DÊNIS NO AREIA GROSSA Clerisvaldo B. Chagas, 9 de janeiro de 2025 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.165:   Ontem fi...

 

DÊNIS NO AREIA GROSSA

Clerisvaldo B. Chagas, 9 de janeiro de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.165:

 



Ontem fiz uma visita ao famoso cantor Dênis Marques, porém, principalmente ao artista plástico Dênis Marques. Fui encontrar o consagrado artista rodeado de seus trabalhos artísticos, em sua maioria confeccionados a lápis. Cada trabalho representando a sensibilidade de uma alma profundamente tocada pela luz divina. Não iremos fazer comparações com os melhores pintores do mundo, aqueles de telas de milhões. Mas o Dênis Marques que de vez em quando desterra a música para se reencontrar com o lápis, com o pincel, com a folha...  Com a tinta, parece redescobrir o mundo no seu autodidatismo. Pena não termos lugar apropriado para uma exposição das suas obras, que por certo teriam resultados retumbantes.

O objetivo principal da visita foi convidar o artista para fazer parte de outra obra de arte, o romance AREIA GROSSA. Não como um dos personagens fictícios ou real dos anos 1956-1976 das imediações do Curral do Gado de Zé Quirino, epicentro da obra literária; mas sim ser como o autor um dos apresentadores da obra com uma coisa muito simples, mas de profundo significado para o leitor e para a história: Um croqui artístico tirado da sua habilidade cognitiva, aperfeiçoamento de cópia sofrida do escritor. O seu trabalho “Denístico”, será apresentado no primeiro capítulo do romance Areia Grossa, para facilitar a compreensão do cenário onde acontece a trama. Além disso, o livro terá o prefácio do famigerado escritor José Ysnaldo Alves Paulo, viçosense, radicado em Maceió. No caso, três artistas num livro só. Artes dentro das artes.

Ah, aproveitei para solicitar música predileta do momento, “Abandono”, com Altemar Dutra, coisa que o Dênis somente conhecia com Roberto Carlos. Prometeu-me cantá-la no próximo lançamento de livros – que será em breve – de acordo com a nossa tradição em que o festejado cantor está sempre animando o nosso público, leitores que procuram se deliciar com as letras. E assim, vamos articulando novidades para apresentações em janeiro e no decorrer do ano que se inicia. Até porque, nós os artistas das letras, do pincel, das melodias, bebíamos sempre a mesma água das cacimbas do rio Ipanema, porém em várias edições. Tudo na fila para lançamento:   “Padre Cícero, 100 Milagres Nordestinos”, “Ouro da Abelhas”, “Papo Amarelo”, “Deuses de Mandacaru”, “Fazenda Lajeado”.

VEM?

DÊNIS MARQUES E SEU SHOW NA LAGOA DO PAU, CORURIPE, AL.

      BÊNÇÃO NA SIMPLICIDADE Clerisvaldo B. Chagas, 8 de janeiro de 2025 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.164   ...

 

 

 

BÊNÇÃO NA SIMPLICIDADE

Clerisvaldo B. Chagas, 8 de janeiro de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.164

 



No meu Sertão alagoano, vamos entrar no mundo do gado. Uma satisfação enorme que toma conta do homem simples que conduz o carro de boi, o arado puxado a garrotes, a compra na feira de uma junta para tarefas de responsabilidades. O sertanejo quer, na linguagem dele, uma parelha ou uma “pareia” para determinados fins.  Uma “pareia”, significa dois garrotes ou dois bois adultos que sejam iguais no tamanho e na beleza. Pode ser um garrote preto com um garrote branco, vermelho, pintado...  Desde que seja do mesmo tamanho, do mesmo formato, da mesma idade. Mas, a preferência mesmo é que sejam da mesma cor, tamanho, idade e formato. Isto é, que não sejam, mas pareçam gêmeos.

