SOBRE MIM

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.
BUCHA COM AREIA Clerisvaldo B. Chagas, 10 de março de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.489 Quase não acredi...
BUCHA
COM AREIA
Clerisvaldo
B. Chagas, 10 de março de 2021
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
2.489
Quase não acreditamos
quando vimos a reportagem sobre o fazendeiro que trocou o plantio da uva pelo
de bucha natural. Para quem é bem
vivido, lembra no Sertão de Alagoas, que a dona de casa usava areia do IPanema
para arear os pratos e outras louças da casa. Muito se usava a bucha selvagem,
encontrada nas ramagens que subiam pelas cercas de varas ou de arame farpado.
Mas já se usava bem o sabão em barra comprado nas bodegas. Somente tempos
depois surgiu o tal “Sapólio” e a bucha industrial de marca “Bom Bril”.
Usava-se ainda para fritura dos alimentos a banha de porco que depois foi
substituída pelo óleo de vegetais vindo das fábricas. Todo uso antigo condenado
antes, todo uso moderno condenado depois.
O lixo das residências
para recolhimento público, era colocado na calçada em latas tipo querosene,
caixões e caixas de papelão, somente depois surgiu o lixeiro de borracha. A
coleta era realizada através de carroças de burro e, lembramos ainda de um carroceiro
que prestava esse serviço de nome Juvenal. As casas costumavam usar a planta
Imbé como enfeite e como poderosa espanta cobra. Muitas casas já possuíam
cisternas de cimento para armazenar água. Mas também havia utensílios para esse
fim, fabricados em barro chamados pote, jarra e porrão (u), na escala crescente
do tamanho e comprados nas feiras livres semanais. A água para beber de uso
imediato, esfriava na quartinha. A água utilizada para consumo humano e
limpeza, vinha das cacimbas escavadas do rio Ipanema, em ancoretas trazidas por
jumentos.
Mulheres que moravam
próximo ao rio, abasteciam suas casas com latas na cabeça e rodilhas. Raramente
se via a prática do galão que é um pau que carrega duas latas nas extremidades,
penduradas por cordas e conduzido nos ombros por elemento masculino. As casas
tinham biqueiras ou bicas (calhas) de zinco e conduziam água para as cisternas
ou vasilhames, das chuvas no telhado. Ocasionalmente o chamado guarda de peste,
visitavam as casas e colocavam produtos preventivos nos potes. As comunicações
públicas eram realizadas através de uma rede de alto-falantes distribuída nos
postes da cidade. Já existia o odiento juiz de menor espantando meninos e
recolhendo bolas de futebol e ximbras no meio das ruas.
Mas ainda não
entendemos sobre o agricultor que planta buchas ao invés de uvas. Quem usaria
buchas nesses tempos modernos?
BUCHAS NATURAIS
(CRÉDITO: autosustentavel.com)
NO JÚRI TAMBÉM TEM Clerisvaldo B. Chagas, 9 de março de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.484 Fomos assistir...
NO
JÚRI TAMBÉM TEM
Clerisvaldo
B. Chagas, 9 de março de 2021
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
2.484
Fomos assistir o debate
entre advogado e promotor no “sobrado do meio da rua, em Santana do Ipanema.
Uma atração para cidade do interior, na época. Dr. Fernando, promotor, fora
sempre uma atração à parte, que peitava bonito o advogado Dr. Aderval Tenório. Mas
dessa vez o julgamento tinha o Dr. João Yoyô como advogado. Homem de fala mansa
e moderada. O sobrado até que tinha muito espaço, porém a multidão ficou
restrita a entrada do salão, logo após a escadaria de madeira, do primeiro
andar. O promotor acusava um cidadão de
ter aplicado uma surra em outro que falecera 15 dias após. O advogado João,
dizia que a morte do homem nada tinha a ver com a surra, até porque não houvera
pisa nenhuma. “O acusado apenas batera levemente na vítima com um simples
cipózinho de catingueira”. Foi aí que o funcionário do Banco do Brasil, João
Farias, fumando muito como era seu vício e que assistia conosco o debate, disse
baixinho para nós: “Já viu catingueira ´dá cipó, seu fio da peste!
Risos na porta do
Fórum.
