SOBRE MIM

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.
LENDA NO SERTÃO Clerisvaldo B. Chagas, 4 de maio de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.525 Enquanto a pol...
LENDA
NO SERTÃO
Clerisvaldo
B. Chagas, 4 de maio de 2021
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.525
Enquanto a polícia faz
a Operação Curupira, lembramos da Caipora sertaneja. É isso mesmo, Caipora e
não Caapora, cantada e recantada por roceiros de todo o nosso país,
principalmente pelos caçadores. A lenda da Caipora é sempre ligada à do
Curupira, ambas com vasta literatura no Brasil. Os mais velhos sempre afirmaram
que a caipora existe, sendo um ser encantado que tem como missão proteger os
animais selvagens que habitam as matas. Sua aparência aos olhos humanos,
depende da imaginação regional, mas a essência é sempre a mesma em todos os
lugares: Caipora é um espírito protetor dos animais da floresta. No Sertão,
suas ações são contadas em rodas de pessoas que ficam de queixo caído, quando
narradas por caçadores que viveram a experiência inusitada.
Ao entrar na mata sem
permissão, o caçador vê seus cães latindo, correndo e gritando apavorados pelo
mato: caim, caim, caim... Estão sendo surrados impiedosamente pela Caipora. O
caçador trata logo de se retirar. Outras vezes o invasor não consegue localizar
uma caça sequer, parecendo que todos os animais estão rigorosamente escondidos.
Acontece também de o caçador presenciar coisas estranhas e não conseguir matar
nenhum animal além de uma cota mínima. Nunca ouvimos relatos que alguém tenha
visto de frente a Caipora para descrever a sua aparência, todavia, sua presença
é muita sentida na pele.
Mas, como qualquer
mortal, os encantados também gostam de um agrado, segundo fala a tradição
sertaneja. O caçador experiente adentra à mata levando fumo de rolo no bornal.
Chega a uma árvore boa de entrega, daquelas que se bifurcam no tronco, faz a
sua oferenda a Caipora e pede licença para caçar. Às vezes também leva sal.
Mas, mesmo assim ainda existe a dúvida se a Caipora aceita ou não a oferenda e
se consente sua caçada. O caçador sabe se ela aceitou ou não.
Histórias de Caiporas
sempre estiveram presentes no vale do Rio Ipanema e nas caatingas de relevo
plano da nossa terra.
Como não sentir orgulho
em ser nordestino!
CAIPORAS E CÃES (Crédito: pt.wikipédia.org)
RUA DA PRAIA, SUA TRAJETÓRIA Clerisvaldo B. Chagas, 3 de maio de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.524 Parec...
RUA
DA PRAIA, SUA TRAJETÓRIA
Clerisvaldo
B. Chagas, 3 de maio de 2021
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
2.524
Parece estranho uma rua
do Sertão com nome Rua da Praia. Mas ela existe sim, na cidade de Santana do
Ipanema. Vamos aos primórdios. Com a grande cheia do rio Ipanema, em 1941, e
outras menores, formou-se à sua margem direita, defronte a famosa Pedra do Sapo,
um banco de areia grossa com as dimensões de um campo de futebol. Era ali ao
lado da passagem molhada, cuja estrada leva a Olho d’Água das Flores. Anos e
anos a fio, não nascia sequer um pé de mato, devido a salinidade. Com o tempo algum esperto resolveu cercar o
areal com fios de arame farpado. Muito tempo depois esse terreno pertencente ao
leito do rio Ipanema, teve como dono o, então, senhor conhecido como Otávio
Marchante, considerado torcedor número 1 do Ipanema futebol Clube.
O cidadão apontado como
Seu Euclides, morava numa casinha entre o areal do rio e um longo túnel de
aveloz que se iniciava no prédio da antiga Perfuratriz (já falamos sobre ela) e
seguia até o primeiro beco que descia da Rua São Pedro, chamado Beco de Seu
Ermírio. Pois bem, Seu Euclides comprou o areal, plantou algumas fruteiras que
vingaram e cresceram. Seu Euclides, então, resolveu construir várias casinhas
ao longo do antigo túnel ou para doar ou para alugar à pobreza, procedeu como o
Senhor José Quirino na rua que passou a se chamar Prof. Enéas, mas ainda hoje
conhecida como Rua de Zé Quirino. Pois bem, a ruazinha foi sendo povoada e
crescendo com suas casas infinitamente pequenas. O próprio Seu Euclides batizou
sua obra como Rua da Praia. A denominação continua até o presente momento.
