SOBRE MIM

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.
RUA DOS RESTAURANTES Clerisvaldo B. Chagas, 12 de março de 2025 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.206 I Não. A ...
RUA
DOS RESTAURANTES
Clerisvaldo B. Chagas,
12 de março de 2025
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3.206
I
Não. A rua não tem nome de Rua
dos Restaurantes. Ela foi trecho de rodagem de Delmiro Gouveia que saía de Pedra
e chegava até Palmeira dos índios, Quebrangulo, Garanhuns. Era a porta
principal da cidade, para quem chegava do alto Sertão alagoano. Nos tempos do
coronel Lucena, este querendo justificar a morte do tenente Porfírio, acusou
moradores daquela artéria de formarem bando de cangaceiros com Porfírio. Isso
não era verdade, mas a via passou a ser conhecida como Rua dos Coiteiros. Esta rua, margeia o rio Ipanema em toda a sua
extensão e tem seus quintais da parte de baixo, voltados para o rio. Tempos
depois, a Rua dos Coiteiros foi reconhecida como trecho da rodagem de Delmiro e
recebeu o nome oficial de Rua Delmiro Gouveia.
Um dos seus moradores fundou o
BIU’S BAR E RESTAURANTE, com ampla paisagem aos fundos para o rio Ipanema.
Outro morador, trezentos metros adiante, fundou outro restaurante, considerado
de luxo, o RESTAURANTE JOÃO DO LIXO. O nome não compreendido pelos de fora,
deve-se ao proprietário que trabalhava na prefeitura no setor de coleta de
lixo. Tempos depois, chegou à rua, vindo do Comércio, outra casa denominada
“BAR DE ZÉ PEDRO, que também é restaurante. Um no início da rua, outro no meio
e outro ainda quase na outra extremidade. Bom que foram investimentos
santanenses, valorizando a cidade. Surgiu um quarto restaurante, sendo este de
fora, mas durou pouco, cerrou as portas. Os três restaurantes santanenses
persistem na Rua Delmiro Gouveia até o presente momento.
Dia de sexta-feira, a rua fica
estreita por causa do grande número de veículos ali estacionados. Promoções,
cantores, reuniões e tudo o mais faz a badalação da “Rua dos Restaurantes”.
Outros estabelecimentos similares estão espalhados pela cidade, porém, aqueles
da rua do Bairro Camoxinga, estão há muito consolidados. Acho que donos de
estabelecimentos e seus frequentadores, não irão protestar com essa nossa
afirmação de RUA DOS RESTAURANTES. E
para seguir a tradição, além do nome de antiga Rua dos Coiteiros, a sua vizinha
também era chamada de Rua da Poeira. O motivo nem precisa dizer. Mudou de nome
popular após calçamento e passou a ser chamada Manoel Medeiro, um saudoso
morador da artéria. Foi ali onde se formou a resistência contra uma possível
invasão de Lampião, que não entrou na cidade, em 1926.
Restaurante dá fome. Estou
indo...
RUA DELMIRO GOUVEIA EM 2006
(FOTO: B. CHAGAS/LIVRO O BOI, A BOTA E A
BATINA, HISTÓRIA COMPLETA DE SANTANA DO IPANEMA.
O EXÓTICO E O BOM – IMBU Clerisvaldo B. Chagas, 11 de março de 2025 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.205 Nada me...
O
EXÓTICO E O BOM – IMBU
Clerisvaldo B. Chagas, 11 de março de 2025
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3.205
Nada melhor de que uma andança pela caatinga em
missão difícil, quando chegam as esperanças em forma de imbuzeiro repleto de
frutos maduros e inchados. O imbu mata a sede, mata a fome e ainda embarca
quietinho e prestativo no seu bornal, embornal, aió, bizaco ou nos seus bolsos.
Depois daquele belo descanso à sombra do imbuzeiro, é muito bom quando você
consegue levar para a casa, quantidade suficiente para a patroa fazer uma
imbuzada. Garantimos que ele não vai lhe fazer pergunta besta se o nome certo é
imbu ou umbu, imbuzeiro ou umbuzeiro. Mas vai preparar aquela iguaria cozinhada
ao leite que se come em prato sopeiro ou copos de vitaminas. Uma delícia
oferecida pela Natureza e caprichada no fogão da sua esposa.
