SOBRE MIM

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.
SERROTES SANTANENSES Clerisvaldo B. Chagas, 2 de novembro de 2023 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.980 Um elevad...
SERROTES
SANTANENSES
Clerisvaldo
B. Chagas, 2 de novembro de 2023
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
2.980
Um
elevado de terra é chamado de montanha. Várias montanhas juntas formam as
serras e, várias serras juntas formam uma cordilheira. Na verdade, o
regionalismo popular distorce ou complementa essas afirmações geográficas. No Sertão
nordestino um elevado não tão alto assim, é chamado de morro quando é
arredondado ou afunilado; serrote quando tem a forma mais horizontal (serrote:
pequena serra) e serra quando o elevado é muito alto, isolado, ou muito alto e
contínuo horizontalmente. No sertão não
se chama montanha; somente as três formações populares citadas. Os serrotes são
costumes regionais tão corriqueiros que a atenção só aparece quando o visitante
indaga, o que é serrote? O serrote, geralmente isolado e residual, isto é, resto
de elevações conjugadas, desgastadas e extintas pelo tempo, tem muita serventia
no Sertão.
O
serrote é mais úmido, tem mais vegetação de porte, é refrigério para os
bovinos, fonte de alimentação para caprinos, receptor e dispersor de ventos,
refúgio de animais selvagens e pulmão verde dos arredores; além disso, os
serrotes são pontos de referências assim como as lagoas regionais. Esses acidentes
geográficos, recebem a denominação do povo, muito mais pelas suas primeiras
famílias que ali fizeram moradias. Assim em Santana do Ipanema se destacam os
seguintes serrotes: “Serrote”, “Serrotinho”, “Serrote dos Brás”, “Serrote dos
Bois”, “Serrote dos França” e “Serrote dos Angicos”, na zona rural. Na zona
urbana: “Serrote do Gonçalinho”, “Serrote do Cruzeiro”, “Serrote do Pelado” e a
“Serra Aguda”.
E
quando falamos na serra Aguda, hoje, quase no limiar do urbano/rural, é uma
montanha isolada em forma de sela, localizada próxima à Reserva Ecológica
Tocaia. É avistada de imediato pelos que entram em Santana do Ipanema, no
sentido Maceió/Santana, a partir das ruas principais do Bairro Monumento. Fica
muito perto do Hospital Regional da colina. É ali na parte mais alta da sela,
onde será erguida a mais alta imagem religiosa do mundo, a de Senhora Santa
Ana, cujos trabalhos de limpeza do terreno, já foram iniciados. A propósito,
vista de longe através de aparelho, existe um desgaste entre as duas partes da
sela, proveniente das enxurradas que descem de serra abaixo.
Amigas
e amigos, abraços do tamanho dos serrotes da minha terra.
SERRA
AGUDA (FOTO:B. CHAGAS)
FREI DAMIÃO E O PÂNICO Clerisvaldo B. Chagas, 1 de novembro de 2023 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.989 As Sant...
FREI
DAMIÃO E O PÂNICO
Clerisvaldo
B. Chagas, 1 de novembro de 2023
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.989
As
Santas Missões no distrito Canafístula Frei Damião, em Palmeira dos Índios,
Alagoas, inspira-me a contar mais uma vez a chegado de Frei Damião em Santana
do Ipanema, entre 1956 e 1960. O respeito, a admiração, a devoção e o carinho
ao Frei pelo povo santanense e da região, eram quase um fanatismo. Eu ainda era
criança quando foi anunciada a vinda de Frei Damião a Santana para suas pregações.
Existia uma agonia geral por falta de chuvas há muito. Comentava-se que quando
o Frei chegava a um lugar seco trazia chuva, era uma esperança. Frei Damião
chegaria por Olho d’Água das Flores. Inúmeros veículos foram ao encontro do
homem, nas imediações de Olho d’Água, fora os que já vinham o escoltando. Uns
ganzelões de minha rua, motivados pela euforia, formaram um pequeno grupo para
encontrar Frei Damião na estrada. Segui com eles.