Com o tempo, formou-se
ali uma associação com sede de primeiro andar, igreja dedicada a N.S. de Fátima
e até um campinho de futebol sofisticado, construído por um dos filhos do Seu
Euclides, Luiz Euclides. O campo, vizinho ao antigo areal, ficou em lugar baixo
também no leito do rio. As cheias normais o atingem. O certo é que as últimas cheias do rio
Ipanema, inundou a Rua da Praia, assim como outras que estavam no leito do rio
ou no seu limiar. Grande foi o estrago. Dizem que grande parte da rua já não é
mais habitada. Porém, o objetivo hoje, foi esclarecer o histórico da
denominação acima.
Praia: borda marinha.
Rua da Praia (Santana):
rua margem do rio Ipanema. Praia fluvial.
Ipanema enraivecido é
bicho bruto.
RUA DA PRAIA E
IMEDIAÇÕES APÓS A CHEIA DE MARÇO (CRÉDITO: MALTANET)
CARDINHO SANTO Clerisvaldo B. Chagas, 30 de abril de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica:2.523 Saí caminhando pel...
CARDINHO SANTO
Clerisvaldo B. Chagas, 30 de abril de 2021
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:2.523
Saí caminhando pela
zona rural, passei pelo sítio Barroso, cheguei ao sítio Água Fria e desci por
uma estrada carroçável rumo ao rio Ipanema. Adiante a estrada se bifurcava e se
unia mais à frente, deixando um capão de mato entre as duas trilhas. Foi aí que
olhei para dentro da capoeira e levei um susto com a imagem de Nossa Senhora em
cima de uma pedra de bom tamanho. Parecia escondida e colada diretamente na
pedra. Ao me recompor da surpresa, imaginei que teria sido algum tipo de
pagamento de promessa por devoto do lugar. É assim com quem anda pelas trilhas
sertanejas com os mais diferentes objetivos. Imagine, uma imagem de uma santa
colada numa pedra dentro duma capoeira! Sim uma surpresa grande, mas também uma
gratificante surpresa.
Ainda em trilhas de
poeira cinza, daquela trazida pelo remanso do rio, tive outra surpresa. Desta feita nas imediações do sítio chamado
Poço Grande. Caminhando e observando a trilha com o cuidado em possíveis
cobras, ao levantar a vista, vejo uma pequena construção verde em cima de uma
pedra e se confundindo com a vegetação também muito verde. Era uma espécie de
oratório com gradeado, apresentando a imagem do padre Cícero Romão. Fui
examiná-lo de perto, segui pela trilha, mas voltei lá outro dia, exclusivamente
para fotografar. Segui para tentar ver a cara de um boi que muita gente afirma
observar num grande lajeiro formado no Poço Grande também chamado Poço do Boi,
por esse motivo. Não consegui distinguir nos desenhos da pedra a cara do ruminante.
Ipanema seco, grande
jardim a céu aberto. Nova surpresa que me deixou eufórico. Descobri em um monte
de areia num canto de cerca, a mimosa planta Cardinho Santo. É pequena,
azulada, folhas recortadas e florzinha amarela. Uma raridade! Era um dos
principais ingredientes para fazer garrafadas para pessoas com asma. A Senhora,
do sítio Pé da Serra, que fazia o remédio, dizia que só poderia fazer a
garrafada com o Cardinho. No rio Ipanema tinha a época de encontrá-lo e a de
não o encontrar, daí a minha euforia. Fotografei o espinheiro para adicioná-lo
a um Slide de plantas medicinais do rio Ipanema, a ser apresentado na Escola Helena
Braga.
Atualmente está muito
perigoso andar e pesquisar individualmente.
Missão cumprida, é
ajeitar o embornal, aprumar o chapéu e retornar a casa que ninguém é de ferro.
CARDINHO SANTO (ADOBE
STOCK).

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.