SOBRE MIM

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.
O DESPREZO DOS HOMENS Clerisvaldo B. Chagas, 20 de agosto de 2020 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.368 CRISTO DESCARTA...
O
DESPREZO DOS HOMENS
Clerisvaldo
B. Chagas, 20 de agosto de 2020
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.368
CRISTO DESCARTADO (FOTO: B. CHAGAS/LIVRO INÉDITO, "O BOI, A BOTA E A BATINA; HISTÓRIA COMPLETA DE SANTANA DO IPANEMA").
Como
se vê, santo em lugar suspeito não iria dar certo. Muitas coisas profanas
aconteceram por ali gerando revolta na comunidade cristã de Santana. No governo
Isnaldo Bulhões (1983-88) atendendo clamor
popular, Bulhões fez descer do tal Alto da Fé, as imagens de Frei Damião e
Padre Cícero. Cicero foi parar em pedestal defronte a sua igreja no Bairro
Lajeiro Grande e, Damião foi transferido para uma pracinha com seu nome no
Bairro Camoxinga. Cristo permaneceu solitário no ‘alto do pecado”. Somente no
governo Marcos Davi (2001-2004) o Cristo foi removido. Não sabemos se a equipe que deu novo destino a
imagem era ateia ou não. Fomos consultados por puxa-saco onde deixar o Cristo.
Recomendamos o verdadeiro alto da fé, o serrote do Cruzeiro de forte tradição
religiosa.
Esperávamos
alguma modificação na imagem e o seu encaixamento no grande cruzeiro existente,
contemplando e abençoando a cidade. Muitos meses depois, qual não foi a nossa
surpresa em visita ao serrote do Cruzeiro! Naquela grande solidão, deparei-me
de repente com a imagem do Cristo, descartado, como se tivesse jogado ao lixo.
Primeiro arrepiei-me com a surpresa. Parecia um homem vivo, angustiado, pedindo
socorro. Segundo, veio uma emoção muito grande pelo que os fariseus fizeram.
Estava a imagem escondida, desprezada e presa por trás da igrejinha. Não tive ação para mais nada. Desci o serrote
revoltado com o descarte do Mestre Jesus.
Denunciei o descaso em crônica pública. Nenhuma reação. Passados tantos
e tantos anos do acontecido, acho que o Cristo Crucificado continua lá,
clamando às autoridades que não merece o que fizeram com ele.
Crucificaram o Mestre
pela segundo vez.
*Extraído
do livro inédito: “O Boi, a Bota e a Batina, História Completa de Santana do
Ipanema”.
CADEIA VELHA Clerisvaldo B. Chagas, 18/19 de agosto de 2020. Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.367 CADEIA VELHA E...
CADEIA
VELHA
Clerisvaldo
B. Chagas, 18/19 de agosto de 2020.
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.367

CADEIA VELHA ERA NO PRÉDIO CINZA VIZINHO AO AMARELO.
(FOTO: LUCIANA PONTES).
O
antigo prestígio de uma vila estava na igreja, na cadeia e na entrega de
correspondências. Eram essas três coisas que faziam com que novas construções
surgissem e expandisse a parte física e o nome da localidade. Em inúmeras
vilas, a implantação de feiras semanais, ajudaram bastante na atração rural com
seus produtores, produtos e venda. Uma
delegacia ou subdelegacia também era coisa extraordinária que dava maior
confiança ao futuro morador ainda em dúvida. Assim uma vila conseguia atrair
muita gente e formar ruas chamando a atenção de pessoas de sangue político e
desejo de mando. Estes se articulavam com políticos de cidades visando elevar
as condições da vila e comandar a nova cidade que certamente surgiria.
Muitos
outros fatores contribuíram para que Santana do Ipanema passasse à condição de
cidade. Cinema, teatro, banda de música, calçamento e um comércio dinâmico que
assegurava o abastecimento da região. Assim surgiu há muito tempo a Cadeia
Velha de Santana, situada na antiga Rua do Sebo (hoje, pequeno trecho dividido
como Nilo Peçanha. Desde a sua demolição, não se vê mais vestígio que indique
ter sido ali palcos de muitas histórias escabrosas. Foi cadeia, necrotério,
delegacia, sede de batalhão de polícia e área de venda de escravos. A pequena
rua, emendada com a Antônio Tavares, modernizou seus edifícios transformando-os
em casas comerciais, porém a tradição não deixava essa parte do comércio
progredir. Sempre foi um pedaço morto, como rebarba da parte central.
A
falta de pesquisadores interessados na história da cidade e a falta de
vestígios da Cadeia Velha, emperram novas descobertas que poderiam trazer lume
sobre a trajetória da urbe. Tempos depois da sua demolição, surgiu ali um
edifício moderno que se transformou na primeira joalheria da cidade. Um lugar
completamente sofisticado, pertencente ao sr. Gumercindo (?) apelidado “Gugu”,
tio do saudoso professor Ernande Brandão. Espero não estar enganado.
A
Cadeia Velha foi substituída por delegacia moderna na localidade Aterro, trecho
hoje da BR-316. Página de muitas lutas em Santana do Ipanema e Sertão alagoano.
EU E O SENHOR DOS MUNDOS Clerisvaldo B. Chagas, 17 de agosto de 2020 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.366 (ILUST...
EU
E O SENHOR DOS MUNDOS
Clerisvaldo
B. Chagas, 17 de agosto de 2020
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
2.366

