SOBRE MIM

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.
RAINHA E PRINCESA Clerisvaldo B, Chagas, 5 de abril de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.504 Vamos esclarecer ...
RAINHA
E PRINCESA
Clerisvaldo B, Chagas, 5 de abril de 2021
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.504
Vamos esclarecer
geograficamente sobre Palmeira dos Índios e Santana do Ipanema. Uma se diz
Princesa e a outra Rainha do Sertão, onde está o erro?
Cognomes de pessoas e
lugares são coisas tão antigas que suas origens se perderam no tempo.
Apelida-se tanto para denegrir quanto para elogiar. Temos uma cidade vizinha a
nossa no sertão de Alagoas que todos os elementos masculinos têm apelidos, até
o prefeito. Temos ainda no estado vário cognomes e citamos como exemplo:
“Maceió, Cidade Sorriso”. Maceió, Paraíso das Águas” e assim por diante. E
quando se trata de Palmeira dos Índios, a tradição fala: “Palmeira, a Princesa
do Sertão” e Santana do Ipanema, “A Rainha do Sertão”. Falaríamos dessa maneira
uma princesa e uma rainha?
Vejamos sobre Santana
do Ipanema. Foi cognominada primeiro “Terra dos carros de boi. Em seguida,
“Rainha do Sertão” e agora “Capital do Sertão”. Todos justificados: o carro de
boi nunca deixou de existir em grande quantidade. Rainha, pela beleza,
principalmente nos dias atuais. E no caso da Capital, é por funcionar no sertão
e alto sertão como a mais importante aglutinadora da área. Correta a sua
posição que é no Médio Sertão Alagoano.
Vejamos agora Palmeira
dos Índios: “Princesa do Sertão”. Princesa deve ter sido por sua merecida
beleza. Sertão, creio basear-se ainda numa Geografia que não estava bem
definida na época do epíteto. Não existe
demarcação de fronteira natural exata. Mas, em nosso estado, como dizia o
professor Ivan Fernandes Lima com sua respeitada Geografia de Alagoas (1965) o
Sertão alagoano – para quem trafega pela BR-316, vindo de Maceió para o extremo
Oeste – a grosso modo se inicia no rio Traipu. Portanto, Palmeira dos Índios é agreste
bem como Estrela de Alagoas, sua vizinha, que está situada quase no limiar da fronteira,
o que eu não diria sobre Minador do Negrão que tem características totais do
semiárido.
Visto o que foi
apresentado acima, seria correto: Palmeira dos Índios, a “Princesa do Agreste”.
Aliás, a segunda cidade em importância nessa faixa classificatória, perdendo
apenas para Arapiraca, segunda capital de Alagoas com apelido ou sem apelido. Caso você venha de Maceió para o extremo
Oeste via Arapiraca, a primeira cidade sertaneja será Jaramataia, pertinho do
limiar do agreste.
Esclarecida a dúvida,
cada um coloca o cognome que quiser, tendo um respaldo seguro, melhor ainda.
“Princesa do Agreste”, “Rainha
do Sertão”, duas tradicionais e gigantes cidades que honram e orgulham nossa
gente.
TERRAS DE JARAMATAIA
VISTAS DA AL-220. BARREIRO EM CASA DE FAZENDA. AO FUNDO, SILHUETA DO SERROTE DO
JAPÃO (FOTO: ÂNGELO RODRIGUES).
PADRE CIRILO, MAJOR E SACRISTÃO Clerisvaldo B. Chagas, 2 de abril de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.503 E...
PADRE CIRILO, MAJOR E SACRISTÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 2 de abril de 2021
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
2.503
Em Santana do Ipanema,
após as procissões de Semana Santa, as imagens que arrastavam multidões pelas
ruas e avenidas, eram retiradas de cena e guardadas superficialmente no Salão
Paroquial. Ali no salão contíguo à Matriz, ficavam por vários dias até que eram
levadas para lugares definitivos. O preto velho, vulgo Major, maior sineiro de
todos os tempos da Matriz de Senhora Santana, tomava conta das imagens, pois
também era uma das pessoas zeladoras da igreja. O sacristão Jaime, por ser de
baixa estatura, também era chamado de Jaiminho, ajudava no recolhimento das
imagens junto ao Major. Aliás, o sacristão Jaime preenchia toda a trajetória do
padre Luís Cirilo Silva. Quando o padre e o sacristão chegavam ao povoado
Pedrão, em Olho d’Água das Flores, para celebrações de missa, casamentos e
batizados, lá estava eu na casa dos meus tios Manoel Anastácio e Delídia, para
hospedá-los e providenciar todas as mordomias possíveis. Ambos chegavam a
cavalo e eu ficava boquiaberto vendo ali a quatro léguas (24 Km) da minha
cidade, o nosso pároco e o sacristão.