Atravessamos
o rio Ipanema seco, subimos pelas olarias e em breve estávamos na estrada de
terra rumo a Olho d’Água das Flores. Era um fim de tarde, passamos sobre o
riacho João Gomes e um pouco mais para lá, no deparamos com a comitiva em
sentido contrário. Eu já estava muito cansado e vi passar automóveis e mais automóveis,
caminhões e mais caminhões lotados passaram com muita rapidez. Fiquei choroso
em não ter havido uma única parada para nos acolher. Voltamos a pé tal a ida. O
tempo anoitecia e eu cansado e choroso acompanhando “morcegos”. Ao chegarmos
perto de Santana, chegaram a chuva e o véu da noite. Esbarramos diante do
Ipanema bebendo água. Tive medo de atravessá-lo, mas tive que seguir os
ganzelões, chorando muito. Deu para atravessar sem ser levado pelas águas que
aumentavam de volume rapidamente.
Houve
sermão diante da Matriz, com o quadro comercial completamente lotado. Porém,
dois lugares de Santana, segundo o povo, debocharam do Frei e promoveram bailes
de forró. Um na rua de Zé Quirino (Prof. Enéas) outro no lugar Cachimbo Eterno.
De repente os respectivos salões com grande distância entre eles, encheram-se
de potós que caiam de todos os lugares e espirravam até dos foles dos
sanfoneiros. Gritos, pânico geral. Muita gente queimada pelos insetos. Algumas
pessoas tiveram que ser transportadas para hospitais de outras cidades. A seca
acabou na região de Santana do Ipanema e o rio continuou escorrendo no período
das Santas Missões. Sou testemunha viva do acontecimento.
ESTÁTUA
DE FREI DAMIÃO EM CANAFÍTULA FREI DAMIÃO (FOTO: B. CHAGAS).
IOLANDA, MULHER, CANÇÃO E CIGARRO Clerisvaldo B. Chagas, 31 de outubro de 2023 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.988 ...
IOLANDA,
MULHER, CANÇÃO E CIGARRO
Clerisvaldo
B. Chagas, 31 de outubro de 2023
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.988
Vendo
nesse momento uma pasta de sabão de nome Urca, vem à lembrança nesse final de
outubro de 2023, a Urca da minha adolescência. Vejo-me à Rua Antônio Tavares,
brincando de nota com os companheiros. E o que chamávamos ‘nota”, era o
descarte de carteira de cigarro em que o fumante amassava e jogavam-na em
qualquer lugar. Nós, os adolescentes masculinos, desamassávamos a carteira de
cigarro, descartávamos o papel celofane do envoltório – quando havia –
estirávamos o papel em forma de cédula, dobrávamos as laterais. Cada nota
funcionava como dinheiro de verdade. O valor de cada uma dependia da maior ou
menor quantidade encontrada. O alumínio que envolvia diretamente os cigarros,
era o mais comum e consequentemente o de menor valor.
Depois
saíamos pela rua poeirenta jogando. Um rapazinho jogava uma pedra alguns metros
à frente. O outro tentava acertar a pedra imóvel com outra pedra e assim
sucessivamente. Quando uma pedra batia m outra, o que acertou ganhava uma nota
cujo valor era combinado. Nunca vi jogo tão bom! Lembramos ainda algumas marcas
de cigarros como: Continental, Astória, Hollyood, Fio de Ouro, Urca e Yolanda.
Iolanda também era uma colega ginasiana, relativamente bonita. Era irmão da
Dilma, outra colega ginasiana e, não tenho muita certeza, mas parece que eram
filhas de um cidadão muito popular na época, chamado Imídio Birunda. Também cem
certeza tinha a Socorro, colega de sala, colega de teatro e, irmã de ambas. Surgiu
uma canção com o nome Iolanda a que a turma associava à nossa colega.
Peça
a música no Google e pesquise a inspiração de Chico Buarque de Holanda.
Já os cigarros Urca mostravam o morro do Rio
de Janeiro no rótulo. Quando adulto tive oportunidade de conhecê-la, em
excursão no passeio do bondinho que serve à montanha isolada com cabos de aço.
O sabão pastoso Urca, não mostra a paisagem do rio de Janeiro.
Hoje,
vejo no meu neto o jogo de outrora, transformado no brinquedo celular. Dizem que é a chamada Evolução. Será? Estou escrevendo para extravasar essa noite
mal dormida, sem nenhum sentimento de saudosismo, mas é impossível em
determinados momentos não lembrar fatos corriqueiros das nossas vidas.

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.