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segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

REPENTISTA E ABOIADOR



REPENTISTA E ABOIADOR
Clerisvaldo B. Chagas, 11 de dezembro de 2012.
Crônica Nº 926

Clerisvaldo e Zé de Almeida cantam para os velhinhos na Matriz de Senhora Santa Ana.
Esta semana encontrei o poeta Zé de Almeida, famoso em todo o Nordeste. O repentista veio da escola poética de Rafael Paraibano da Costa, também santanense que aperfeiçoou a carreira de Almeida, logo cedo, pois eram amigos de verdade. Quando Zé de Almeida pegou fama que estava assombrando os grandes da Paraíba e Pernambuco, comecei também a mexer nesse vespeiro. Em pleno auge da sua carreira de repentista-violeiro, Almeida deve ter pesado uma porção de coisas e terminou abandonando as cantorias pelos aboios de vaquejadas em discos, acompanhando Vavá Machado, um mito no estilo. Versos imorredouros ficaram acenando, como lenços de seda, a despedida do rapaz das cantigas de pé de parede. Certa feita, já mostrado aqui, Almeida, convidado para uma noitada em Paulo Afonso enfrentou duas feras consagradas: Jó Patriota e Manoel de Filó, que procuravam experimentar o rapazinho que criava fama. Ao terminar a baionada com um, o outro se sentou para também medir forças com o santanense. Almeida saiu-se com essa estrofe de placa:

“Já cantei com Patriota
Vem Manoel de Filó
Um é cobra canina
Outro cobra de cipó
Eu no “mei” me defendendo
Com um taco de mororó”.

Outra vez, no Bar da Pitú, centro de Santana do Ipanema, ao passar o locutor Humberto Guerrera, da Rádio Correio do Sertão, Almeida que bebia um refrigerante parou e disse:

“Lá vai Humberto Guerrera
Locutor amigo meu
Até já perdeu as contas
Das cachaças que bebeu
Tá vivo daqui pra cima
Pra baixo a pitú comeu”.
.
O Nordeste foi quem perdeu os improvisos animados e quentes de Almeida, para ouvir os balanços de vaquejadas, aboios e forrós misturados que vão se tornando sarapatéis das feiras mais famosas. O poeta ainda mora em Santana do Ipanema, no Bairro Camoxinga, e é visto com muita satisfação pelos amigos, passeando e vendendo sua arte numa indefectível pasta negra, usando chapéu de couro pernambucano. Certo, ele. O artista deve ir onde o povo está. Honra para Santana, cujo trabalho elevou o nome da cidade na voz inconfundível do REPENTISTA E ABOIADOR.




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quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

CACHAÇA DE QUEM MORREU

CACHAÇA DE QUEM MORREU
Clerisvaldo B. Chagas, 27 de dezembro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.031

ALMEIDA. (FOTO/DIVULGAÇÃO).
De vez em quando penetrando no mundo maravilhoso dos repentistas nordestinos, passo a repetir uma historieta. Quando o Zé de Almeida criava fama nos braços da viola, foi chamado para ser testado em Paulo Afonso. Lá estavam os veteranos Manoel de Filó e Jó Patriota (conheci o segundo). Após uma baionada com Manoel de Filó, Jó Patriota assumiu a vez e sentou-se ao lado de Almeida. O vate santanense estava inspiradíssimo e iniciou o segundo baião:
                            
                                      Já cantei com Manoel
Agora canto com Jó
Um é cobra canina
Outro é cobra de cipó
Eu no “mei” me defendendo
Com um taco de mororó.

Aplaudidíssimo.

Em outra ocasião, Zé de Almeida se encontrava no comércio de Santana do Ipanema. Um dos locutores da Rádio Correio do Sertão, veterano, irmão do bispo diocesano, Humberto Guerrera, acabara de sair da emissora. Além de ser experiente o apresentador também era muito querido e gente boa. Gostava, porém, de beber muito e foi alvo naquele momento do poeta Zé de Almeida. Quando o radialista foi passando defronte ao Bar Comercial, Almeida apontou para ele e disse aos que o cercavam:

Lá vai Humberto Guerrera
Locutor amigo meu
Já perdeu até as contas
Das cachaças que bebeu
Tá vivo daqui pra cima
Pra baixo a “Pitú” comeu.

