu no Poço dos Homens o advogado Aderval Tenório, que também era farrista, mas que nunca aparecia no Poço dos Homens e que daquela vez apareceu ostentando um Pitú dos grandes. Dizia haver comprado no poço do Escondidinho, coisa que ninguém jamais pensara que existisse. Na certa subira do rio São Francisco e fizera essa surpresa em Santana do Ipanema. Surpresa mesmo! Grande novidade na pesca local. Este sim, era para a farra propriamente dita, todos os peixes maiores ou menores, era, na maioria, para matar a fome e no mínimo complementar o almoço sertanejo. Os lugares de pesca, principais eram a barragem, no bairro do mesmo nome; o poço do Juá, no trecho do Comércio; o poço dos Homens, abaixo e quase ligado ao de cima; e o poço do Escondidinho, muito abaixo no Bairro Bebedouro.

Entretanto o pessoal batia constantemente por todos os outros  poços menores que ficavam das cheias. A pesca era na base da tarrafa, do anzol, do jequi, da rede e do litro, para as piabas.

Era o Panema romântico e caridoso

CHEIA NO PANEMA (FOTO DE ÂNGELO RODRIGUES).

 

 


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