SOBRE MIM

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.
ROCHEIRA Clerisvaldo B. Chagas, 29 de outubro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.137 O Nome “Rocheira”, vi...
ROCHEIRA
Clerisvaldo B. Chagas, 29 de outubro de 2024
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3.137
O Nome “Rocheira”, vi pela primeira e única vez
numa antiga visita a Penedo, Alagoas. O
local alto e rochoso é muito bonito e faz parte da belíssima história
penedense, com ênfase para as lutas dos nossos brasileiros da região contra os
invasores holandeses. Foi pena, na época de a visita não haver nenhum guia
turístico ou pessoa especializada para contar o significado da Rocheira nos
anais do seu passado. Foi ali na Rocheira onde pela primeira e também única
vez, comi carne de jacaré em um daqueles restaurantes. Gostosa, mas oleosa e
nunca mais provocativa para uma segunda tentativa. Mas não é só a Rocheira que
atrai o turista brasileiro. Outras atrações estão espalhadas pelo primeiro
núcleo habitacional de Alagoas.
E se estou falando disso agora, é por causa da
louvável tentativa da prefeitura de bem iluminar o local para os passeios
turísticos noturnos e o roubo imediato de luminárias ali deixadas, conforme
site noticiosos. Meu amigo, minha amiga, hoje ninguém quer trabalhar e se apega
a esse vício infame em roubar que não tem castigo que conserte peste de ladrão.
Até estava comentando quando as prefeituras tinham vigias permanentes dos
logradouros públicos. Mas, de algumas décadas para cá, é no máximo, uma tal de
câmera que não dá em nada. Os vândalos continuam levando armas de vigias que
raramente aparecem. E assim tudo isso faz lembrar o cantador repentista:
Tamo na segundo etapa
Do tempo do realismo
Vai chegando o comunismo
Desse aí ninguém, escapa
Atiraram até no Papa
Mas eu Delfim Neto não
Que falta faz Lampião
Pratirar em cabra ruim
Se não der fim a Delfim
Delfim dá fim a Nação.
Mesmo assim entre assaltos, descuidos e mortes,
a humanidade continua fazendo turismo, tentando conhecer o mundo, independente
dos perigos de cada dia. E Penedo, nas Alagoas, com jacaré, sem jacaré, com
Rocheira, sem Rocheira, ainda é uma excelente opção
ROCHEIRA (FOTO: ASSESSORIA/DIVULGAÇÃO).
POETAS ESQUECIDOS Clerisvaldo B. Chagas, 28 de outubro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.136 Sim, conheci...
POETAS
ESQUECIDOS
Clerisvaldo B. Chagas, 28 de outubro de
2024
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3.136
Sim, conheci ambos os poetas. Zequinha gostava
de vestir uma roupa de mescla (azulão). Era cego e sempre aparecia nas feiras
dos sábados com o seu guia. Usava um ganzá de flandres para cantar os seus
versos que quase sempre eram de pedir. O homem era uma cachoeira de rima e
morava no sítio rural Travessão. Cantava
na feira e pedia, pedia e cantava de uma vez só pelo meio da multidão. Mão no ganzá,
outra abanando perto do olho. Dele ficou esta estrofe quando um cidadão disse:
“Perdoe Ceguinho”:
A bacia do perdoe
Deixei lá no Travessão
Só homem não sou menino
Todo ser é assassino
Só meu padre Ciço não.
Já Zezinho da Divisão (sítio rural na divisa
Santana Carneiros) se dizia galego buchudo. Poeta também fecundo, gostava de
tomar umas e cantar putaria quando se via apertado num duelo. Assim foi
convidado para cantar com Zé de Almeida na casa de um cidadão, no Bairro
Camoxinga, em Santana do Ipanema. A cantoria estava quente quando pediram um
tema: “Mais sou melhor do que tu”. Zé de Almeida disse:
Sou um tipo sem futuro
Desses que não valem nada
Sou igual a uma levada
Lugar que só tem monturo
Sou um recanto de muro
Onde só tem cururu.
Sou igualmente um tatu
Dentro dum buraco fundo
Sou a desgraça do mundo
Mas sou melhor do que tu
Zezinho já estava cheio da cana e muito
vermelho. Vendo tantos aplausos para o parceiro, disse:
Já perdi a cerimonha
Só ando cambaleando
Tem gente até me chamando
De fumador de maconha
Juntei-me com u’a sem-vergonha
Levei ponta pra chuchu
Foi corno em Caruaru
Fui viado em Maribondo
Mesmo soltando o redondo
Mas sou melhor do que tu.
O dono da casa expulsou os dois.
Nunca tivemos registro de nenhuma homenagem
feita aos dois fantásticos poetas.
SERRA DAS PIAS Clerisvaldo B. Chagas, 25 de outubro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.135 Estar aí estamp...
SERRA
DAS PIAS
Clerisvaldo B. Chagas, 25 de outubro de 2024
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3.135
Estar aí estampada nos jornais o tombamento de
uma carreta na serra das Pias, em Palmeira dos índios. E não é para meter medo
em ninguém, mas subir, principalmente, descer a serra das Pias como passageiro
pode ser um tormento de apreensão que tem fim apenas quando se vence o declive.
Já tivemos muitos receios em nossas viagens de ônibus, rumo a Arco Verde, para
encerrarmos os nossos estudos. Muitas vezes descemos a serra das Pias pelas
madrugadas, com motoristas de ônibus da Empresa Jotude, pé em baixo, meu amigo.
Como diz o sertanejo, “coração no pé da goela”, perante tamanha danação,
imprudência e falta de tudo. Muitos inocentes viam dormindo, mas quem estava
cordado... Só Deus sabe a apreensão.
A serra das Pias faz parte de uma cadeia de
montanhas que formam os contrafortes do planalto da Borborema, particularmente
do Planalto de Garanhuns. Sua rodovia
liga a cidade de Palmeira dos Índios, imediatamente a cidade de Bom Conselho.
No geral, liga o Sul do Brasil ao Recife. Por ali transitam inúmeras cargas dos
mais diferentes produtos em caminhões e carretas. Quando dentro do estado Arapiraca
– Palmeira, os veículos ganham tempo transitando via Igaci e que agora será
duplicada. Portanto, a serra das Pias é importantíssima via de integração
nacional, não se nega, porém, precisa muito de modernização que ofereça muito
mais segurança para os usuários comuns e para os imprudentes. Interessante é o
sopé da serra no entroncamento de Palmeira. Forma-se um aglomerado de postos de
gasolina, churrascarias e lanchonetes que em dados momentos é tanto veículo que
até parece uma festa.
Que pena, uma das mais perigosas serras do
Brasil, ainda continuar praticamente como foi construída. Nada de duplicação,
nada de ponto de escape nas curvas assassinas e engordamento de estatística de
acidentes como esse agora do tombamento de uma carreta e seu paradeiro nas águas
de um açude, onde submergiu a cabina. Subir e desce a serra das Pias em carro
grande é fazer brincadeira de roleta-russa. O cabra não se conforma com o
aclive funério e acelera feito doido querendo ser o finado Ailton Sena.
Ali vivi meus sustos.
Não quero retornar.

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.