Novamente aplaudidíssimo pela criativa estrofe.
Esse é o mundo encantado do repentista.
Depois tem mais.






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segunda-feira, 16 de novembro de 2009

FORÇA DO MOURÃO

FORÇA DO MOURÃO
(Clerisvaldo B. Chagas. 17.11.2009)

Quem aprecia uma peleja nordestina, conhece os diversos gêneros de estrofes existentes: sextilhas, galope beira-mar, quadrão, mourão, mourão perguntado, martelo agalopado, martelo alagoano, Brasil caboco, gabinete, décimas... São em torno de quarenta gêneros. O básico de qualquer cantoria é a sextilha. A dupla de repentistas pode passar uma noite cantando somente sextilhas, pois com elas se canta qualquer assunto; apenas muda a musicalidade em canta intervalo. Cada pedaço da cantoria é chamado baionada. Quando os cantadores querem ou o povo pede, os repentistas podem cantar vários gêneros após as sextilhas e depois voltar para elas. O gênero mais nobre, em minha opinião, é o martelo agalopado, chamado assim porque imita martelada como o galope de cavalo. O tema ou mote, se alguém pede, é cantado em décimas ou em martelo agalopado que tem mais sílabas, porém, com os mesmos dez versos. O mourão é composto de uma estrofe de sete versos, separados em dois mais dois mais três. O primeiro cantador canta dois versos (duas linhas); o segundo cantador responde com mais dois; o primeiro repentista rebate com os três versos finais. Abaixo iremos dar um exemplo de martelo agalopado e um de mourão.
Zé de Almeida é poeta-repentista santanense e muito conhecido no Nordeste. Ultimamente Almeida vem se dedicando mais ao ramo musical das vaquejadas, fazendo dupla com parceiros também famosos. Certa feita achei tanta poesia em um martelo agalopado feito por ele que imortalizei a estrofe. Está no meu romance Defunto Perfumado à página 8:

“O meu verso já tem se comparado
Com o mel da abelha jandaíra
Com o perfume da flor da macambira
Com o campo florido perfumado
Com as flores que cobrem todo o prado
Com o sol amarelo cor de gema
Com o canto feliz da seriema
Com o grito saudoso da graúna
Com a casca de pau da baraúna
E o verdume da folha da jurema”

Pois bem, Zé de Almeida e seu parceiro pelejavam na cidade alagoana de Maravilha, Sertão de Alagoas. Estavam ambos em uma residência, quando um ouvinte pediu um mourão. Almeida iniciou mais ou menos assim:

O povo pode pedir
Que a gente canta na hora

O parceiro respondeu:

Ninguém vai me impedir
De tocar minha sonora

No momento que Almeida ia concluir o mourão, um homem muito conhecido na cidade, passando por fora espichou o pescoço para dentro da casa (pela janela) e gritou: “Calem a boca dois cornos!” Zé de Almeida desviou o pensamento e respondeu ao parceiro, ao povo e ao intruso:

“Nessa agora eu me concentro
Dois cornos cantando dentro
E um corno gritando fora”

No final tudo terminou em gargalhadas com as brincadeiras do comerciante Leusínger. Essa é a FORÇA DO MOURÃO.





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terça-feira, 26 de maio de 2009

A PITÚ COMEU

A PITÚ COMEU

(Clerisvaldo B. Chagas. 26.05.2009)


Quem conhece o mundo dos cantadores sabe. Existem os encontros de cantorias em residências, em festivais, em congressos. As histórias dos bons encontros são repassadas para o planeta da viola. Particularmente circulam estrofes de boca em boca que foram criadas em situação de debate entre dois cantadores ou isoladas e ocasionais. Em ambas as situações, esses versos tornaram-se imorredouros e são repassados de geração a geração. Falemos aqui apenas das estrofes ocasionais. Acontecem quando um repentista está viajando ou chega a um lugar qualquer e faz uma estrofe com alguma coisa que lhe chamou a atenção. Se os versos forem realmente bem feitos e alguém anotá-los na cabeça, vai passando à frente e percorre assim o Nordeste. Toda estrofe tem uma história. Versos sem história não tem sentido. São inúmeras as estrofes ocasionais que a gente houve. Pesquisadores já publicaram livros contando várias delas. Eu mesmo desisti de um trabalho desses quando vi que era preciso viajar muito para colher os seus verdadeiros autores que são trocados por outros. Exemplo famoso de uma estrofe ocasional:

Certa vez um poeta viajante teve recusado um pequi para matar a fome. Ao chegar a pé no povoado próximo, dizendo ser repentista, recebeu uma proposta que se provasse o que estava dizendo não pagaria nada. Não se fez de rogado:



“Acredite meu senhor

Eu gostei muito daqui

Terra de mulher bonita

De cabra bom no fuzí

Mas em redor de uma légua

Tem cabra fi duma égua

Que nega até um pequi”



O saudoso Adeilson Dantas, pioneiro do rádio no Sertão, resolveu pesquisar estrofes interessantes para enfeixá-las num livro. Convidou-me para viajar a cidade de Monteiro, o “Vaticano da Poesia”. Não realizamos o intento. Entre as várias estrofes colhidas pelo radialista, duas me despertaram interesse. Foram feitas na hora pelo poeta santanense Zé de Almeida. A primeira, não vou contar para evitar constrangimento com o alvo. Um cidadão de Santana iria ser candidato a vereador e pediu uma estrofe. Como Zé de Almeida não gostava do indivíduo fez a estrofe ao contrário, de modo chulo. A segunda vamos ouvir Adeilson:

“Zé de Almeida estava no comércio de Santana, no bar do comerciante Mário Pacífico. Um locutor muito apreciado na cidade, chamado Umberto Guerrera — que exagerava na bebida — ia passando na praça”. E eu vou dizer o que mais, depois que Almeida o viu e recitou de repente?:



“Lá vai Umberto Guerrera

Locutor amigo meu

Já perdeu até as contas

Das cachaças que bebeu

Tá vivo daqui pra cima

Pra baixo a Pitú comeu”
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domingo, 27 de outubro de 2024

 

POETAS ESQUECIDOS

Clerisvaldo B. Chagas, 28 de outubro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.136

 

Sim, conheci ambos os poetas. Zequinha gostava de vestir uma roupa de mescla (azulão). Era cego e sempre aparecia nas feiras dos sábados com o seu guia. Usava um ganzá de flandres para cantar os seus versos que quase sempre eram de pedir. O homem era uma cachoeira de rima e morava no sítio rural Travessão.  Cantava na feira e pedia, pedia e cantava de uma vez só pelo meio da multidão. Mão no ganzá, outra abanando perto do olho. Dele ficou esta estrofe quando um cidadão disse: “Perdoe Ceguinho”:

 

A bacia do perdoe

Deixei lá no Travessão

Só homem não sou menino

Todo ser é assassino

Só meu padre Ciço não.

 

Já Zezinho da Divisão (sítio rural na divisa Santana Carneiros) se dizia galego buchudo. Poeta também fecundo, gostava de tomar umas e cantar putaria quando se via apertado num duelo. Assim foi convidado para cantar com Zé de Almeida na casa de um cidadão, no Bairro Camoxinga, em Santana do Ipanema. A cantoria estava quente quando pediram um tema: “Mais sou melhor do que tu”. Zé de Almeida disse:

 

 

Sou um tipo sem futuro

Desses que não valem nada

Sou igual a uma levada

Lugar que só tem monturo

Sou um recanto de muro

Onde só tem cururu.

Sou igualmente um tatu

Dentro dum buraco fundo

Sou a desgraça do mundo

Mas sou melhor do que tu

 

Zezinho já estava cheio da cana e muito vermelho. Vendo tantos aplausos para o parceiro, disse:

 

Já perdi a cerimonha

Só ando cambaleando

Tem gente até me chamando

De fumador de maconha

Juntei-me com u’a sem-vergonha

Levei ponta pra chuchu

Foi corno em Caruaru

Fui viado em Maribondo

Mesmo soltando o redondo

Mas sou melhor do que tu.