Já o advogado Aderval
Tenório com seu vozeirão e sabedoria, costumava driblar a plateia bebendo
guaraná batizada, istó é, debatia
bebendo uísque numa garrafa de guaraná e até o juiz seguia sem
interferência.
Noutro debate – dessa
vez o fórum era no prédio da atual Câmara de Vereadores – o dr. Eraldo Bulhões duelava
com uma advogada. No meio da discussão, a advogada disse uma frase troncha
referindo-se a uma briga entre o réu e a vítima: “Aí ele agarrou-la (rola)
pelos cabelos...” Os presentes ficaram arrepiados com a frase da doutora que
prosseguiu atropelando o Português. Eraldo Bulhões, que sempre foi bom e
irônico orador, defendeu sua tese com galhardia. Quando encerrou suas palavras,
voltou-se para nós, na multidão que acompanhava o duelo, passou pertinho e
falou baixo onde só havia homens:
“A doutora Fulana pensa que Direito é buc...”
Os homens riram, o juiz
não ouviu e o preso foi solto.
Por questão de ética
omitimos o nome da advogada, mas nos bastidores do Júri também tem.
ANTIGO SOBRADO DO MEIO
DA RUA, VISTO DA RUA BARÃO DO RIO BRANCO. (LIVRO 230/B. CHAGAS/DOMÍNIO PÚBLICO).
URINA PRETA Clerisvaldo B. Chagas, 8 de março de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.483 As notícias que perco...
URINA
PRETA
Clerisvaldo
B. Chagas, 8 de março de 2021
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
2.483
As notícias que percorreram o Brasil, da mulher que comeu peixe, pegou “doença da urina preta” e morreu, deixam os amantes de um peixinho assado como eu de antena ativada. A notícia vai mais além citando o nome do bicho que provocou a morte; trata-se do peixe de mar Arabaiana, muito apreciado nas Alagoas do litoral ao Sertão. Estar classificado pelo povo como da linha de frente com o atum, a cavala, o dourado. O caso aconteceu no Recife com uma veterinária, mas alertou consumidores do Brasil inteiro. O peixe contaminado com toxina, não demonstra mudança no aspecto o que leva ao consumo inocente de qualquer um. Credo em cruz doença da urina preta! Pode ser transmitida por outras espécies de peixes e por crustáceos, segundo informações.
Rememorando a pesca em
Santana do Ipanema, precisamente no Poço dos Homens, poço formado por trás do
casario do Comércio no rio Ipanema, dividia-se a pesca ao longo de todo o poço.
Na parte mais rasa, era feita pela meninada, adolescentes e mulheres, com litros
para piabas. A parte mais larga e mais profunda do poço, era dos adultos que
pescavam com tarrafas e anzóis. A parte estreita, também era utilizada por
adultos que pescavam com anzóis e raramente à mão, nas locas do poço. O
ex-baterista Toinho, apelidado “Toinho dos Fogões” e depois “Toinho das Máquinas”,
era exímio pescador de mandim, no anzol. Solitário, parecia espantar a amargura
dos dias difíceis de consertador de fogões e depois de máquinas de costura, nas
águas convidativas do Poço dos Homens.
Certa feita, o
ex-baterista dos áureos tempos dos grandes bailes nos clubes de Santana,
afirmou e cumpriu: “Não venho mais pescar. O peixe estar aparecendo com uma
doença feia que forma um caroço no lombo. Acho que é câncer”. E assim, Toinho
teve que complementar o pão da família de outra maneira. Era revoltado porque
os políticos da época faziam-se de cego às suas necessidades. Foi o único
pescador a alertar às pessoas do que estava acontecendo com a saúde dos peixes
do rio Ipanema, trecho urbano. Mesmo assim, desconhecemos qualquer providência
das autoridades sanitárias sobre o alerta de Toinho. Ainda hoje mais de trinta
famílias fazem a pesca miúda no trecho e nada de amostra de água nem de peixe
nos laboratórios, pelo menos publicamente.
E se os peixes do
Ipanema, não transmitiam a tal doença da Urina Preta, talvez transmitisse coisa
muito pior para a inocência das famílias e vistas grossas de quem mandava na
época.
POÇO DOS HOMENS EM 2006.
(FOTO: LIVRO 230/B. CHAGAS).

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.