Ajeitei o chapéu de massa, aprumei o bornal e dei início a caminhada pela trilha. A meta era chegar ao topo do monte por veredas desconhecidas. Encontrei a primeira inclinação e subi por ela entre a vegetação de porte. Depois de muito andar subindo por aquele caminho estreito, parecia que eu estava só no meio do mundo. Eis que de repente avistei um homem alto de longos cabelos examinando os frutos de uma árvore. “Que bom! Alguém para me informar”. Fiz o cumprimento de praxe e o homem me perguntou: “Está indo para onde meu jovem?” Respondi: “Estou fazendo caminhada com destino ao topo, mas não sei se é por aqui. Pode me indicar o caminho? Quem é o senhor?”. Eu achava que fosse um morador da serra, mas ele me respondeu: “Jesus, eu sou o caminho, a verdade e a vida”. Um forte arrepio doce percorreu todo o meu corpo, da cabeça aos pés.
“Venha,
dê-me sua mão”, disse ele. Dei a mão automaticamente como se tivesse
hipnotizado. Não consegui mais dizer nada. Senti me descolar do chão, flutuar
com ele e subir a trilha como pássaro voando baixo, sem parar, até o cume. Lá
em cima ele largou minha mão e disse: “Contemple quanto é belo esse panorama
que você queria ver”. Ainda sem conseguir falar, escutei sua palestra sobre
outras coisas até que ele disse: “Quero que você faça um cruzeiro de madeira e
o coloque exatamente aqui”. Deu-me a metragem da cruz, disse o tipo da madeira,
a profundidade do buraco e a metragem que deveria ficar soterrada. Após, mandou
preencher o buraco com concreto e deixar um entorno na cruz para visitantes
cansados descansarem da subida.
Depois,
o Senhor indagou se eu tinha dúvidas. Respondi que não. E Ele: “Você me
promete?” Falei pela segunda vez: “Mestre, prometer eu não prometo, prometo
apenas tentar”. Ele nada respondeu, apenas disse que quando tudo estivesse como
ele pediu, voltaria para um exame. Despediu-se e sumiu da minha vista. Eu me belisquei por todo canto para ver se era
verdade tudo aquilo. Desci a serra trêmulo de medo e de ansiedade.
Providenciei
tudo que ele me pediu, com um carpinteiro. Contratei pessoas para transportar o
cruzeiro de madeira de lei. O braço da cruz foi pregado lá mesmo no topo. Após
tudo terminado, voltei lá sozinho, uma semana depois. Quando cheguei ao topo, o
mestre já estava lá, sentado e contemplando a paisagem. Ele deu-se por
satisfeito e eu apenas perguntei: “Senhor, eu posso plantar um pé de rosas
vermelhas no pé da cruz?” Ele disse: claro que pode, mas medindo cinco metros à
direita”. Eu havia levado a muda e fiz como ele mandou. Daquele dia em diante
nunca mais fui o mesmo na minha vida.

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.