IGREJA DE SÃO JOÃO Clerisvaldo B. Chagas, 25 de agosto de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.577 Estamos dentro dos...

 

IGREJA DE SÃO JOÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 25 de agosto de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.577


Estamos dentro dos 104 anos em que foi construída a igreja de São João no subúrbio santanense Bebedouro. Com a devastação humana da gripe espanhola no mundo e, particularmente no Brasil, o vendedor de sola da localidade, também festeiro da região, senhor João Lourenço, construiu a igreja, quase defronte a sua casa, dedicando-a a São João como motivo de promessa contra a expansão da gripe espanhola. As mulheres da casa, artesãs de chapéus de couro de bode, uniram-se na construção do templo. Após a construção, procissões saíam daquela igreja em direção ao Centro da cidade conduzindo velas e pedidos a São João.

Tudo indica que após essa fase, a igreja de São João pareceu ficar esquecida

No início do século XXI, descobri a igreja abandonada já em ruínas, mas com portas cerradas e a cruz de madeira do átrio somente com o braço vertical. Fotografei. Ofertei a foto inédita ao professor Alberto Nepomuceno Agra que estava montando um museu particular no primeiro andar da sua farmácia Vera Cruz. Daí para cá outras pessoas também fotografaram as ruínas.

João Lourenço, religioso e promotor de festas na localidade, veio a falecer na década de 40, picado por uma jiboia conduzida por um soldado bêbado e surtado, na feira de Santana. Jiboia essa retirada às escondidas do criatório de animais exóticos, do quintal do coronel Lucena Maranhão pelo soldado Monteiro. Assombrando a população da feira com a cobra sobre os ombros, o soldado entrou até na igreja Matriz de Senhora Santana, por uma porta lateral e saindo na outra. No meio do povo feirante estava João Lourenço. Ao passar pelo cidadão, o policial surtado e bêbado, jogou o ofídio nas partes de Lourenço. A jiboia não tem veneno, mas desenvolveu um mal que levou o homem à morte. (Oscar Silva-Fruta de Palma).

Ninguém havia se interessado em recuperar a igreja de São João que fora profanada por um político e advogado santanense, diziam os que à igreja se referiam.

Até mesmo as ruínas poderiam ser aproveitadas para o turismo, mas...

FOTO (B. CHAGAS).

  CALDO-DE-FEIJÃO Clerisvaldo B. Chagas, 24 de agosto de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.576   O arrulhar tris...

 

CALDO-DE-FEIJÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 24 de agosto de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.576

 

O arrulhar tristonho, saudoso e agradável das pombas sertanejas, também acontece na cidade. O canto que se houve às manhãs na minha rua, junta-se a outros ruídos do despertar matutino do trecho. É nosso o canto da rolinha branca no médio sertão alagoano e rara a presença de outras espécies como a rolinha fogo-pagou, caldo-de-feijão e azul, privilégio do sertão mais distante. Pois, além da raridade da rolinha caldo-de-feijão nessa área, sua presença nas ruas do Bairro São José, é uma grata surpresa para a vista e para os ouvidos. As pombas arrulham pelos arredores, surgem como casais na fiação da rua, defronte a minha casa, mergulham para o calçamento a catar pedrinhas, cujos pardais, donos do território, já se acostumaram à presença das rolinhas caldo-de-feijão e não mais as agridem.

Eu fico de boca aberta contemplando as rolinhas caldo-de-feijão diante da natureza. Dóceis, mas também cismadas, não demoram muito cantando nos fios e nem catando pedrinhas. Mas a presença dessa ave é o suficiente para limpar os olhos e ornar as acácias e pau-brasil da rua. A belíssima cor do caldo de feijão da sua plumagem, faz um bem danado ao observador. A paisagem citadina se Santana do Ipanema se enriquece quando os bichos selvagens procuram a companhia dos humanos, atraídos pela arborização.

As rolinhas urbanizadas estão ajudando a louvar o nosso santo padroeiro São José, com seus cânticos. É que está havendo a festa do pai de Jesus aqui no bairro, na avenida principal Castelo Branco onde está armado um parque de diversões, mesmo nessa pandemia.

Não tem espingarda, não tem peteca, não tem arapuca, apenas os registros sutis das câmeras curiosas e sedentas do seu dono pela Natureza. E apesar de tantas escolas não temos notícias de nenhum pesquisador do fenômeno nas ruas da cidade.

Obrigado a Mãe Natureza em deixar mais perto de nós o som “a-uuu”, “a-uuu” e a cor original e bela da rolinha-caldo-de-feijão.

O padroeiro agradece.

  ERA ELE, JESUS Clerisvaldo B. Chagas, 23 de agosto de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano “Crônica”: – Conto: 2.575 Conduzia um...

 

ERA ELE, JESUS

Clerisvaldo B. Chagas, 23 de agosto de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

“Crônica”: – Conto: 2.575


Conduzia um cordeirinho doente na sela quando passei pela região do Gólgota. Já era tardinha e o tempo ficara negro como a noite. Ao avistar a silhueta de um crucificado no monte Calvário, dei rédeas soltas ao animal e para lá me dirigi. Diante do homem na cruz, percebendo que ele ainda não morrera fiquei contemplando por certo tempo, aquele rosto sofrido. Quem seria o crucificado? Em certo momento o cavalo espantou-se com o cheiro de um felino, jogou-me ao chão e disparou levando o cordeiro. Senti quebrar uma perna e me arrastei até aos pés da cruz, para tentar avistar o corcel do ponto mais alto. Não o avistei. Senti doer muito a perna. Imobilizado sem saber o que fazer, olhei para o alto. Uma gota de sangue e água caiu sobre minha testa. Senti esquentar o local e veio a vontade de ficar de pé. Levantei-me quase de repente sem mais nada sentir na perna. Coisas estranhas estavam acontecendo comigo.

O cavalo chegou sem que eu percebesse, tão concentrado estava tentando decifrar o momento. Roçando o focinho nas minhas costas, o animal avisava o seu retorno. Estava sem o cordeirinho. Um guarda surgiu cambaleante.  Parecia sonolento. Indaguei quem era o homem da cruz. Ele apenas respondeu com ênfase: “Um homem injustamente condenado. Ele, verdadeiramente, é o filho de Deus”.

Montei e ouvi um balido. O cordeirinho estava se coçando na haste principal da cruz. Coloquei-o na sela e me afastei devagar. Mais adiante, o cordeiro escapou da sela e correu saltitante de volta ao Calvário. Demonstrava que ficara totalmente sadio e não mais queria ser conduzido. Respeitei sua vontade. Voltei a cavalgar. Mais adiante parei a cavalgadura e olhei para trás contemplando longamente a silhueta do homem crucificado. Espontaneamente, um rio de lágrimas inundou por muito tempo a minha face, enquanto meu coração repetia o tempo todo o que afirmara o guarda romano: “Ele, verdadeiramente, é o filho de Deus”.

Prossegui a jornada de volta a casa quando percebi alguma coisa me seguindo. Era um manto arroxeado esvoaçante a cerca de 100 metros de altura. Eu parava, ele parava. Eu prosseguia, ele prosseguia como a me proteger de longe contra todos os perigos que surgissem. Voltei a chorar e dessa vez com muita emoção e afirmando inúmeras vezes para mim mesmo: “Ele é verdadeiramente o filho de Deus. O cordeiro ficara deitado aos pés da cruz... Do outro cordeiro.