SOBRE MIM

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.
HISTÓRIA VIVA Clerisvaldo B. Chagas, 18 de fevereiro de 2025 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.191 Você é santane...
HISTÓRIA
VIVA
Clerisvaldo B. Chagas, 18 de fevereiro de 2025
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3.191
Você é santanense? Você está em que lugar do
Brasil? São Paulo, Minas, Goiás, Maceió, Recife...? Vamos chorar juntos com a
foto abaixo. Lembra de alguma coisa? Quer ajuda? A presente foto representa
parcial do Comércio de Santana do Ipanema, na década 1970. De pronto, vemos o
maior prédio de todos, representando o cine-Alvorada, cinema de altíssimo luxo,
pertencente ao meu padrinho, saudoso lojista e empresário Tibúrcio Soares. À
direita do cine, subindo à rua, a Casa de Jogo de Luís Lira (Lirinha). Último
prédio à direita, armazém de compra e venda de couro de Jacó Nobre, com
gerência de Tonho Baixinho. Prédios à esquerda do cine: A Triunfante, casa
comercial, armarinho, do senhor Manoel Constantino. Último prédio à esquerda,
descendo: Café Santo Antônio, de Seu Antônio Pacifico.
Vê-se um jipe marca Willys estacionado na Praça
Cel. Manoel Rodrigues da Rocha. E, finalmente, a parcial da Praça acima,
reformada radicalmente na gestão Henaldo Bulhões Barros. O cine Alvorada foi construído para
substituir o cine-Glória, situado perto da prefeitura e hoje prédio comercial.
Naturalmente esta paisagem acha-se muito modificada. O edifício do cine é casa
comercial, o armazém é loja de tecidos, a Triunfante é agora uma galeria e.
somente continua como antes o Café Santo Antônio. São mais de cinquenta anos de
história representados na foto. Não deu para lermos o primeiro nome do filme em
cartaz, porém, o restante fala em ... POR VINGANÇA. O Cinema, o teatro, os
clubes, os que não fecharam com o advento de Diversão em Casa, estão fechando
agora, chegam notícias.
As primeiras grandes modificações no Comércio
de Santana foram justamente dos anos 70 aos 80.
Houve depois um período de lentidão e novo aceleramento. Casas e mais
casas comerciais ou residenciais, foram quase, freneticamente, vendidas para
remodelações totais ou parciais para comerciantes de outras cidades. Modernizou-se,
está muito bonito, embora ainda se encontre certa resistência tantos em uma ou
outra antiga residência ou em prédio mais antigo. É o Comércio mais bonito de
Alagoas, embora não se tenha tudo que se procura, mas também os mais adiantados
de outras plagas, sempre tem alguma coisa a desejar. E se você está fora há
mais de 10 anos, quanta diferença!
SANTANA ANOS 70 (FOTO:DOMÍNIO PÚBLICO/ACERVO DO
AUTOR).
CAVEIRÃO Clerisvaldo B. Chagas, 17 de fevereiro de 2025 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.190 Neubens Mariano, Ar...
CAVEIRÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 17 de fevereiro de 2025
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3.190
Neubens
Mariano, Arquimedes, Demóstenes, Galego Bigula, José Vieira, Vanúzia, Serra
Negra, Edson... Foram meus colegas na
escolinha de Dona Helena Oliveira. A princípio na Rua Martins Vieira e depois
na Calçada Alta da Ponte do Padre. Escolinha preparatória para o Admissão ao
Ginásio. Funcionando pela manhã, a lição não aprendida levava ao castigo de não
liberação até depois do expediente. A palmatória robusta estava em voga, bem
como uma grossa régua de bater nas coxas, nas pernas... Costumeiramente ficávamos de castigo, passando
da hora do almoço. Meu colega Edson, magro, alto, de idade mais avançada em
relação a nós, nada aprendia e ficava conosco na ressaca das aulas. Isso dava
motivo ao marido de Dona Helena, Celestino Chagas, ao chegar do trabalho, pegar
um sax, tocar e inventar cantiga com o Edson;
Caveirão eu quero ver
Os grilos cantando dentro
Caveirão eu quero ver
Os grilos cantando dentro.
