segunda-feira, 11 de julho de 2011

ADEUS CARUARU


ADEUS CARUARU
Clerisvaldo B. Chagas, 11 de julho de 2011

Ao vencer as estradas perigosas Maceió – Caruaru, um churrascão em Agrestina é sempre bem vindo. Ali, Cupira, nome famoso de abelha. Acolá, Panelas, terra do grande repentista Oliveira das Panelas. Finalmente o descortinar de vales importantes. Cortando neblina, enfrentando curvas extraordinárias, vamos chegando de mansinho à “Capital do Forró”. Há décadas sem passar pela região, ficamos de boca aberta com a beleza da cidade que evoluiu bastante, acompanhando o aspecto físico ao seu comércio. Mesmo não sendo dia da feira mais famosa do Brasil, o movimento de gente em determinados lugares, parece carreiros de formigas fugindo de enchentes. Um grupo de zabumba vai animando o povo, saindo e entrando pelas ruas de barracas. Monte de berrantes está exposto no meio da praça. Não deixam de aparecer possíveis compradores e curiosos tentando tocar na comprida ponta de boi. Quando alguém acerta o berro, de longe se ouve o som do gado chegando ao Pantanal. O turista quer tirar foto nos monumentos ao feirante. E uma das estátuas de pedra sai na fotografia, mesmo de braço quebrado. A poluição sonora, porém, não foge a falta de lei como em tantos outros municípios. Bate um pé d’água no Agreste e os transeuntes acalmam-se sob as marquises. O mendigo cabuloso, não para a cantilena, obstruindo a passagem estreita. E o rio Ipojuca fede como o diabo com aquela horrorosa poluição.
Em Caruaru, o fluxo de veículos é impressionante. Muitos edifícios destacam-se no vale, apreciados pelos trechos mais altos da BR. Ainda estão por ali vestígios do que foi a festa junina que atraiu gente do mundo inteiro. Homens do forró percorrem as praças provocando à dança. Indago ao vendedor como é Caruaru no cotidiano. O homem responde no seu linguajar característico: “O trupé aqui, meu amigo, é assim direto. Toda hora o cancão pia. Ô terra boa para se ganhar dinheiro!” A manhã vai se enchendo de pessoas das inúmeras cidades circunvizinhas, de Pernambuco, do Nordeste todo, disputando compras num campo sem fim de negócios que vão desde uma simples agulha a um antigo gipão. Ali, feira de tecidos, acolá a feira dos arreios, artes, brinquedos, jeans, móveis... E vamos lembrando Luiz Gonzaga: “Tudo no mundo há na feira de Caruaru”. E do nosso ex-professor e escritor Aleixo Leite Filho, vamos recordando também sua condenação a outra cidade e os elogios a esse lugar de sua moradia.
         Quem vem A Caruaru não pode pensar em somente um dia para compras. E ainda tem muitos pontos para visitas, principalmente para quem quer conhecer a parte turística e a vida noturna da cidade titã. São mais de 300 mil habitantes fazendo o que eles mais gostam, vender e comprar ao som quente do forró. Não mais podendo ficar, fui. Maceió me espera. ADEUS CARUARU.

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quinta-feira, 7 de julho de 2011

LAMPIÃO, CANDEEIRO E QUEROSENE

LAMPIÃO, CANDEEIRO E QUEROSENE
Clerisvaldo B. Chagas, 08 de julho de 2011

 Lampião, Candeeiro e Querosene iluminaram o cangaço e escureceram o mundo. Lampião, cangaceiro alvo das atenções mundiais, passou mais de vinte anos torturando, estuprando, matando gente. Eles e alguns dos seus asseclas esquartejavam pessoas como se esquartejam os bodes do Sertão. Para a felicidade da quietude nordestina, foi surpreendido e morto com sua companheira Maria Bonita no dia 28 de julho de 1938. Com ele, desencarnaram mais nove sequazes naquele alvorecer friorento de inverno. Candeeiro era uma espécie de secretário e tesoureiro particular da confiança. Viajava com o chefe e conhecia as transações com os fornecedores de armas e munição para Virgulino. Candeeiro estava presente naquele amanhecer fatídico que derrotou o mito do cangaço. Conseguiu escapar à hecatombe da grota juntamente com mais trinta e três companheiros que estavam no coito de Angicos. Depois resolveu entregar-se à polícia e foi recambiado de Santana do Ipanema, Alagoas, para à prisão em Maceió. Quanto a Querosene ─ o mais obscuro de todos ─ foi um dos responsáveis da outra frente de motivo para eliminar o chefe. Joca do Capim, vaqueiro da fazenda Novo Gosto, imediações de Pão de Açúcar, Alagoas, procurava um jeito de vingar-se do cangaceiro Querosene que estava saindo com sua mulher (mulher de Joca). A maneira encontrada por Joca do Capim, como era coiteiro de Lampião, foi trair o bando todo entregando a presença dos cangaceiros por ali ao sargento Aniceto, na cidade de Piranhas (AL). Com algumas tramas acontecidas no triângulo Piranhas, povoado Entremontes (AL) e Grota dos Angicos, Sergipe, livra-se o Nordeste da incômoda presença de Virgulino.
           Lendo o magnífico trabalho sobre a última semana de Lampião, na tese do escritor Frederico Bezerra Maciel: “Lampião seu tempo e seu reinado”, temos a lista de todos os cangaceiros que estavam ali acampados na madrugada do ataque alagoano: 44 pessoas no total, mas ali não consta o nome de Querosene, entre os 44 apresentados. Ora! O Joca do Capim havia perdido a paciência quando sua mulher, mais uma vez saiu de casa logo cedo daquele dia 27 de julho, para ir ao encontro de Querosene na própria fazenda Novo Gosto. Na noite daquele dia 27, Querosene não poderia ter dormido fora sem autorização. Onde estaria Querosene na madrugada do dia 28, momento fatal? Fora essa referência ao cangaceiro, ninguém mais fala sobre ele, nem no coito entre os listados, nem entre os mortos após Lampião e nem entre os que se entregaram às forças. Vamos às hipóteses: Primeira, pertenceria ao grupo de Corisco que foi dormir em Entremontes (AL). Segunda: Faria parte do grupo de Labareda que também não quis dormir ali dizendo que aquilo era “cova de defunto, compadre!” Foi pernoitar duas léguas abaixo em solo sergipano. Terceira: Pertenceria, por acaso, ao grupo de Moita Brava que inventara estar adoentado e conseguiu permissão para dormir fora? Moita Brava levou seu grupo também? Querosene foi com eles?
           Como um dos pivôs da perfídia, não podia faltar Querosene no bojo de Candeeiro nem na placa de Lampião. Um silêncio toma conta dos pesquisadores sobre esse cabra. Você sabe? Você viu? Ah! Meu amigo! Esse trio energético deu o que falar! Ora no claro, ora no escuro, vão piscando no outro mundo os cangaceiros LAMPIÃO, CANDEEIRO E QUEROSENE.
·         Na última semana de julho, publicaremos diariamente crônicas sobre o cangaço, durante os dias úteis, enquanto terminamos um livro sobre o assunto.

  

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