SOBRE MIM

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.
PÉ–d’ÁGUA Clerisvaldo B. Chagas, 11 de abril de 2023 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.862 Um pé-d’água reforçado...
PÉ–d’ÁGUA
Clerisvaldo B. Chagas, 11 de abril de 2023
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
2.862
Um
pé-d’água reforçado marcou a noite do Sábado de Aleluia, em Santana do Ipanema.
Parece que o tempo aguardou pacientemente entre céu nublado, friezinha outonal,
até a chegada da Aleluia. E no momento certo brindou a terra sertaneja numa
comemoração ao homem que venceu a morte. Depois surgiu o céu quase limpo com
uma “luazona” enxugadora de todas as lágrimas da Semana Santa. Antes, houve
trovão, não muito forte, mas houve deixando o sertão sem saber se o caso era
trovoada ou início do período chuvoso. Mas que foi uma homenagem ao Filho do
Homem, foi, para que duvidar? O domingo de Páscoa amanheceu de sertão lavado,
limpo qual pessoa que toma um banho. Sem dúvida, horas de meditação e cantoria
de violeiros repentistas louvando a Natura.
Tudo
isso nos fez projetar para o próximo verão, um tour pelas cidades
alagoanas sertanejas, com o seguinte roteiro: Santana do Ipanema (saída), Poço
das Trincheiras, Maravilha, Ouro Branco, Canapi, Inhapi, Mata Grande,
Pariconha, Água Branca, Delmiro Gouveia, Olho d’Água do Casado e Piranhas.
Voltando por Senador Rui Palmeira, São José da Tapera, Olho d’Água das Flores
(talvez Carneiros e Olivença) e retorno a Santana do Ipanema. Um dia ou dois
conforme o interesse que a maioria irá demonstrar. Até porque se for ver de
tudo passaríamos semanas se deliciando com as atrações peculiares de cada uma
dessas receptivas cidades. Esse roteiro não é aconselhável durante o inverno
quando a liberdade de conhecer é delimitada pelas chuvas.
Já
fizemos algo semelhante quando pernoitamos em São José da Tapera, por problema
leve causado no veículo. Bendito
problema, pois foi uma noite de pousada muito agradável e mais um festejo de
inauguração da praça principal. Estávamos retornando da cidade ribeirinha de
Piranhas. Deixe, amigo, amiga, sua zona
de conforto da capital e venha conhecer o nosso médio, alto sertão e sertão do
São Francisco. Aumente seus conhecimentos, desopilando o fígado, se encantando
com tudo e voltando à capital novo e nova em folha. Deixe as mesmices das
praias e venha conhecer um mundo novo onde o céu é mais largo e as estrelas têm
mais brilho.
Coragem
é bom para vista.
Estou
indo...
CIDADE
SERRANA DE ÁGUA BRANCA
USO DA PUA Clerisvaldo B. Chagas, 10 de abril de 2023 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.861 Você sabe a diferença...
USO DA
PUA
Clerisvaldo
B. Chagas, 10 de abril de 2023
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.861
Você sabe a diferença entre boiadeiro,
vaqueiro, vaquejador, tangedor e vacorno? Já falamos sobre isso em um dos
nossos trabalhos, mas surgiram dúvidas entre marceneiro, carpinteiro e
carapina, também chamado carpina. Esta última palavra fomos ouvi-la pela
primeira vez na zona rural. Aí embolou o meio de campo como dizem os
aficionados ao futebol, porque alguém pode dizer que todos são a mesma coisa. Existe,
porém, uma distinção interessante. Todos
três mexem com a madeira, mas de formas diferentes, vamos a elas:
Marceneiro: profissional que
trabalha com madeira confeccionando móvel e fazendo consertos. Hoje em dia
também recebe a denominação de moveleiro.
Carpinteiro: Profissional da madeira
cujo trabalho está relativo à madeira usada em construção: vigas, escoras,
caixas para concreto, e madeirame do teto, etc...
