SOBRE MIM

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.
CARNAVAL HISTÓRICO E INUSITADO Clerisvaldo B. Chagas 17 de setembro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.109 ...
CARNAVAL
HISTÓRICO E INUSITADO
Clerisvaldo B. Chagas 17 de setembro de 2024
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3.109
O escritor santanense Oscar Silva cita nomes de
alguns blocos carnavalescos das décadas 1920-30. Mas nos anos 60 os blocos já
não eram os mesmos da época do saudoso escritor. Alguns se tornaram tradicionais, outros
tiveram pouca duração. Entre os gerais estavam os “Negras da Costa”, o
“Bacalhau”, “os Cangaceiros”, as “Volantes”, os “piratas” e o mais longevo o “
Urso Preto”. Este é o que nos interessa. Alcançamos o bloco do “Urso Preto” no
comando de Seu Carola (ô), dono de
farmácia – o galego seríssimo com pinta de alemão e eterna gravata borboleta.
Era ele quem guiava o urso preto acorrentado em companhia de brincantes e conjunto
musical com sanfona, pandeiro e outros
instrumentos simples. Depois de Carola, o comando do bloco e do urso passou a
ser do cidadão Chico Paes.
Somos avessos às palavras de baixo calão,
vulgares e chulas, porém, as duas narrativas abaixo tiradas dos carnavais de
Santana no obriga. O malandro Zé Nogueira fazia o papel do urso de seu Carola.
Fantasia pesada e quente, o urso, seu domador e amigos entravam de casa em
casa, comendo, bebendo e dançando. Zé Nogueira teve um desarranjo intestinal
violento. Disse para seu domador: “Seu Carola, urso quer cagar! E o seu
domador: “Vai para lá, urso... Urso na caga. E depois de várias tentativas de
se libertar da corrente e da fantasia, não teve jeito. A catinga medonha tomou
conta do bloco. O urso preto se desmanchava em merda. E se a mente não engana,
esse foi o último Carnaval de Seu Carola.
Já mais adiante, o mecânico Josinho, sobrinho
do Chico Paes, estava dentro da fantasia do uso preto. Ao passar pelo famoso
Largo do Maracanã, seus acompanhantes ainda cantavam:
E como
foi
E como é,
O urso preto
Vem da arca de Noé...
Um espectador abusado que estava bebendo num
bar, gritou a pleno pulmões: “Vamos comer o c. do urso!!!
Nesse grito de guerra, o urso preto, Josinho,
rasgou a fantasia, puxou uma lapa de faca de umas dez polegadas, riscou a
lâmina no chão de pedra, fazendo voar faísca para todos os lados e gritou de
volta:
“Pois venha comer o c. do urso, rebanho de
peste!”.
Foi um corre-corre geral e o tarado perdeu o
tesão na hora.
URSO PRETO SIMILAR AO SANTANENSE.
O CHARQUE E O TEMPO Clerisvaldo B. Chagas, 16 de setembro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.108 Você gost...
O
CHARQUE E O TEMPO
Clerisvaldo B. Chagas, 16 de setembro de 2024
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3.108
Você gosta de uma boa feijoada nordestina? Sem
charque não presta. O que é charque? É a
carne de boi, curtida no sal abundante durante vários dias. Dizem que o método
de transformar carne fresca em charque foi ensinado pelos indígenas quíchuas da
América do Sul. Já em 1780 o Rio Grande do Sul fazia seu primeiro lote de
charque. Isso permitia uma exportação sem arruinar o produto que seria
perecível. Até a metade do segundo quarto do Século XX, o charque – chamado em
outros lugares de carne seca e jabá – era comida de pobre e trabalhador de roça
do alugado. Inclusive, em um dos nossos romances do ciclo do cangaço, FAZENDA
LAJEADO, retirantes da seca trabalhando na Fazenda Lajeado, alimentavam-se de
feijão com charque. Retrato histórico da época.
