O CIRCO E AS LÁGRIMAS Clerisvaldo B. Chagas, 13 de setembro de 2018 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 1.982   DES...

O CIRCO E AS LÁGRIMAS



O CIRCO E AS LÁGRIMAS
Clerisvaldo B. Chagas, 13 de setembro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 1.982
 
DESARMANDO O CIRCO. (FOTO: CLERISVALDO B. CHAGAS).
O circo, diversão das ruas em todos os tempos, vai sofrendo reveses paulatinamente. Numa época em que não havia televisão, a chegada de um circo numa cidade, pequena ou grande, era motivo de reboliço. Alguns deles, além da parte do espetáculo propriamente dito, mostravam também o chamado drama. Este era o tipo de circo-teatro, perfeição de arrepiar. Inúmeros talentos eram tão reconhecidos quanto os do teatro fixos de hoje. Uns apresentavam tanto luxo que de fato imitava um mundo de sonhos, um mundo encantado onde todos os espectadores desejavam explorá-los. Com as novas formas de diversão que foram surgindo no mundo, o circo foi encolhendo e entrando em crise.
Diante dessa situação que vai extinguindo esse tipo de espetáculo, chegou a Santana do Ipanema um circo que se instalou no Bairro São José. As escolas da vizinhança foram convidadas, mas como um apelo de socorro. O preço de entrada estava lá em baixo e algumas escolas mandaram seus alunos para o divertimento. O espetáculo desses talentosos artistas nada deixou a desejar, como sempre. É o mágico, é o palhaço, a rumbeira o mágico, o equilibrista... Mas a situação visual do circo deixou uma tristeza grande nos que compareceram. Aí vamos pensando nos bens públicos e na cultura que convivem com o mesmo desprezo no país.
O circo, além de tantos artistas de primeira a amenizar com alegria o sofrimento geral, é refúgio contra a marginalidade de jovens e adultos através do seu abraço. O que custa uma ajuda empresarial, estadual... Para a compra de uma lona, de um picadeiro de alguns objetos que fazem a felicidade de multidões. Os corações duros, gelados, não se abrem para a caridade de ouro. Assim os jovens, que foram ao circo, procuram entender ou não o desprezo com a cultura ambulante e salvadora de muitas mazelas. Contemplamos com tristeza a fome que ronda todos os dias pequenos e médios circos do país, pois até os grandes estão desistindo.
Chora o povo, chora o palhaço.

  PARCIAL DA FEIRA DE SANTANA. FOTO: (B. CHAGAS). FEIRA, O ENCONTRO DO POVO Clerisvaldo B. Chagas, 12 de setembro de 2018 Es...

FEIRA, O ENCONTRO DO POVO


 
PARCIAL DA FEIRA DE SANTANA. FOTO: (B. CHAGAS).

FEIRA, O ENCONTRO DO POVO
Clerisvaldo B. Chagas, 12 de setembro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 1.981