Mas retornando à
Matriz, quando a igreja estava vazia ou quase, porém aberta, eu aproveitava
para percorrê-la com a complacência do bondoso zelador Major. Fazia uma
incursão pelo salão paroquial, entrando por trás ou pela porta lateral que se
comunicava com a nave. Jaime era mais ríspido, todavia, o Major – em avançada
idade, já – era doce, calado, tolerante e paciente com as crianças como eu.
Nunca esqueci do impacto dentro do silencioso salão quando me deparei com a
imagem do Senhor Morto e Nossa Senhora, ainda no andor. Pareciam vivos e, como
foi uma visão inesperada, senti todo o peso da surpresa e uma atmosfera
espiritual muito forte, tanto que abandonei o salão imediatamente.
E é assim que nesse
tempo de pandemia sem sino, sem matraca, com a saudade do padre Cirilo, do
sacristão Jaime e do sineiro Major, vamos recordando momentos felizes do livro
dos tempos no meu sertão nordestino na religiosidade da minha querida Santana
do Ipanema.
A propósito, o padre
Luís Cirilo era natural da serra da Mandioca, município de Palmeira dos Índios,
ainda de descendência holandesa. O Major, era filho do povoado quilombola
Tapera do Jorge (Fui saber depois de adulto), município de Poço das
Trincheiras.
Reviver é viver. Hoje é
Sexta-Feira Santa. Silenciosa Sexta-Feira Santa!...
CENTRO COMERCIAL DE
SANTANA DO IPANEMA, VISTO DA IGREJA MATRIZ. (FOTO: ACERVO B. CHAGAS).
EU NO SAGRADA FAMÍLIA Clerisvaldo B. Chaga, 1 de abril de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.502 Quando descobri ...
EU
NO SAGRADA FAMÍLIA
Clerisvaldo
B. Chaga, 1 de abril de 2021
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.502
Quando descobri aquele casarão abandonado na Rua Martins Vieira, tive desejo de conhecê-lo por dentro. A enorme obra inacabada era composta de inúmeros vãos, mas só havia mesmo o telhado e as paredes caídas de branco. Um dos compartimentos era somente uma grande vala de barro aguardando um dia ser aterrada para o nível correto do piso. Para mim, um pequeno abismo. Pessoas falavam que obra era mal-assombrada. Passei a brincar ali dentro. Vinha da Rua Antônio Tavares, cruzava a Rua Nova, pegava um matagal e chegava pelos fundos no prédio do mal assombro. Eu tinha medo por um lado, mas o desejo de brincar ali dentro era maior e nunca vi nada que me botasse para correr. Às vezes saía do Grupo Escolar Padre Francisco Correia e seguia para casa passando por dentro do edifício sinistro.
Eu não sabia, mas Deus
me preparava para ser no futuro, professor de Geografia do Casarão temido. Já
adulto e lecionando Ciências no Ginásio Santana, via aquele prédio, antes ao
abandono, transformar-se em Colégio com o nome de Instituto Sagrada Família,
cuja direção pertencia as irmãs holandesas (freiras) Leôncia e Letícia.
Convidado pelas irmãs, passei um tempo feliz naquele estabelecimento, assim
como também amava o Ginásio Santana.
Lembro-me que foi o
professor Alberto Nepomuceno Agra que me falou que a outrora obra inacabada,
pertencera ao cidadão que fora interventor de Santana nos anos trinta e passara
a ser agiota, Frederico Rocha. E que Frederico emperrava a construção para
especular. Por isso dera certo trabalho quando pessoas da sociedade foram
tentar adquirir a obra inacabada para transformá-la no Colégio Sagrada Família,
naturalmente, com verbas holandesas.
Para não ferir a
memória de ninguém, não falarei aqui o motivo do fechamento das portas do
Colégio. Ainda hoje conservo uma placa de estojo em homenagens “aos relevantes
serviços prestados” naquele estabelecimento, diz a placa. Atualmente o edifício
vai de uma rua a outra e funciona também como escola municipal. Aquelas árvores
plantadas no pátio com bancos de granito rodeando-as, foi ideia minha.
Recordo-me disso quando passo por ali em tempos eleitorais, pois funciona com
várias sessões para os votantes. Ali também passei cerca de trinta anos sendo
mesário na sessão 115. Nas últimas vezes em que fui votar, por coincidência, o
presidente da mesa era um ex-aluno, funcionário do Banco do Nordeste.
Está aí a história para
os pesquisadores santanenses sobre a origem de mais um dos admiráveis casarões
de Santana do Ipanema, uma das 10 escolas desse território onde lecionei, do
total de 12 com outros municípios.
Continuo amparado pela
SAGRADA FAMÍLIA. AMÉM.
PRÉDIO QUE PERTENCERA AO
SAGRADA FAMÍLIA, FUNDADO EM 1976. (FOTO
EM 2013: LIVRO 230/ACERVO B. CHAGAS).

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.