Em Santana do Ipanema, comprávamos charque de
primeira qualidade e bacalhau – que também era comida de pobre – no armazém de
Seu Marinho, o maior da cidade. O charque dos tempos dos trabalhadores braçais
da zona rural, continua resistindo ao tempo, sofisticou-se no preço e passou a
ser alcançado somente pelo rico. O balcão do armazém de Seu Marinho que ficava
no “prédio do meio da rua”, defronte à Casa Ideal, sapataria de luxo de Seu
Marinheiro Amaral, era lotado de charque e bacalhau. O freguês, hoje cliente,
mesmo indo comprar outra coisa, beliscava no charque ou o no bacalhau
arrancando filepas e degustando. Valia à pena. E o sistema de se fazer feijoada
era com feijão normal, com muitos ingredientes, porém, a cereja do bolo era o
charque.
Esse negócio de feijão preto, não era coisa da
nossa região. Havia pessoas especializadas contratadas unicamente para elaborar
uma feijoada para muita gente. Não se colocava tanta coisa para não tornar a
comida mais pesadona do que um porco. Tudo na medida certa, como os
profissionais faziam, homens ou mulheres. E quando havia festa com feijoada,
quase sempre esse tipo de almoço era servido em pratos de barro, comprados na
feira livre às paneleiras do povoado Alto do Tamanduá – Poço das Trincheiras –
ou do sítio vizinho e santanense, Baixa do Tamanduá. Conhecemos o comerciante
Pedro, como o último de Santana a vender charque de primeira qualidade. Nem
sabemos se ainda existe isso em Santana para se comprar.
Viva a feijoada, patrimônio sertanejo
nordestino!
Mas... Com bastante charque.
NO GINÁSIO SANTANA Clerisvaldo B. Chagas, 13 de setembro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.107 Em Santana...
NO
GINÁSIO SANTANA
Clerisvaldo B. Chagas, 13 de setembro de
2024
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3.107
Em Santana
do Ipanema, o prefeito Joaquim Ferreira, construiu com o governo estadual o
Grupo Escolar Padre Francisco Correia e também a estrutura física para um
hospital. Usou bastante mão-de-obra- indígena dos Carnijós de Águas Belas.
Entretanto, o enorme prédio para hospital, ficou ocioso por falta de pessoal e
equipamento. Mais tarde o prédio ocioso foi ocupado por um batalhão de polícia
formado para combater o cangaceirismo no Nordeste. Quando o batalhão foi embora
o prédio ficou novamente ocioso. Então, passou a ser usado para abrigar uma
unidade escolar da Rede Cenecista em Alagoas. Foi, então, fundado o Ginásio
Santana que foi inaugurado em 1950. Com seus idealizadores à frente: Padre
Bulhões, coronel Lucena, padre Teófanes e outros mais o estabelecimento de
Ensino passou a funcionar da quinta a oitava série.
O
Ginásio Santana funcionava devido pagamento e, seus professores eram pessoas
que se destacavam na sociedade pelo seu saber, gratuitamente ou com pequenas
gratificações. Era um bancário, um contador, um padre, um comerciante, um
médico e assim por diante, tudo a título de colaboração. Das décadas de 60-70,
lembramos como alunos de algumas características de alguns professores: O
professor de História Conrado Lima, nunca deixava de falar em Rocha Pombo; o
professor de História e Matemática, Ernande Brandão, era “E assim
sucessivamente... “, “a ordem dos fatores não altera o produto”; a professora
de Desenho dona Déa, quando se dizia que não estava entendendo: “Tenho tanta
pena do senhor...”: José Pinto Araújo, professor de Geografia: “A Ponta Seixas,
no cabo Branco na Paraíba”; Genival Copinho, professor de Matemática: “O crivo
de Erastóstenes”; A professora de Francês, Maria Eunice: “biquinho: oui,
Mademoiselle”; padre Luiz Cirilo, professor de Latim: “Puela, puela, puela...; Neco professor de Matemática: Cai fora,
deputado!; Doutor Jório, professor de
Ciência: “Quantos corações nós temos? – Dois, doutor Jório, um meu outro do
senhor; Alberto Agra, professor de Geografia: “O sujeito só quer seus direitos,
compreendeu? Esquece dos seus deveres”; Branco, professor de Inglês: “Nos Estados
Unidos é assim, na Inglaterra é assim”.
O
silêncio medroso acontecia nas aulas de Dr. Jório, dona Isinha, Seu Alberto.

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.