Foi ainda no século XIX que a feira de Santana do Ipanema começou a funcionar aos sábados. O sábio conselho veio da boca do “santo padre Francisco”, um dos fundadores do município da Ribeira do Panema. Até hoje a feira funciona em dia diferente daquele assinalado como descanso, pelo mundo católico. Além do conselho cristão, o padre era visionário e sabia da dimensão futura da feira-livre e sua perenização. Não se sabe de nenhum contratempo que tenha tido a pretensão de mudança. As feiras dos outros municípios tiveram que concorrer com a de Santana, experimentando outros dias da semana, utilizando até mesmo o próprio domingo.
Com o passar do tempo, somente a feira do sábado não satisfazia nem a produtores rurais e nem a população local. Foi inventada, então, a feira da quarta como complemento da primeira. Como tudo deu absolutamente certo, ambas as feiras continuam até agora, início do século XXI. Não sabemos se ainda pela carência de produtos do campo, necessidade ou ambição comercial, quase todos os dias encontramos barracas espalhadas emendando ambas as feiras. Essa modalidade de comércio que vem desde os tempos medievais, não fica somente no interior. As capitais, mesmo com os seus mercadões com diversos títulos, também continuam com as feiras, sem prejuízo algum. Na capital, Maceió, encontramos a feira do Jacintinho, a feirinha do Tabuleiro e  a do Mercado da Levada que se tornaram permanentes.
É verdade que a feira é um local para ser administrado dia a dia pelos vários fatos novos que vão surgindo. Entre eles está o estacionamento de transportes coletivos e individuais. Entretanto, isso não deve causar nenhum transtorno se os administradores estiverem sempre atentos e dispostos às resoluções de problemas. Andar na feira, comprar na feira, encontrar-se na feira, para muitos é um prazer semanal causador de alegria. Outros não as suportam. Mas a feira é um fator de equilíbrio de preços entre a população e os tubarões.
Foi na feira do sábado passado, em Santana do Ipanema, quando os políticos na praça rasgaram o verbo.
Ô feiras abençoadas!

PADRE BULHÕES/ MUNDO NOVO E A MISSA DOS MATUTOS Clerisvaldo B, Chagas, 11 de setembro de 2018 Escritor Sím bolo do Sertão Alag...

PADRE BULHÕES/MUNDO NOVO E A MISSA DOS MATUTOS





PADRE BULHÕES/ MUNDO NOVO E A MISSA DOS MATUTOS
Clerisvaldo B, Chagas, 11 de setembro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 1.980
 
Missa dos matutos na Matriz de Santana. Foto: (Clerisvaldo B, Chagas).
Nascido no povoado de Entremontes, Piranhas, o padre Bulhões foi pároco de Santana do Ipanema durante, aproximadamente, 30 anos. Foi a figura mais importante da “Rainha do Sertão” no período 1920-1950. A partir de 1936, passou a dividir seu prestígio regional com o, então, major José Lucena de Albuquerque Maranhão. Foi ele quem fez a segunda grande reforma da Igreja Matriz de Senhora Santana, como externamente ora se apresenta. Participou do movimento de resistência à entrada de Lampião a cidade em 1926. Movimentou Santana a favor dos flagelados da seca acampados no leito seco do rio Ipanema. Foi um dos membros fundadores da Escola Cenecista Ginásio Santana. Entre outras coisas, recebeu o filho do cangaceiro Corisco, para criá-lo.
Apesar de ter sido tão importante para a região, ninguém que o conheceu de perto escreveu a sua vida que daria um livro de memórias que honraria Santana do Ipanema. O padre gostava de repetir frases e dizia o que bem entendia, de bom ou de ruim. O povo ria das suas tiradas, tolerando o nervosismo do sacerdote perto da fase final da sua vida. Certa vez um matuto entrou na igreja, de chapéu, procurando fogo para acender o seu cigarro de fumo grosso. O padre via tudo da parte alta da nave. O matuto se dirigiu ao altar, onde havia uma vela acesa e começou a acender o “pacaia” e a baforar. O padre chegou de mansinho e indagou: “De onde você é?”. E o matuto respondeu referindo-se a um sítio da zona rural: “Sou do Mundo Novo, padre”. E o sacerdote, guardando o esporro que costumava dar nos esquisitos, disse exercitando a paciência: “Logo vi, logo vi, pois no mundo velho de meu Deus, não existe dessas coisas, não”.
São muitas as histórias do padre que muito fez por Santana. Em sua homenagem, a ponte que liga o Comércio ao Bairro Camoxinga, chama-se “Ponte Cônego Bulhões”, simplesmente apelidada pelo povo de “Ponte do Padre”. Continua ainda hoje as missas do sábado, dia de feira, celebrada às 9.30. O povo da zona rural aproveita a vinda à cidade para assistir a celebração que por isso ficou conhecida como “a missa de matuto”
Não gosto de perder a missa dos matutos.