quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

CADASTRO SOCIAL

CADASTRO SOCIAL
(Clerisvaldo B. Chagas, 25 de fevereiro de 2011).

       Ninguém sabe quantos cegos, aleijados e pessoas com outros tipos de problemas, Jesus curou nas suas peregrinações pela Palestina. Transitando em terras da Galileia, Samaria e Judeia, seguido por multidões, não tem mesmo como se possa calcular os benefícios do filho de José. Levando-se em conta o atraso da medicina e a população regional, quantas formas de doenças não haveriam naquele recanto mediterrâneo! Mas parece que quanto mais se evolui no campo da cura, mais doentes aparecem lotando hospitais, postos de saúde e agências de benefícios.
       Especificando apenas cegos e aleijados, víamos nas feiras do interior de Alagoas, grande número de pedintes que até se tornavam conhecidos para os feirantes. Lembro bem de uma linda mulher cega, olhos azuis, bem asseada, decentemente vestida, que pedia esmola tocando uma sanfona e cantando, aos sábados na feira de Santana do Ipanema. Eu tinha muita pena. Zequinha Quelé, repentista cachoeira, também cego, circulava nas feiras de Santana a Pão de Açúcar. Aleijados também assinalavam presença e não eram poucos.
       Atualmente a denominação para quem tem problemas semelhantes, é deficiente, nome mais suave, porém, com desgaste constante que termina se igualando aos dois primeiros. Acontece que atualmente existe uma secretaria chamada de Ação Social que recebe verba a valer e, até é cobiçada pelos políticos por motivos óbvios. O que se propõe aqui, é que a AMA – Associação dos Municípios Alagoanos, elabore um censo para cadastrar pedintes habituais, comprovadamente cegos ou aleijados, em todos os municípios, inclusive confrontando os cadastros entre as diversas secretarias municipais. Uma vez de posse desses dados, tomar providências no sentido de uma política de dignidade dessas pessoas, tirando-as definitivamente da situação de mendicância e usando os benefícios da Ação Social para uma vida decente, prazerosa e produtiva.
       Essa não é uma crônica literária. É como se fosse uma pausa reflexiva em nossos trabalhos. O leitor tem todo direito de acreditar ou não. Preparados e salvos versos regionais e filosóficos, em martelo agalopado, para o dia de hoje, desapareceram misteriosamente do arquivo salvo e não pude encontrá-los em nenhum outro arquivo. Desolado fui dormir sem saber o que escrever para hoje. Passava da meia-noite, quando veio um personagem de olhos azuis no meio da multidão e, veementemente, pediu-me essa crônica que ora elaboro. Pareceu-me um deficiente visual que se elevou na multidão, cujas palavras, não as entendi como foram pronunciadas, mas que as traduzi perfeitamente e acordei. Estou aqui às duas da manhã enviando a mensagem a AMA.
       Naturalmente não é meu esse apelo aos prefeitos da Associação. Estou apenas servindo de instrumento, não deixando de cumprir a minha parte. Revelo, entretanto, a alegria imensa de ter sido usado para o bem. Tudo agora depende de boa vontade para um CADASTRO SOCIAL.


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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

ESTRELA CADENTE

ESTRELA CADENTE
(Clerisvaldo B Chagas, 24 de fevereiro de 2011).

       O norte africano e o Oriente Médio continuam sendo as atrações do momento. É que não estamos vivendo apenas a transformação de um país qualquer sem expressão alguma. Trata-se de uma região inteira de bicontinentalidade, lugares importantíssimos na geopolítica, interesse geral das grandes potências militares. Tudo que acontece por ali afeta a nossa economia brasileira, sendo, portanto, motivo de interesse do país em geral. Diretamente são os brasileiros e firmas do Brasil, investidores no Oriente que são afetados. É o comércio incerto e vacilante, estremecido pelas arengas que aumentam ou não as nossas exportações. As brigas de lá podem encerrar fábricas aqui gerando desemprego. Poderá haver fechamento de passagens de navios, prejudicando a navegação, tornando mais caro os fretes, os seguros, os preços das mercadorias. Poderá haver também um substancial aumento de preço do petróleo, tanto pelo marasmo da produção, quanto pelo risco do transporte pelos pontos explosivos. O globo que virou aldeia interessa a todos e não há como permanecer indiferente ao que se passa no mundo.
       Apertado por todos os lados, o senhor Mahmoud Ahmadinejad, não querendo deixar o poder pela rebelião do povo, resolve desviar a atenção dos seus mais profundos problemas sociais, enviando navios de guerra ao Mediterrâneo. Dois navios iscas, para que Israel, com os nervos à flor da pele, ataque-os, para que o povo iraniano volte à revolta para o inimigo comum, digo, não de povo com povo, mas do ódio figadal do senhor Ahmadinejad. Penso que Israel não deveria morder a isca. É aguardar a ação dos navios e só agir em caso extremo.
       O pior de tudo nesse momento histórico ímpar (rebeliões populares em inúmeros países ao mesmo tempo) é sem dúvida a incerteza. Estão em jogo as diversas etnias, religiões, política, economia e a própria ameaça de um conflito generalizado de grandes proporções que incluiria até a Europa que se recupera lentamente da rebordosa da última crise gigante.
       Coincidentemente na área de Jesus, Abraão e Maomé, é onde mais se reprime, mais se explora, mais se odeia. A concentração de tantos carolas, tantos santos de pau oco, faz também dessas terras repletas de céu, o inferno da intolerância em eterna ebulição. A fobia religiosa, étnica e pátria, tem início na própria casa, na exploração do nome de Deus em vão, nos apelos divinos para subjugar os do mesmo sangue, na canga pesada nos pescoços menores. (Compare com alguns prefeitos do semiárido, o ferrão de ferreiro em vara de quixabeira, sapecada, na legião de analfabetos). Os torpedos dos navios iranianos são os mesmos torpedos do obscurantismo popular e da infame sagacidade ditatorial. Luzes artificiais existem no Oriente Médio, África, Cuba, Venezuela, China, Rússia e Coreia do Norte, mas está faltando um tipo de luz natural que não se fabrica com os combustíveis terrenos. Talvez a descida de um simples candeeiro pudesse alumiar, nem que fosse por frações de segundos, como pedido desesperado e esperançoso que fazemos na passagem de uma ESTRELA CADENTE.


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