Pense na felicidade do homem humilde quando encontra a dupla que procurava, juntamente para as condições que seu bolso pode pagar. No Sertão é assim, uma apoteose interna quando surgem essas oportunidades, de quem vive do ramo e o valor imensurável para o descobridor da roça. E se aquela parelha comprada, estar na labuta da limpeza roceira, ou estreando no carro de boi, é de se imaginas os elogios dos entendidos que passam na estrada e param para apreciar. Entretanto, quem compra a “pareia” com todas as características físicas e à vista, pode até se frustrar com algo que lhe foge dos sentidos, porque só experimentando. É que um dos bois pode ser “ronceiro”. E boi ronceiro é aquele boi manhoso que se escora no cambão para que o peso do carro seja puxado quase totalmente pelo companheiro.

Mas também podemos entrar no mundo dos repentistas, mesmo dos analfabetos, porque a poesia não depende de diploma. Um desses roceiros de veia poética, disse para um cidadão, em forma de repente e considerado uma sextilha simples, humilde, porém muito grande na criatividade:

 

Moço me dê um dinheiro

Pra comprar um boi pra eu

De dois que eu tinha no carro

Um veio a cobra e mordeu

Mas eu quero botar outro

No lugar do que morreu.

 

Dizer mais o quê?

‘PARÊIA (STOCK).

 

 

 

  OS IMPERADORES Clerisvaldo B. Chagas, 7 de janeiro de 2025 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3. 163     E se Otávio...

 

OS IMPERADORES

Clerisvaldo B. Chagas, 7 de janeiro de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3. 163

 



 

E se Otávio era imperador romano, em Santana do Ipanema, tivemos dois Otávios de destaque local. Naturalmente não eram imperadores de Roma, mas imperavam de outras formas. Eram o Otávio Magro e o Otávio Marchante, apelidos já incorporados aos nomes de batismo. Otávio Magro morava na Rua Nova, casado com dona Beatriz. Possuía uma Salgadeira na Rua Antônio Tavares, onde imperava absoluto. Salgadeira era o lugar onde se colocava mantas e mantas de carne de boi, em cochos de madeira, para, através do sal, transformá-las em carne-de-sol. Funcionava na esquina do segundo beco da rua, no sentido Comércio -  Rua São Pedro. Mantas de carne no cocho, mantas de carnes já prontas, penduradas nos tornos de metal. Era chegar o cliente, pedir a quantidade desejada e, Otávio Magro, geralmente caladão, magro, alto, cabelo escorrido, passava a faca enorme amoladíssima na manta que parecia manteiga, embrulhava, entregava e recebia o dinheiro.

O outro, o Otávio Marchante, andava com uma faca na bainha pendurada na cinta. Falava muito grosso e era casado com dona Carmelita. Morava na Rua Prof. Enéas e depois na Rua Antônio Tavares. Era considerado o torcedor número 1 do Ipanema Atlético Club. Durante as partidas de futebol, ficava rodeando o campo e gritando para quem quisesse ouvir: “Aí é Joaozinho! Aí é Lau! Bola rasteira, meninos! “. Lau e Joãozinho eram jogadores adorados pelo povo, principalmente da torcida que comparecia ao estádio Arnon de Melo em dia de jogo com o CSA, CRB, Penedense, CSE, Capelense e mesmo com times de Água Belas ou de outras cidades, em amistosos.

A Salgadeira de Otávio Magro, foi a única que conheci em Santana do Ipanema, ao fechar, até o presente momento, ninguém teve a ousadia de fabricar carne-de-sol daquela maneira. Quanto ao Otávio Marchante, ficou bem marcado em vários trabalhos literários, porém o velho time Ipanema, não resistiu às más administrações sucessivas, cansou, tombou na caminhada abraçando o mesmo destino do seu maior rival na cidade o Ipiranga. Então é de se perguntar, “Sem fábricas, sem futebol e sem esperanças, como se desenvolve uma cidade interiorana? “

Deus salve o rei

ESTÁDIO ARNON DE MELO EM 2013.(FOTO: B. CHAGAS/LIVRO 230).