Edson, coitado, tão humilde, somente esboçava
ares de riso. Passou a ser apelidado Edson
Caveirão. Era filho de outra criatura mais humilde ainda, o marceneiro Seu
Lourival, que morava e trabalhava na rua por trás da Algodoeira do Senhor
Domício Silva, no Comércio. Era o único profissional que eu conheci que fazia
ancoretas para transporte de água em jumento e, ancoretas pequenas artesanais
de imburana-de-cheiro para os apreciadores de cachaça perfumada.
Neubens Mariano, sempre a soprar as mãos suadas;
Arquimedes e Demóstenes, sempre fazendo presepadas dentro e fora da escola;
Galego Bigula gazeando para jogar sinuca no salão de Zé Galego; José Vieira,
vindo de Senador Rui Palmeira, ensinando a nós todos; Vanúzia de Seu Gervásio,
bonita, cobiçada e indiferente; Serra Negra, o Serrinha, parceiro das cocadas
de leite, compradas no bar de Zé Vieira, vizinho a igreja de São Sebastião (as
melhores que já comi na vida. Dizem que eram feitas pela esposa do senhor José
Malta); E de Edson Caveirão, muita pena. De todos eles só sei do paradeiro de
Neubens Mariano, aposentado da Justiça, em Maceió e colecionador de todas as
minhas publicações.
O restante, saudade! Muitas saudades! Por onde
andarão?
CALÇADA ALTA DA PONTE (Domínio Público/acervo
do autor).
PADARIA Clerisvaldo B. Chagas, 14 de fevereiro de 2025 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3. 189 Quer queiramos ou n...
PADARIA
Clerisvaldo B. Chagas, 14 de fevereiro de 2025
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3. 189
Quer queiramos ou não, é a padaria um lugar de
muita identificação com a nossa vida de adolescência e mesmo adulta. Todos
lembram da padaria da juventude. E, falando francamente, a diferença do
ambiente quase nada mudou. Vai de uma simplicidade franciscana até quase o alto
luxo, entretanto, a essência é a mesma. O tema me vem à telinha do computador,
mediante esse pão comprado há pouco, fresco, mas ressecado que só uma torrada.
E nossa cidade, espelha bem essas histórias de padarias, pois já nos deparamos
com nomes de panificadores, desde a década de 1920. E como a vila de Santana do
Panema, era muito progressista, não duvidamos que na época já produzia o nosso
pão de cada dia. E na era 20 se fala na padaria de um certo, Firmo e mais
adiante no panificador Antônio Tavares. Na certa Antônio Tavares da Guirra,
também componente de teatro.
Mas, do meu tempo mesmo, a mais velha foi a Padaria Royal do senhor Raimundo Melo,
situada no Comércio da cidade, muito embora com a impressão de que o senhor
Raimundo Melo, já comprara a padaria a outro proprietário. Isso é apenas
impressão, certeza mesmo não tenho e, os do meu tempo ou perto, não compartilham
da história. Havia os três pães básicos, no início: crioulo, doce e francês,
chamado por mim e pelo povo também, pão d’água, pão de milho e pão aguado.
Depois surgiram os pães: carteira, roberto carlos e alagoas. Vendia bolachas x,
fabricadas lá mesmo. Também fabricava bolachão, uma bolacha grande, quadrada,
fofa e cheia de fermento. A Padaria Royal
começou a vender bolacha cream-craker que chegava da fábrica em embalagem de
lata, um luxo só.
Final de ano, a padaria presenteava seus fiéis
clientes com um pão tipo recife, em forma de jacaré e calendários de paredes. A
pedido de clientes, também deixava os pães pendurados em pregos nas janelas ou
nas portas desses clientes, em sacolas de pano, bordadas. Os passantes não
mexiam nas sacolas. Mas é claro que existiam mais algumas padarias na mesma
época, entretanto, era na Royal que eu ia comprar o pão. Por isso e por outras
coisas mais que eu considero padarias lugares sagrados. E por enquanto não
vamos entrar no mérito do fabrico, da banha de porco, da manteiga, da
margarina...
Lembro ainda dos padeiros Altino, que morava na
Rua Zé Quirino; e de Moreira, índio Fulni-ô de Águas Belas.
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Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.