 

O dono da casa expulsou os dois.

Nunca tivemos registro de nenhuma homenagem feita aos dois fantásticos poetas.

 

 

 


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sexta-feira, 27 de agosto de 2010

DESENGANOS

DESENGANOS
(Clerisvaldo B. Chagas, 27 de agosto de 2001)

Só quem sabe cantar meus desenganos
É a flor madrugada e mais ninguém

Fracassam o passado e o presente
Diniz, Zé Catota e Vitorino
Zé Limeira, Lourival, José Faustino
Zé Gaspar, Zé de Almeida, M. Clemente
Geraldo, Zé Viola, R. Vicente
Lourinaldo, Mocinha e Jó, além
De Daudeth Bandeira e mais uns cem
Ivanildo, versejos sobre-humanos
Só quem sabe cantar meus desenganos
É a flor madrugada e mais ninguém

Nem o Nelson Gonçalves, Altemar
Cauby, Lupicínio ou Alcione
Agnaldo Timóteo ao microfone
Netinho ou Sangalo à beira mar
 Moacir, Martinho ou Alcimar
Zé Ramalho, Belchior, Fafá Belém
Ciganas canções que vão e vem
Que apaixonam demais seres humanos
Só quem sabe cantar meus desenganos
É a flor madrugada e mais ninguém

Nem as flores suspensas do jardim
Nem a rosas dos prados coloridos
Nem as brisas dos vales mais perdidos
Nem o céu de safira ou de carmim
Nem gorjeios de aves no capim
Baladas sensíveis de um trem
O aceno do lenço de alguém
Não tocam na alma dos arcanos
Só quem sabe cantar meus desenganos
É a flor madrugada e mais ninguém

O vento que sibila à cordilheira
O cravo que nasceu no pedregulho
O balanço das águas no marulho
O convite da sombra à quixabeira
O melaço da cana da caldeira
O aroma da carne no moquém
O pipilo insistente do vém-vém
Vão pingando poesia nos meus planos
Só quem sabe cantar meus desenganos
É a flor madrugada e mais ninguém

O escuro das noites mais escuras
O cenário de atos tenebrosos
As fossas abissais de assombrosos
Seres que habitam nas funduras
Fogo-fátuo de águas tão impuras
Cobre em moeda de vintém
Fuligem que ao vício faz refém
Vão rondando seus golpes mais tiranos
Só quem sabe cantar meus desenganos
É a flor madrugada e mais ninguém.
 
                                                               FIM












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quinta-feira, 23 de agosto de 2018

REPENTISTAS


REPENTISTAS
Clerisvaldo B. Chagas, 24 de agosto de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 1.971
 
Repentistas Clerisvaldo Braga e Zé de Almeida. (Arquivo do autor).
Repentista filosofando sobre seca no Piauí:

“Eu tava me sustentando
De fruta de macaúba
Mas o galho ficou alto
Eu não conheço quem suba
De vara ninguém alcança
De pedra ninguém derruba”.

Repentista, após receber bom dinheiro de prostituta, na feira:

“Muito obrigado dona
Pela paga verdadeira
Mal empregado esse nome
Que lhe dão, mulher solteira
Rapariga é essas pestes
Que andam lisas na feira”.

Repentista recebendo no prato dinheiro mínimo de um pobre:

“Parece que seu Joaquim
Passou a noite no mato
Com uma faca amolada
Tirando couro do rato
Deixou o rato sem couro
Botou o couro no prato”

Repentista Zé de Almeida em Paulo Afonso:

“Já cantei com Manoel
Agora canto com Jó
Um é cobra caninana
Outro é cobra de cipó
Eu no mei me defendendo
C’um taco de mororó”.

Repentista de ganzá, cego Zequinha Quelé, do sítio Travessão, pedindo dinheiro na feira: “Perdoe, ceguinho”.

A bacia do perdoe
Deixei lá no Travessão
Sou homem não sou menino
Todo ser é assassino
Só meu padre Ciço, não.



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