Carapina: Também chamado carpina,
mas dizem que o nome correto é carapina que, aliás, é de origem indígena. O
carapina trabalha principalmente no campo (zona rural) mexendo com madeira na
construção de casa de taipa, por exemplo. Providencia a estrutura da casa como
portas, janelas, paredes e teto relativos à madeira. Agem, portanto, como se
fossem médicos, mas cada qual com sua especialidade. Quanto ao título da
matéria, quem conheceu a pua? Instrumentos hoje obsoleto, usado pelos
antigos profissionais da madeira e que servia para fazer furos manualmente.
Hoje, substituída pelas furadeiras elétricas, ainda resiste por aí à fora.
A pua ficou famosa durante a Segunda Guerra
mundial, quando os brasileiros a usaram no slogan contra os
nossos inimigos: “Senta à pua!”. O que equivale a dizer que deveríamos usar
todo o rigor sobre eles.
Não queremos dizer que os três profissionais da
madeira não saibam sobre os serviços dos outros similares, pois, “quem não tem
cão, caça com gato”, já diziam os antigos, todavia, “cada qual no seu
quadrado”, fala a gíria hoje em voga.
A Igreja afirma que São José era um
carpinteiro, portanto, pela divisória vista acima, o pai de Jesus dirigia seus
trabalhos de madeira com destino às construções.
Ô Português complicado! Ou o complicado somos
nós?
PUA (Foto).
VAGA-LUMES Clerisvaldo B. Chagas, 6 de abril de 2023 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.860 Santana do Ipanema, ci...
VAGA-LUMES
Clerisvaldo
B. Chagas, 6 de abril de 2023
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
2.860
Santana
do Ipanema, cidade sertaneja de Alagoas, passou quatro anos no escuro. É que o
motor alemão que abastecia a cidade, caiu na exaustão. Após uma luta incessante
dos santanenses, o governador resolveu trazer energia de Paulo Afonso e
abasteceu a urbe. Muitas coisas interessantes aconteceram naquele período onde
afloraram toda a tradição da Ribeira do Panema. Lembramo-nos muito bem de
certas noites em que o céu era povoado desses insetos simpáticos e misteriosos
que são os vaga-lumes e que em outras regiões são denominados pirilampos. Não é
que todas as noites havia vaga-lumes, mas eles sempre apareciam em maior ou em
número reduzido, mas povoavam a nossa mente interiorana.
Os
vaga-lumes tornaram-se imortais na literatura cangaceira, quando na madrugada
de 28 de julho de 1938, foram confundidos com lanternas por duas mulheres bandidas
na Grota dos Angicos, em Sergipe. O engano entre vaga-lumes e lanternas de
verdade, fez a diferença no ataque que vitimou Rei e Rainha do Cangaço naquela
fatídica madrugada. Mas acontece que o progresso como faróis de automóveis,
luzes de postes atrapalharam o pisca-pisca dos pirilampos que se comunicam
assim e atraem as fêmeas para o acasalamento. Por outro lado, o seu habitat foi
invadido por desmatamento e construções, impedindo a reprodução desses coleópteros
que estão no momento desaparecidos.
As
luzes artificiais e companhia retiraram do ar esses maravilhosos insetos que
povoaram a mente de crianças e adultos no nosso mundo sertanejo. Vez em quando
vemos e ouvimos repentistas violeiros falarem sobre a lanterna natural desses
insetos que enfeitavam a abóboda do mundo sertanejo. São personagens do bioma
caatinga assim como as não menos famosas tanajuras que surgiam após as
trovoadas e enchiam de júbilos todas as faixas etárias do semiárido. E como a
parte traseira era volumosa e comestível, daí a expressão rasteira: “bunda de
tanajura”. Pois os vaga-lumes e outros personagens do Sertão, transformaram-se
apenas em saudade no mundo literário e na boca dos nossos avós. Parece
impossível conviverem em harmonia o moderno e o passado.
Mas
lembrar, pode?
VAGA-LUME
(FOTO: PINTEREST).

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.