SOBRE MIM

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.
NÃO CORRA SEM VÊ O BICHO Clerisvaldo B. Chagas, 1 0 de agosto de 2023 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.937 Bem ...
NÃO
CORRA SEM VÊ O BICHO
Clerisvaldo
B. Chagas, 10 de agosto de 2023
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.937
Bem
dizia a grande líder comunitária, dona Joaninha: “Não corra sem vê o bicho”,
pois foi assim que fomos para uma entrevista com um deles. O coronel José
Lucena de Albuquerque Maranhão (coronel Lucena) era o homem mais temido do
Sertão Alagoano. Comandante do Batalhão de Polícia, cujas volantes deram fim a
Lampião e Maria Bonita. Lucena fora o primeiro prefeito de Santana do Ipanema,
eleito pelo voto direto, na Era Vargas. E no dia da Eleição, o comerciante
Manoel Celestino das Chagas, meu pai, fora convocado como presidente dos
mesários de uma daquelas sessões. Por coincidência, era eleitor naquele salão o
tão famigerado coronel Lucena. Tudo normal se não fora o esquecimento dos
documentos de votação por parte do comandante.
E
na hora do registro de comparecimento às urnas, “Seu Manezinho”, não pestanejou
diante da fama de valentia de Lucena e falou: “coronel, para o senhor assinar,
estar faltando o documento”. Lucena – um trovão para muitos – educadamente
exclamou: “Eita! Você tem razão. Esqueci, vou buscar”. E assim procedeu sem
causar nenhum transtorno. E com o resultado do pleito, o coronel exerceu a
função de prefeito de Santana do Ipanema. O homem de bem é manso, anda com a
verdade e o destemor. O homem sábio pode ser pacato, pode ser valente, a
sabedoria não o deixa de acompanhar.
Os
tempos de dirigentes nomeados, governadores e prefeitos, foram de uma época
conturbada de exceção. Para um ditador entrar é ligeiro, para sair dar
trabalho, igualmente a uma doença difícil de se curar. Imaginamos que os
problemas com dirigentes nomeados, os prefeitos com várias denominações,
aconteceram em todo o país. Em Santana, o governador nomeado, nomeava também o
prefeito. Alguns desses indicados não conseguiam chegar ao fim do tempo de
nomeação. Muitos não passavam de 24 horas, outros não ultrapassavam a um mês.
Uns não tinham competência, outros desagradavam gente de prestígio político e
outros ainda eram acusados de roubo. O negócio só foi tomar rumo novo, após as
eleições livres com a despedida da ditadura maior. Mesmo assim, muitos vícios
ainda deram trabalho no início da democracia. A ambição de poder e do poder
continua destruindo almas que se regozijam na terra e se perdem no espaço.
CORONEL
LUCENA, (LIVRO LAMPIÃO EM ALAGOAS).
INHAPI Clerisvaldo B. Chagas, 31 de julho de 2023 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.936 Inhapi, é um município al...
INHAPI
Clerisvaldo
B. Chagas, 31 de julho de 2023
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.936
Inhapi,
é um município alagoano, situada no maciço de Mata Grande e dela emancipado.
Estar situado numa média de 400 metros de altitude e seu título possui origem
indígena tupi: “buraco na pedra”, referência aos lajeados côncavos que
acumulavam água da chuva. Sua sede é progressista, mesmo sendo muito nova e sem
indústrias de porte, tem mais de 18.000 habitantes, o que ultrapassa muitas
cidades sertanejas famosas mais que não passam de 10.000 mil pessoas. Inhapi
vive da agropecuária e do comércio urbano e seus munícipes são denominados
“inhapienses”. Possui um relevo plano e de ladeiras suaves, sendo atualmente
uma cidade bastante visitada que não fica de fora para os que querem conhecer
os municípios alagoanos do extremo oeste.