Ainda não temos no interior de Alagoas, nenhuma
cooperativa do imbu para preservar, plantar, colher, transformá-lo em sorvete,
geleia, sucos e movimentar uma teia grande do produto com se faz em alguns
lugares da Bahia. Nunca vi um agricultor do meu Sertão plantar imbuzeiro e
muito menos de cuidar de um. Mas na hora
de usufruir das benesses da Natura, sobe na sua galhada com botina e tudo atrás
dos frutos arredondados e doces que lhe dá prazer. Nem todo imbu é doce, é bom,
também pode ser azedo. Pode ser grande, enorme, pode ser pequeno. Encontramos
imbuzeiro em terras barrosas e compactadas, com imbus visivelmente sofridos,
pequenos e ruins.
Sempre foi tradição em nossas feiras semanais,
encontrar para vender o doce tijolo, tanto
de jaca quanto de raiz de imbuzeiro. Batatas que acumulam água e que eram
usadas, nas grandes secas, enfrentadas por soldados e cangaceiros. Esse doce tijolo é uma verdadeira delícia e
tradição dos antigos doceiros da região sertaneja. Levou muito meus quinhentos
réis e destões nas feiras livres de Santana do Ipanema, Carneiros e Olho d’Água
das Flores, nas mascateações do meu pai, Manoel Celestino das Chagas – Seu Manezinho
Chagas. E, como diz o título desta matéria: Imbu, fruto exótico, saboroso e
doce dos sertões nordestinos. Obrigado escritor “Primo Véi”, João Neto, por me
ter enviado a reportagem sobre o imbu gigante. Deu nisso aí.
IMBUS (IMAGEM: STOCK).
CASARÃO Clerisvaldo B. Chagas, 10 de março de 2025 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.204 O casarão histórico do p...
CASARÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 10 de março de 2025
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3.204
O casarão histórico do padre mais famoso que já
apareceu por essas bandas, fora Francisco Correia – um dos fundadores da cidade
e milagreiro – era muito interessante, peculiar e a nem um outro casarão da
cidade se assemelhava. Fora construído no alto da ravina que forma a foz do
riacho Camoxinga, Não temos nenhuma informação oral ou escrita de quem o
construiu. Teria sido o próprio padre Bulhões, quando chegara da sua terra
Entre Montes ou teria sido comprado no início? Ninguém sabe informar. O que
sabemos é que, margeando o riacho no alto da ravina, havia e ainda há uma
mureta muito bem-feita de proteção contra o fenômeno das terras caídas e das
próprias enchentes violentas do citado riacho. Vale salientar que as terras do
desaguadouro, são finas e fácil desagregação.
Nos últimos anos como casarão quase ocioso,
funcionava apenas um compartimento, logo vizinho à rua, onde funcionava uma
Marcenaria, com certeza, cedida ou alugada por seus herdeiros ao conhecido
Negão, mano de outro personagem tão conhecido em Santana: José dos Santos, dono
do Restaurante Xokant’s. Na certa, Negão recebeu ordens de despejo e o que
vimos, após, foi o casarão sendo demolido aos poucos como se fosse para
aumentar a dor do povo santanense. E de fato, o casarão histórico, desapareceu,
sumiu, se encantou. No seu lugar ficou apenas um enorme vazio como um espaço
escrito de caderno apagado por feroz borracha de duas cores. Nem era mais
atração um buraco de onde fora arrancada botija, nem um frondoso pé de
tamarinas e nem mesmo as muretas que permaneceram intactas.
Daí em diante, o amplo terreno foi mercado de
artesanato, estacionamento, parada de circos e outras coisas mais. O único
registro que se conhece, é o livro 230, Iconográfico
aos 230 Anos de Santana do Ipanema. Não surgiu uma única pessoa que viveu
no casarão ou com ele conviveu que quisesse escrever algumas linhas sobre o
saudoso Cônego Bulhões. Da mesma maneira aconteceu com a vida da repartição
DNER – Departamento Nacional de Estradas e Rodagens – que morreu melancolicamente,
tendo sua belíssima história em Santana do Ipanema e regiões sertanejas, apenas
virado uma página em branco, amarelada ou invisível às novas gerações.
CASARÃO DO PADRE BULHÕES: ÚLTIMOS ESTERTORES. (FOTO:
B. CHAGAS/LIVRO 230).

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.