SOBRE MIM

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.
AIVECA Clerisvaldo B. Chagas, 13 de maio de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.532 O amanhecer em Santana do ...
AIVECA
Clerisvaldo
B. Chagas, 13 de maio de 2021
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.532
O amanhecer em Santana
do Ipanema e em todo Sertão alagoano, ultimamente tem mostrado umidade de
inverno. Dias quentes, nublados, madrugadas frias, quase sempre com amostras de
chuvas de pouca monta. A Natureza anima-se bastante. Entre quatro horas da
madrugada até o amanhecer espanta-boiadas fazem alaridos sobrevoando rio,
riachos e açudes. Formigas de asas chegam à noite pela cidade anunciando a mudança.
Ou pela Covid ou pelo tempo, ruas de bairros ficam completamente desertas e não
se vê nem gatos circulando para suas caçadas costumeiras.
Várias prefeituras
sertanejas vão ajudando o homem do campo com tratores para aração de terras. Agricultor
pobre não pode comprar máquina possante e decisiva. Ara sua terra à base de
arado puxado por junta de bois, de cavalos, jumentos, numa dificuldade grande
abrindo mão da velocidade que o tempo exige.
O primeiro arado do
sertão alagoano, foi o arado de aiveca, introduzido na lavoura pelo, então Dr.
Otávio Cabral, agrônomo do governo estadual na década de 20 que ainda trouxe
várias outras novidades para o campo, inclusive a cerca de arame farpado e a
criação da sementeira, estação experimental no sítio Curral do Meio II, em
Santana do Ipanema. Mais de cem cavaleiros de Pernambuco vieram observar de
perto as novidades rurais trazidas pelo homem que modernizou a agricultura
regional. No caso, o arado de aiveca, foi a grande surpresa daquele momento.
Quanto a denominação, vejamos o “Pai Véi”: Cada uma das duas
peças do arado que alargam o sulco, afastando e acamando a terra dos lados.
Não vemos em nossa região aquelas grandes máquinas agrícolas mais
modernas do mundo, mas para a agricultura de roça, o trator básico é sempre bem-vindo
e, ofertado gratuitamente pelas prefeituras, melhor ainda. Dizia Padre Cícero
ao sertanejo que perguntava quando deveria plantar: “Choveu, plantou”. É assim
que estão fazendo os sertanejos alagoanos. O tempo estar parecendo inverno e a
nossa mesa precisa de feijão-de corda e de arranca, milho, macaxeira, abóbora,
melancia, fava e muitas outras culturas cujos produtos vão ser encontrados na
feira camponesa, ao contrário da Agricultura de Plantation que exporta seus
produtos. Com fé em Deus vamos aguardar para breve a fartura no campo.
E que o arado de aiveca seja um grande inspirador na produção dos campos
nordestinos.
ARADO NO MUSEU DARRAS NOYA, (FOTO: B. CHAGAS).
A AVENIDA DAS ELITES Clerisvaldo B. Chagas, 12 de maio de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.531 A Avenida...
A
AVENIDA DAS ELITES
Clerisvaldo
B. Chagas, 12 de maio de 2021
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.531
Era ali o corredor
entre o Centro Comercial e a rodagem rumo ao alto Sertão e à capital Maceió. A
avenida era uma espécie de galeria para os grandes espetáculos: desfilavam os
primeiros automóveis, as procissões da Padroeira, as paradas escolares, as
bandas de música... Via em primeira mão as novidades que chegavam da capital.
Ali moravam o padre, o prefeito, o comandante, o alto fazendeiro, o médico, o
advogado, o comerciante, o juiz, o promotor... Além do funcionamento de Fórum,
cinema, prefeitura e cartório. As residências eram compridas e seus quintais
com portões, atingiam as ruas dos fundos.