Festas
e mais festas acontecem em Inhapi. Uma delas é a da Emancipação que acontece na
data de 22. 08. A Festa dos Reis no dia 6 de janeiro é um grande atrativo, mas
a Festa da Padroeira Nossa Senhora do Rosário, celebrada em 7 de outubro dia da
Santa, atrai toda a vizinhança e faz o povo inhapienses vibrar muito durante os
seus festejos. Existem outras festas que adquiriram fama e já se tornaram
pontos de encontros dos sertanejos do Alto e Médio Sertão. Todo ano tem o
encontro dos Carreiros fazendo com que toda a região participe com seus carros
de boi, de Carneiro, de bode, carroceiros e cavaleiros. A culinária sertaneja de Inhapi e a sua
paisagem campesina, alimentam o turista de novidades, gosto pela terra e
vontade de voltar continuadamente.
Com
Alagoas total asfaltada, fica fácil chegar até Inhapi saindo da capital Maceió
e percorrendo uma distância de 271 Km pela BR-316, passando por Santana do
Ipanema. Vindo pela dorsal AL-220, serão percorridos 298 Km, pelo Agreste de
Arapiraca, Bacia Leiteira, Olho d’Água do Casado, etc. O presente é que as cidades sertanejas não
estão tão distantes uma das outras, permitindo se conhecer várias delas com um só
destino. Em todos os lugares, atualmente, proliferam as pousadas, que são
hospedagens mais simples, econômicas e objetivas onde o turista fica
completamente à vontade. Em Inhapi não deve ser diferente.
Diga:
“vamos ao Sertão de Inhapi”, e venha mesmo conhecer o buraco na pedra.
INHAPI
(FOTO: PORTAL FÉRIAS)
FARMÁCIA IPANEMA Clerisvaldo B. Chagas, 26 de julho de 2023 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.935 A busca por erv...
FARMÁCIA IPANEMA
Clerisvaldo B. Chagas, 26 de julho de 2023
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.935
A
busca por ervas curativas sempre foi prestigiada por aqueles que precisavam de
saúde. Os nossos antepassados, não tendo
médico na redondeza, apelavam para alguns conhecimentos dos donos de antigas
farmácias chamadas boticas, era o boticário. Mesmo na época do boticário e
antes disso, o sertanejo doente se fazia na reza e no mato. E quando falamos em
mato, era a raiz, as folhas, as cascas, as flores e os frutos que curavam todos
os tipos de mazelas. Porém, como ainda hoje, essa farmácia natural depende
muito ainda dos conhecimentos do homem rural, cuja faina diária o torna um
especialista no ramo, fica difícil. Muitos desses medicamentos milagrosos, como
os antigos, ainda os encontramos no leito seco do rio Ipanema. Remédio para
tosse, lombrigas, diabetes, pancadas, afinar o sangue, pedra na vesícula,
aborto, menstruação, dor de cabeça e tantas outras mazelas que afligem o
sertanejo.
Raramente
um tipo de erva do leito seco do rio Ipanema e árvores encontradas, não são
medicinais. Numa passada recente num determinado trecho do rio vimos
carrapateira (mamona) Muçambê, urtiga, unha-de-gato, cardinho, vassourinha,
quebra-pedra, capim-santo e tantas e tantas outras espécies. Mas como era bom
andar nas trilhas com o garrafeiro (raizeiro) saudoso Ferreirinha que conhecia
a serventia do mato como a palma da mão. A falta de médico até mais da metade
do Século XX, fez criar fama raizeiros, parteiras e rezadores. Embora esses
profissionais tornem-se cada vez mais raros, nunca deixaram de existir
Para
quem quer fazer um balanço entre o passado sertanejo e o presente, pode sim,
notar uma diferença até gigantesca, porém, a carência médica continua, independente
de SUS, de hospitais, de clínicas particulares... Assim o homem do campo e da
periferia ainda grita para a mulher: “Maria, vai ali no mato e me traga olhos
de velame para afinar o sangue. Aproveite e pegue raiz de urtiga para fazer chá...
“.
É
verdade que a Educação teve uma melhora e tanta em todas as regiões sertanejas,
embora o ideal ainda precise ser conquistado, mas na saúde ainda falta tanta
coisa que uma relação bem feita iria hoje parecer sonho impossível.
É
por isso que o leito seco do rio Ipanema continua sendo um celeiro de
medicamentos.
LEITO
SECO DO RIO IPANEMA FOTO: B. CHAGAS/ARQUIVO).

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.