SOBRE MIM

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.
CARDINHO SANTO Clerisvaldo B. Chagas, 30 de abril de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica:2.523 Saí caminhando pel...
CARDINHO SANTO
Clerisvaldo B. Chagas, 30 de abril de 2021
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:2.523
Saí caminhando pela
zona rural, passei pelo sítio Barroso, cheguei ao sítio Água Fria e desci por
uma estrada carroçável rumo ao rio Ipanema. Adiante a estrada se bifurcava e se
unia mais à frente, deixando um capão de mato entre as duas trilhas. Foi aí que
olhei para dentro da capoeira e levei um susto com a imagem de Nossa Senhora em
cima de uma pedra de bom tamanho. Parecia escondida e colada diretamente na
pedra. Ao me recompor da surpresa, imaginei que teria sido algum tipo de
pagamento de promessa por devoto do lugar. É assim com quem anda pelas trilhas
sertanejas com os mais diferentes objetivos. Imagine, uma imagem de uma santa
colada numa pedra dentro duma capoeira! Sim uma surpresa grande, mas também uma
gratificante surpresa.
Ainda em trilhas de
poeira cinza, daquela trazida pelo remanso do rio, tive outra surpresa. Desta feita nas imediações do sítio chamado
Poço Grande. Caminhando e observando a trilha com o cuidado em possíveis
cobras, ao levantar a vista, vejo uma pequena construção verde em cima de uma
pedra e se confundindo com a vegetação também muito verde. Era uma espécie de
oratório com gradeado, apresentando a imagem do padre Cícero Romão. Fui
examiná-lo de perto, segui pela trilha, mas voltei lá outro dia, exclusivamente
para fotografar. Segui para tentar ver a cara de um boi que muita gente afirma
observar num grande lajeiro formado no Poço Grande também chamado Poço do Boi,
por esse motivo. Não consegui distinguir nos desenhos da pedra a cara do ruminante.
Ipanema seco, grande
jardim a céu aberto. Nova surpresa que me deixou eufórico. Descobri em um monte
de areia num canto de cerca, a mimosa planta Cardinho Santo. É pequena,
azulada, folhas recortadas e florzinha amarela. Uma raridade! Era um dos
principais ingredientes para fazer garrafadas para pessoas com asma. A Senhora,
do sítio Pé da Serra, que fazia o remédio, dizia que só poderia fazer a
garrafada com o Cardinho. No rio Ipanema tinha a época de encontrá-lo e a de
não o encontrar, daí a minha euforia. Fotografei o espinheiro para adicioná-lo
a um Slide de plantas medicinais do rio Ipanema, a ser apresentado na Escola Helena
Braga.
Atualmente está muito
perigoso andar e pesquisar individualmente.
Missão cumprida, é
ajeitar o embornal, aprumar o chapéu e retornar a casa que ninguém é de ferro.
CARDINHO SANTO (ADOBE
STOCK).
SANTANA – ÁGUAS BELAS Clerisvaldo B. Chagas, 28 de abril de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.522 Quando o int...
SANTANA – ÁGUAS BELAS
Clerisvaldo B. Chagas, 28 de abril de 2021
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.522
Quando o interventor
Pedro Gaia, vindo de Palmeira dos Índios, assumiu a prefeitura de Santana do
Ipanema, aconteceu no mesmo dia a morte de Lampião e Maria Bonita. A gestão de
Pedro Gaia foi curta, mas profícua. Entre outras coisas reformou a prédio da
prefeitura e que só foi reformada novamente no governo Isnaldo Bulhões, década
de 80. Porém, importante mesmo foi a abertura de uma estrada que ligou Santana
à cidade pernambucana e fronteiriça de Águas Belas. Um verdadeiro marco
econômico, turístico e fraterno entre esses dois núcleos que sempre se
respeitaram e se confraternizaram desde os primórdios. Normalmente para se
chegar a Águas Belas, o santanense vai pela BR-316, até o entroncamento Carié,
município de Canapi e dali continuará seguindo direto a Pernambuco. Arrodeio
enorme.
