CAVEIRÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 17 de fevereiro de 2025
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3.190
Neubens
Mariano, Arquimedes, Demóstenes, Galego Bigula, José Vieira, Vanúzia, Serra
Negra, Edson... Foram meus colegas na
escolinha de Dona Helena Oliveira. A princípio na Rua Martins Vieira e depois
na Calçada Alta da Ponte do Padre. Escolinha preparatória para o Admissão ao
Ginásio. Funcionando pela manhã, a lição não aprendida levava ao castigo de não
liberação até depois do expediente. A palmatória robusta estava em voga, bem
como uma grossa régua de bater nas coxas, nas pernas... Costumeiramente ficávamos de castigo, passando
da hora do almoço. Meu colega Edson, magro, alto, de idade mais avançada em
relação a nós, nada aprendia e ficava conosco na ressaca das aulas. Isso dava
motivo ao marido de Dona Helena, Celestino Chagas, ao chegar do trabalho, pegar
um sax, tocar e inventar cantiga com o Edson;
Caveirão eu quero ver
Os grilos cantando dentro
Caveirão eu quero ver
Os grilos cantando dentro.
Edson, coitado, tão humilde, somente esboçava
ares de riso. Passou a ser apelidado Edson
Caveirão. Era filho de outra criatura mais humilde ainda, o marceneiro Seu
Lourival, que morava e trabalhava na rua por trás da Algodoeira do Senhor
Domício Silva, no Comércio. Era o único profissional que eu conheci que fazia
ancoretas para transporte de água em jumento e, ancoretas pequenas artesanais
de imburana-de-cheiro para os apreciadores de cachaça perfumada.
Neubens Mariano, sempre a soprar as mãos suadas;
Arquimedes e Demóstenes, sempre fazendo presepadas dentro e fora da escola;
Galego Bigula gazeando para jogar sinuca no salão de Zé Galego; José Vieira,
vindo de Senador Rui Palmeira, ensinando a nós todos; Vanúzia de Seu Gervásio,
bonita, cobiçada e indiferente; Serra Negra, o Serrinha, parceiro das cocadas
de leite, compradas no bar de Zé Vieira, vizinho a igreja de São Sebastião (as
melhores que já comi na vida. Dizem que eram feitas pela esposa do senhor José
Malta); E de Edson Caveirão, muita pena. De todos eles só sei do paradeiro de
Neubens Mariano, aposentado da Justiça, em Maceió e colecionador de todas as
minhas publicações.
O restante, saudade! Muitas saudades! Por onde
andarão?
CALÇADA ALTA DA PONTE (Domínio Público/acervo
do autor).