OS BARREIROS DO SERTÃO Clerisvaldo B. Chagas, 9 de março de 2017 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica 1.643 BARREIRO ...

OS BARREIROS DO SERTÃO



OS BARREIROS DO SERTÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 9 de março de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.643

BARREIRO SECO NO SERTÃO. Foto: (Clerisvaldo B. Chagas).
Barreiro é uma cavidade arredondada artificial no solo para acumular águas pluviais. Seu tamanho varia entre dez e cinquenta metros de diâmetros, mas pode se apresentar quadrado ou triangular. Embora feito para barrar a água da chuva que escorre pela terra, é chamado “barreiro”, se distinguido da “barragem” ou “açude” quando tem proporções muito maiores. A denominação vem da escavação no terreno argiloso, porém, em qualquer tipo de solo é conhecido como barreiro.
Apesar de pequeno, é ele quem ajuda no acúmulo de água para o gado e mesmo para o consumo humano. Geralmente é construído em terrenos onde existe boa inclinação chamados bacias. Entretanto, o desespero do pequeno agricultor leva-o a escavar terrenos planos, quase sempre sem êxito. Pode ser aproveitado o olho d’água, também chamado minação e minador. Os agricultores de menor condição escavam os barreiros manualmente reunindo alguns homens que retiram o material escavado com couro de boi. Os que têm condições contratam empresas que proporcionam o serviço através de trator, pago por horas trabalhadas.
Os barreiros são comuns no sertão, notadamente onde inexistem barragens ou açudes. Muitas vezes eles são auxiliados no acúmulo de água, pelos lajeiros côncavos e pelas cacimbas escavadas nos leitos de riachos secos. Mesmo estando completamente cheio, esse pequeno reservatório vai aguentando o Sol menos forte do inverno e sumindo com a evaporação e o uso de bovinos, caprinos, ovinos, animais selvagens e o consumo humano.
As águas das enxurradas fazem uma varredura no solo, cujo material se acumula no barreiro, inclusive as fezes dos animais.
O programa Água para Todos, que integra o Plano Brasil Sem Miséria, concebido pelo Governo Federal tem como meta a construção de três mil pequenos barreiros e barragens de água pluvial. Embora essa meta seja significativa, ainda é muito pouco para as necessidades sertanejas. Quem está fora do Programa resta à contratação de um trator pagando por hora trabalhada para obter as condições mínimas de armazenamento. São necessárias 50 horas/máquina, valor tão sufocante quanto o Sol que torra a caatinga. Trocando o palavreado, vamos ao provérbio dos avós: “O pão do pobre só cai com a manteiga pra baixo”. Naturalmente, quando tem manteiga.




A LINHA DOS MÍOPES Clerisvaldo B. Chagas, 7 de março de 2017 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica 1.642 Construção da...

A LINHA DOS MÍOPES



A LINHA DOS MÍOPES
Clerisvaldo B. Chagas, 7 de março de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.642

Construção da UFAL na colina da Floresta. Foto: (Clerisvaldo B. Chagas).
Toda cidade possui potencial para crescer ainda que somente possa contar com pedras e espinhos. Tudo depende da visão dos que amorosamente abraçam à causa, repletos de boa vontade. Quanto à topografia, desestimula algumas atividades e favorece a outras. Pelo Brasil inteiro se aposta no turismo ecológico, religioso, cultural, de lazer, de descanso de trilha, esportivo e mesmo de negócios. Mas não somente o turismo alavanca a economia. Um gerenciamento inteligente, honesto e dinâmico pode transformar uma vila, um município, uma cidade. A rede da preguiça, o marasmo da ignorância, o arroto dos bestas, são os entraves caríssimos pagos amargamente por uma população dependente e escravizada.
No interior de Alagoas, assim como em outros estados, existem cidades ladeirosas que procuram os caminhos para a vocação. Algumas promovem festivais de inverno, outras pregam o clima ameno, o turismo de esporte radical, às visitas dirigidas aos seus mirantes naturais.
Na Capital do Sertão, Santana do Ipanema com o segundo comércio do interior (perdendo apenas para Arapiraca) não tem mais aonde estacionar tantos veículos durantes as manhãs. Diariamente chegam à cidade transportes alternativos de todo o Médio e Alto Sertão e até mesmo de Sergipe. A multidão se espalha pelo centro em busca dos serviços bancários, comerciais, advocatícios, médicos e de todas as faixas escolares.
Rodeadas de mirantes naturais como o serrote do Cruzeiro, Gonçalinho, Pelado, serra Aguda e a colina do Bairro Floresta, todas são ignoradas oficialmente. Apenas a última onde se encontra o Hospital Dr. Clodolfo Rodrigues de Melo, com seu magnífico panorama, é usada pelos que visitam a unidade. Ali defronte a UFAL – Universidade Federal de Alagoas – está construído o seu prédio e que, somente pelo cenário espetacular dos arredores inspira vontade de estudar. Assim os grandes empreendimentos vão trazendo outros à altura e a cidade se agiganta pelas iniciativas de particulares e abnegados.
Tudo, tudo sob a linha remendada e míope das maiores autoridades capenga.

OBRAS DE ARTE NAS TOCAIAS Clerisvaldo B. Chagas, 6 de março de 2017 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica 1.641 A I...

OBRAS DE ARTE NAS TOCAIAS




OBRAS DE ARTE NAS TOCAIAS
Clerisvaldo B. Chagas, 6 de março de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.641

A Igrejinha das Tocaias. Foto: (Clerisvaldo B. Chagas).
Obra de arte é uma obra criada ou avaliada por sua função artística ao invés de prática. Entende-se a representação de um símbolo, do belo.
Voltados mais para a prática do que para a beleza, estivemos na RPPN – Reserva Particular do Patrimônio Natural – no bioma caatinga, em Santana do Ipanema. Trata-se da primeira RPPN do Sertão e que recebeu o nome Reserva Tocaia. A denominação vem do lugar onde houve uma emboscada, no tempo da escravidão, cujas vítimas foram uma senhora e um bebê que iria a pia batismal. O episódio e sua periferia fazem parte da história do município e foi registrada por nós com o título “A Igrejinha das Tocaias”. Apesar de ter havido no local apenas uma emboscada, o povo denominou a região como “Tocaias”.
A “Igrejinha das Tocaias”, em forma de cordel, estar sendo reeditada e fará parte também de vídeo para um projeto da Escola Estadual Professora Helena Braga das Chagas no mês de abril com o nome Projeto Ambiental Reserva Tocaia.
Além disso, haverá um panorama sobre as outras Reservas de Alagoas e demais biomas.
Eu e o professor e escritor Marcello Fausto, parceiro literário e diretor da Escola Helena Braga, ficamos encantados novamente com a beleza da região. Serrote Pintado, baixada, nascente do riacho Salgadinho – que escorre no inverno – e a proximidade do riacho João Gomes, outro afluente do rio Ipanema, produzem obras de arte no hoje cenário dominada pela seca.
A Igrejinha que ainda está de pé, dedicada a São Manoel da Paciência, cercas de pedras construídas por escravos, visão de serras distantes, mata preservada, exibem um cenário de filme de cangaço. Aliás, ali foram filmadas, recentemente, cenas sobre o filho de Corisco. E quando dissemos que pesquisar a Natureza também se torna delicioso lazer, comprovamos a frase no dia de ontem (domingo) quando não se tem pressa nenhuma em deixar a área visitada com o deleite de tantas obras de arte naturais.