SOBRE MIM

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.
PADRE BULHÕES/CADEIA VELHA Clerisvaldo B. Chagas, 21 de outubro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3. 131 Vi...
PADRE
BULHÕES/CADEIA VELHA
Clerisvaldo B. Chagas, 21 de outubro de 2024
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3. 131
Vimos anteriormente que Santana do Ipanema era
o maior município de Alagoas, até, aproximadamente, 1950. Pertenciam a ela as terras
do atual município de Carneiros, com os sítios rurais, “Mundo Novo” e “Bom
Consolo”, entre outros. Pois bem, certa feita, quando o padre Bulhões estava na
Igreja, em Santana, observou do altar que um matuto entrara na igreja com um
cigarro apagado no bico e de chapéu que não tirou da cabeça. Ficou observando
de lá o movimento do povo que chegava para a missa do sábado dia de feira. Viu
quando o matuto se aproximou de um dos altares onde havia uma vela acesa e
tentava acender o seu “boró” (cigarro de fumo de rolo). Aproximou-se do matuto
e indagou primeiro: “De onde é o amigo? “Do Mundo Novo”, respondeu o
agricultor. O padre coçou a cabeça e rebateu: “Só sendo do Mundo Novo, porque
no mundo velho de meu Deus, ninguém acende braço de Judas em vela de altar...
“. (Cigarro de fumo de corda, também é chamado por aqui de “braço de Judas’.
Por outro lado, no tempo da chamada “Cadeia
Velha”, na Rua Antônio Tavares, chegara a Santana uma guarnição sob o comando
de um sargento brabo e ficara aquartelada na dita Cadeia Velha. Certo dia, ao
passar por ali um cidadão tangendo uns burros, estalava o relho como rotina do
seu ttrabalho. O sargento tomou o relho do condutor e, nervoso, disse que
detestava estalos de relho e chegou a ameaçar com uma surra o cidadão. Ora!
Logo cedo do outro dia, surgiu defronte à Cadeia Velha, um proprietário rural,
estalando um relho diante da porta, passando para lá e para cá diversas vezes,
propositadamente. Gritava na rua: “Cadê o sargento brabo daqui para vim tomar
meu relho e me dá uma pisa! E se triscar num só cabelo do meu padrinho fulano,
a desgraça tá feita! Eu sou Brasiliano do Bom Consolo, venha tomar meu relho
agora, seu fio da peste!
Foi assim que Bom Consolo e Mundo Novo
conseguiram registros na história de Santana do Ipanema. Atualmente, procurando
o nome de uma comunidade rural dos Carneiros, descobri no mapa os nomes dos
sítios citados acima: Mundo Novo e Bom Consolo. Aproveitei para contar os fatos
aos meus queridos leitores. Entretanto, estou procurando onde ficam as comunidades
Lagoa do Rancho e Santa Luzia, você sabe?
HISTÓRIA DO SERTÃO Clerisvaldo B. Chagas, 18 de outubro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.130 Você sabia?...
HISTÓRIA
DO SERTÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 18 de outubro de
2024
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3.130
Você sabia? O município de Santana do Ipanema,
era então, o maior de Alagoas. Começou a sua redução territorial a partir de
17.9.1949, quando cedeu terras, para a Emancipação Política do lugar
“Sertãozinho”, que passou a ser chamado de Major Isidoro. Mesmo assim lembro
ainda criança que na década de 50, no povoado olhodaguense do “Pedrão”, minha
tia Delídia ainda chamava a nova cidade de “Sertãozinho”. Em 2.12.1953 - meu aniversário - Mais uma vez Santana do
Ipanema perde território e, desta feita para a vila de Olho d’Água das Flores.
Era a vila altamente agrícola e merecia mesmo ter vida própria. Cinco anos
depois Santana perdia mais terras, encolhia com a Emancipação do povoado Capim,
em 24.4.1958, cujo lugar passou a ser chamado de Olivença.