Santana progrediu, os
cabeças das elites da Avenida, faleceram gradativamente e as residências, pouco
a pouco foi sendo vendidas pelos descendentes e transformadas em comércio e
prestadoras de serviços. Com as sucessivas vendas de terras do seu entorno,
formaram-se muitos conjuntos residenciais, condomínios... Que muito ajudaram a
recolher os remanescentes da via antes cobiçada. Fica a Avenida Coronel Lucena
cada vez mais bonita e brilhante com tantas lojas modernas de fachadas e
interiores convidativos.
O movimento na cidade triplicou
e a avenida passou a funcionar com mão única. Mesmo assim, o trânsito,
principalmente, pelas manhãs, mostra toda a dinamicidade de uma cidade polo.
Está para ser inaugurada mais uma clínica de alto nível, justamente defronte ao
Banco do Brasil. Embora várias ruas tenham movimentos impressionantes de
automóveis e pedestres, a Avenida Coronel Lucena não deixa de ser a grande
reveladora das novidades, transformando-se De Crisálida em Borboleta. Tiro o
chapéu.
TRECHOS DIFERENTES E
DOIS MOMENTOS DA AVENIDA (FOTOS: B. CHAGAS).
O SOLTEIRÃO DA VOLTA Clerisvaldo B. Chagas, 11 de maio de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.530 O rio Ipanema ...
O
SOLTEIRÃO DA VOLTA
Clerisvaldo
B. Chagas, 11 de maio de 2021
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.530
O rio Ipanema entra na
cidade de Santana pela periferia onde foi construída uma barragem, hoje
assoreada. Ao passar pela barragem em cerca de 800 metros, faz uma volta e
desce ruma ao São Francisco. Essa curva do rio sempre foi chamada “Volta do
Ipanema” e que depois ficou apenas “Volta”. Atualmente a referência está em
desuso e a nova geração talvez nem saiba disso. Pois bem, um dos escritores
santanenses da família Monteiro, escreveu que visitou a Volta, quando rapaz e
deparou-se com uma casinha solitária naquele lugar, descobrindo que era
habitada por um homem solteiro chamado Satuba. Travara diálogo com ele e ficara
sabendo sua vida.
Satuba contou que amava
muito a uma senhorita, mas por não ser correspondido, resolvera trocar o amor à
jovem pelo amor à Natureza. Viera morar ali na Volta onde era muito feliz.
Tinha o Sol da manhã, o perfume das flores, o canto dos pássaros e a paisagem
toda que o cercava. O futuro escritor fora embora pensando no caso de Satuba,
mas não fala mais sobre ele em seus escritos. Embora o caso tenha acontecidos
há muitas décadas, também fiquei curioso com a referência “Volta” naquelas
páginas. Conhecendo bem o rio Ipanema, resolvi visitar a Volta dos tempos
passados.
Manhã convidativa, saí
pela Rua Nair Amaral, Bairro São José, chegando até a parte final da via com
acesso ao rio. Contemplei o longo areal do rio seco e iniciei a travessia
contemplando as craibeira novas que nasceram nas rachaduras das pedras para se
tornarem as rainhas do Ipanema. Craibeira, árvore símbolo de Alagoas. Na “Volta”,
não encontrei vestígio algum da casa do personagem de Monteiro. Havia apenas
uma residência nova de alpendre, cujo fazendeiro aproveitara a foz do riacho
Salobinho, afluente do Ipanema, onde fizera barragem, desviando a foz do
riacho. Como era bem perto do Matadouro dei um pulinho até ali. Matadouro
fechado não vi pelos arredores “nem um pé de pessoa” com diz o sertanejo. Sim,
os pássaros estavam ali, o Sol, o mundo, mato perfumado, paisagem bucólica e
bela, conferiam com as desculpas do solteiro romântico do escritor.
Não encontrei vestígios
da história, mas diante do cenário ribeirinho e da ausência de humanos,
compreendi perfeitamente a solidão de Satuba, o solteirão da Volta.
SEGUI PELA RUA NAIR
AMARAL (FOTO: B. CHAGAS).

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.