Santana – Água Belas
pelo atalho de Pedro Gaia – ainda estrada de terra – é apenas um pulo. A
pavimentação asfáltica teria duas opções em Alagoas, uma diretamente pelo
povoado São Félix e sítios com Baixio, Imburana do Bicho, Camonga, Gravatá,
Poço d’’Anta e vários outros antes e depois de São Félix. A segunda opção teria
no roteiro, os sítios Barroso, Água Fria, Salgado, Camoxinga dos Teodósio,
Pinhãozeiro e Malembá, puxando um ramal para o povoado São Félix. Esta opção
pega boa parte da região serrana de Santana do Ipanema.
O integração em
asfalto, já foi cogitada antes, ficou, porém, no campo das ideias. Naturalmente
precisaria interesse dos dois prefeitos em questão, além do apoio dos
governadores dos estados envolvidos. Um novo leque de progresso se estenderia
na região beneficiando os dois municípios em todas as áreas: Economia,
turismos, saúde, educação, Comércio e prestação de serviços em geral. O
movimento de Águas Belas é para a distante Garanhuns e que poderia reparti-lo
com a praça de Santana do Ipanema. O futebol entre os dois núcleos, deixou as
portas escancaradas para mais esse futuro intercâmbio que se não acontecer hoje
será amanhã. A propósito, ambas às
cidades são banhadas pelo rio Ipanema e sempre se ouviu dizer no passado:
“Águas Belas e Santana são irmãs”.
Talvez esteja faltando
apenas um cacique do lado de cá e um pajé do lado de lá com a boa-vontade no
meio.
PREFEITURA DE SANTANA,
REFORMADA EM 1986 (FOTO: B. CHAGAS/LIVRO 230).
MULUNGU Clerisvaldo B. Chagas, 28 de abril de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.521 Cheguei bem perto do jogo,...
MULUNGU
Clerisvaldo
B. Chagas, 28 de abril de 2021
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.521
Cheguei bem perto do
jogo, mas nada entendia de lances do tabuleiro. Apenas ficava de boca aberta
contemplando aquelas sementes grandes, vermelhas vivas, envernizadas pela
Natureza. Os jogos da tarde aconteciam na calçada, defronte a entrada do Hotel
Central, bem no centro do Comércio. Dizia o ditado sertanejo que “jogo de velho
´é gamão”. E estavam sempre ali o dono de farmácia Cariolando Amaral, o Seu
Carola (ô) e seus parceiros diante do tabuleiro de madeira, copinhos de sola,
sementes de mulungu, aproveitando a sombra do “sobrado da esquina”. Carola, o
único homem de Santana que usava cotidianamente gravata borboleta,
comercializava no “prédio do meio da rua”, parecia um galego alemão muito
sisudo. Era atração na sua farmácia, o busto de um negro lustroso e fortão,
envergando uma barra de aço. Representava o efeito do remédio da propaganda.
Quando foi demolido o “prédio do meio da rua”, Cariolando passou a negociar em
um dos compartimentos do térreo do “casarão da esquina”, mas Seu Carola
continuou desafiando concorrentes do gamão.
Aquele homem tão sério
se esbaldava nos carnavais de Santana, trocando incrivelmente o tabuleiro pelo
reino de Momo.
Catávamos aquelas
sementes maravilhosas no mato, quando as árvores mulungus despejavam-nas no
solo colorindo a poeira cinza das capoeiras. Para que servia a semente além do
jogo de gamão? Não sabíamos, apenas brincávamos com elas aproveitando o
capricho da flora sertaneja.
A árvore mulungu (Erythrina mulungu) pode
atingir até vinte metros de altura, é medicinal, usada como calmante. Sua
madeira é muito leve e boia na água. Seus pedaços trazidos pelas cheias,
serviam para o aprendizado da natação no rio Ipanema. A madeira ficava
enganchada nas pedras, sendo aproveitada pelos banhistas.
Infelizmente muitas
dessas árvores tão simpáticas, ainda são vítimas dos machados clandestinos, com
punições zero.
As sementes de mulungu,
pela beleza continuam encantando meninos e adultos.
Após Cariolando Amaral,
desapareceram definitivamente os jogos de gamão em nosso município.
A diversão dos idosos
agora é um celular que une os estranhos de longe e separa a família de perto.
TÍPICO MULUNGU
SERTANEJO (CRÉDITO: PINTEREST).

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.