CASARÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 10 de março de 2025
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3.204
O casarão histórico do padre mais famoso que já
apareceu por essas bandas, fora Francisco Correia – um dos fundadores da cidade
e milagreiro – era muito interessante, peculiar e a nem um outro casarão da
cidade se assemelhava. Fora construído no alto da ravina que forma a foz do
riacho Camoxinga, Não temos nenhuma informação oral ou escrita de quem o
construiu. Teria sido o próprio padre Bulhões, quando chegara da sua terra
Entre Montes ou teria sido comprado no início? Ninguém sabe informar. O que
sabemos é que, margeando o riacho no alto da ravina, havia e ainda há uma
mureta muito bem-feita de proteção contra o fenômeno das terras caídas e das
próprias enchentes violentas do citado riacho. Vale salientar que as terras do
desaguadouro, são finas e fácil desagregação.
Nos últimos anos como casarão quase ocioso,
funcionava apenas um compartimento, logo vizinho à rua, onde funcionava uma
Marcenaria, com certeza, cedida ou alugada por seus herdeiros ao conhecido
Negão, mano de outro personagem tão conhecido em Santana: José dos Santos, dono
do Restaurante Xokant’s. Na certa, Negão recebeu ordens de despejo e o que
vimos, após, foi o casarão sendo demolido aos poucos como se fosse para
aumentar a dor do povo santanense. E de fato, o casarão histórico, desapareceu,
sumiu, se encantou. No seu lugar ficou apenas um enorme vazio como um espaço
escrito de caderno apagado por feroz borracha de duas cores. Nem era mais
atração um buraco de onde fora arrancada botija, nem um frondoso pé de
tamarinas e nem mesmo as muretas que permaneceram intactas.
Daí em diante, o amplo terreno foi mercado de
artesanato, estacionamento, parada de circos e outras coisas mais. O único
registro que se conhece, é o livro 230, Iconográfico
aos 230 Anos de Santana do Ipanema. Não surgiu uma única pessoa que viveu
no casarão ou com ele conviveu que quisesse escrever algumas linhas sobre o
saudoso Cônego Bulhões. Da mesma maneira aconteceu com a vida da repartição
DNER – Departamento Nacional de Estradas e Rodagens – que morreu melancolicamente,
tendo sua belíssima história em Santana do Ipanema e regiões sertanejas, apenas
virado uma página em branco, amarelada ou invisível às novas gerações.
CASARÃO DO PADRE BULHÕES: ÚLTIMOS ESTERTORES. (FOTO:
B. CHAGAS/LIVRO 230).
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