domingo, 16 de fevereiro de 2025

 

CAVEIRÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 17 de fevereiro de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.190



 

Neubens Mariano, Arquimedes, Demóstenes, Galego Bigula, José Vieira, Vanúzia, Serra Negra, Edson...  Foram meus colegas na escolinha de Dona Helena Oliveira. A princípio na Rua Martins Vieira e depois na Calçada Alta da Ponte do Padre. Escolinha preparatória para o Admissão ao Ginásio. Funcionando pela manhã, a lição não aprendida levava ao castigo de não liberação até depois do expediente. A palmatória robusta estava em voga, bem como uma grossa régua de bater nas coxas, nas pernas...  Costumeiramente ficávamos de castigo, passando da hora do almoço. Meu colega Edson, magro, alto, de idade mais avançada em relação a nós, nada aprendia e ficava conosco na ressaca das aulas. Isso dava motivo ao marido de Dona Helena, Celestino Chagas, ao chegar do trabalho, pegar um sax, tocar e inventar cantiga com o Edson;

Caveirão eu quero ver

Os grilos cantando dentro

Caveirão eu quero ver

Os grilos cantando dentro.

 

Edson, coitado, tão humilde, somente esboçava ares de riso. Passou a ser apelidado Edson Caveirão. Era filho de outra criatura mais humilde ainda, o marceneiro Seu Lourival, que morava e trabalhava na rua por trás da Algodoeira do Senhor Domício Silva, no Comércio. Era o único profissional que eu conheci que fazia ancoretas para transporte de água em jumento e, ancoretas pequenas artesanais de imburana-de-cheiro para os apreciadores de cachaça perfumada.

Neubens Mariano, sempre a soprar as mãos suadas; Arquimedes e Demóstenes, sempre fazendo presepadas dentro e fora da escola; Galego Bigula gazeando para jogar sinuca no salão de Zé Galego; José Vieira, vindo de Senador Rui Palmeira, ensinando a nós todos; Vanúzia de Seu Gervásio, bonita, cobiçada e indiferente; Serra Negra, o Serrinha, parceiro das cocadas de leite, compradas no bar de Zé Vieira, vizinho a igreja de São Sebastião (as melhores que já comi na vida. Dizem que eram feitas pela esposa do senhor José Malta); E de Edson Caveirão, muita pena. De todos eles só sei do paradeiro de Neubens Mariano, aposentado da Justiça, em Maceió e colecionador de todas as minhas publicações.

O restante, saudade! Muitas saudades! Por onde andarão?

CALÇADA ALTA DA PONTE (Domínio Público/acervo do autor).

 

 


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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

 

PADARIA

Clerisvaldo B. Chagas, 14 de fevereiro de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3. 189



 

Quer queiramos ou não, é a padaria um lugar de muita identificação com a nossa vida de adolescência e mesmo adulta. Todos lembram da padaria da juventude. E, falando francamente, a diferença do ambiente quase nada mudou. Vai de uma simplicidade franciscana até quase o alto luxo, entretanto, a essência é a mesma. O tema me vem à telinha do computador, mediante esse pão comprado há pouco, fresco, mas ressecado que só uma torrada. E nossa cidade, espelha bem essas histórias de padarias, pois já nos deparamos com nomes de panificadores, desde a década de 1920. E como a vila de Santana do Panema, era muito progressista, não duvidamos que na época já produzia o nosso pão de cada dia. E na era 20 se fala na padaria de um certo, Firmo e mais adiante no panificador Antônio Tavares. Na certa Antônio Tavares da Guirra, também componente de teatro.

Mas, do meu tempo mesmo, a mais velha foi a Padaria Royal do senhor Raimundo Melo, situada no Comércio da cidade, muito embora com a impressão de que o senhor Raimundo Melo, já comprara a padaria a outro proprietário. Isso é apenas impressão, certeza mesmo não tenho e, os do meu tempo ou perto, não compartilham da história. Havia os três pães básicos, no início: crioulo, doce e francês, chamado por mim e pelo povo também, pão d’água, pão de milho e pão aguado. Depois surgiram os pães: carteira, roberto carlos e alagoas. Vendia bolachas x, fabricadas lá mesmo. Também fabricava bolachão, uma bolacha grande, quadrada, fofa e cheia de fermento. A Padaria Royal começou a vender bolacha cream-craker que chegava da fábrica em embalagem de lata, um luxo só.

Final de ano, a padaria presenteava seus fiéis clientes com um pão tipo recife, em forma de jacaré e calendários de paredes. A pedido de clientes, também deixava os pães pendurados em pregos nas janelas ou nas portas desses clientes, em sacolas de pano, bordadas. Os passantes não mexiam nas sacolas. Mas é claro que existiam mais algumas padarias na mesma época, entretanto, era na Royal que eu ia comprar o pão. Por isso e por outras coisas mais que eu considero padarias lugares sagrados. E por enquanto não vamos entrar no mérito do fabrico, da banha de porco, da manteiga, da margarina...

Lembro ainda dos padeiros Altino, que morava na Rua Zé Quirino; e de Moreira, índio Fulni-ô de Águas Belas.

 

 

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