Ainda no mesmo ano de 58, Santana perde mais
terras e desta feita para o antigo Olho d’Água da Cruz, Poço das Trincheiras
que se emancipou em 15.71958 com o mesmo nome de Poço das Trincheiras. Neste
ano de 1958, foram três emancipações, pois Santana ainda teve que perder parte
de sua extensão também para o povoado Cova de Defunto em 15.7.58. Perdemos,
então, dois povoados no mesmo mês e no mesmo ano. Cova de Defunto passou a ser
denominada de Maravilha. Quatro anos depois, novamente podaram Santana do
Ipanema com a Emancipação de Olho d’Água do Chicão em 27.3.62 e que recebeu o
nome de Ouro Branco. Não senhor, não parou por aqui.
No dia 11.7.62, mesmo ano acima, perdemos
também o povoado Carneiros cuja emancipação conservou o mesmo título de
povoado, Carneiros. Os ávidos políticos por prestígio, votos e poder de
prefeito, continuaram formando novos municípios, em Alagoas. Assim, foi
emancipado o antigo lugar “Usina”, Riacho Grande para se transformar em Senador
Rui Palmeira na data 13.5.1982. Foi o último até agora que resolveu caminhar
sozinho.
CURRIÃO/BURINHANHÉM/TANGERINO Clerisvaldo B. Chagas, 17 de outubro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.129 ...
CURRIÃO/BURINHANHÉM/TANGERINO
Clerisvaldo B. Chagas, 17 de outubro de 2024
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3.129
Você sabe o que é um currião? Você imagina o
que seja um burinhanhém? Ê cabra velho, só o autêntico sertanejo ou um grande
apreciador do Sertão anota no papel ou na cabeça os diversos nomes, frases e
costumes do nosso semiárido alagoano. E por falar em frases, “Mês miou, mês
findou”, diz o homem-raiz da zona rural. Mas o mês não é gato e nem vai miar,
porém, traduzindo o babado, o mês meou, isto é, chegou ao dia 15 e parece
passar rápido o tempo do dia 15 até o fim do mês. Mas, voltemos às palavras do
título desta crônica, que fala do exímio trabalho do artesão nordestino do
couro. Currião é o relho do carreiro,
condutor do carro de boi. É feito de várias peças de couro cru que se tornam
uma só e com cabo de madeira. Serve para o carreiro açoitar os bois de carro. É
conduzido no ombro do carreiro, pendurado ao longo das suas costas.
O burinhanhém também é obra do artesanato do
couro. É um relho de couro cru, usado pelos tropeiros – condutores de tropas de
burros – e que em nosso Sertão eram mais conhecidos como almocreves. O
burinhanhém é um relho maior do que o do carreiro e possui um cabo de madeira
longo e roliço que vai afinando até a extremidade. Mas vamos a outra palavra do
mundo mágico sertanejo: Tangerino. Não, não é o macho da fruta tangerina. É um
tangedor de gado bovino. Geralmente o boiadeiro comprava uma boiada e, o
tangerino ia levá-la ao seu destino tangendo-a pelas estradas, a pé ou montado
em burro ou cavalo. Currião, burinhanhém e tangerino fazem parte, portanto do
nosso dicionário alagoano e nordestino.
E se o Sertão é um planeta mágico, possui
outros mundos mágicos dentro do próprio fantástico. O mundo dos vaqueiros, o
mundo dos carreiros, o mundo dos repentistas, o mundo dos boiadeiros, dos
tangedores e outros mais particularizados no global sertanejo que, quando um de
nós pesquisadores, penetra em no deles, não consegue mais sair, impregnado de
tanta paixão pelo aprendizado. Nesse momento mesmo seria uma reportagem e tanta
registrar os passos do homem da roça com as dificuldades da transição entre
estações mais fáceis e as mais difíceis. O aprendizado é um tesouro infinito
para quem sabe procurá-lo com respeito, admiração e amor.
Orgulho em ser nordestino, sertanejo
alagoano!!!
BRUINHANHÉM.

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.