VIRADA NO CÃO (Clerisvaldo B. Chagas. 18.12.2009) Dois Riachos é uma pequena cidade sertaneja alagoana situada no Sertão. Foi planejada...

VIRADA NO CÃO

VIRADA NO CÃO

(Clerisvaldo B. Chagas. 18.12.2009)

Dois Riachos é uma pequena cidade sertaneja alagoana situada no Sertão. Foi planejada para ser cidade, quando aconteciam os trabalhos de rodagem da BR-316. A primeira ponte na BR sobre o riacho Dois Riachos foi o marco da sua fundação. Atualmente a ponte não faz mais parte da BR-316, mas foi conservada e continua servindo na periferia, sendo uma relíquia e peça de museu a céu aberto. Adquirindo terras de Santana do Ipanema e de Major Isidoro, o antigo povoado Garcia, passou à condição de município de acordo com a lei estadual Nº 2238 de 7 de junho de 1960, desmembrando-se de Major. O que mais chama atenção em Dois Riachos ─ cidade com mais de 10.000 habitantes e situada a 245 metros de altitude ─ é sua feira de gado. Apresentada semanalmente entre o riacho de origem e a BR-316, a feira tornou-se a segunda do Nordeste nesse tema. Já foi motivo de várias reportagens e é hoje importante fonte de pesquisa econômica e social do povo sertanejo. Mantendo sua tradição pecuarista, o município conta anualmente com uma festa de vaquejada que atrai autoridades de Alagoas e pessoas de várias partes do Nordeste. Como orgulho maior, a cidade exibe agora uma faixa permanente na entrada, exaltando a jogadora melhor do mundo, sua ilustre filha Marta.
E por falar em Marta, quem assistiu Brasil X China, na noite da última quarta-feira, teve o prazer de verdadeiro espetáculo. Primeiro foi a própria China quem proporcionou a satisfação, por ser um país asiático com futebol e pessoas características. Depois a própria vontade de vê o futebol feminino se desdobrando. Diga-se com sinceridade, o Brasil não foi essa coisa toda no primeiro tempo; mas no segundo foi. Um espetáculo para macho nenhum botar defeito. Dois Riachos deve ter ficada eufórica diante da telinha vendo sua filha famosa fazendo misérias em campo. Cristiane foi um espetáculo à parte nessa partida do “Torneio Internacional Cidade de São Paulo”. A bonita jogadora está “comendo” a bola. Retranca chinesa no primeiro tempo, ousadia no segundo para assegurar a vaga na final, a China apenas valorizou a vitória brasileira. Com Marta fazendo dois gols (sendo um de pênalti) e Grazielle um, o Brasil fica mais fortalecido no Torneio. Quanto a Marta, deve ter enchido de mais orgulho os riachenses. Com jogadas espetaculares e encantadoras, a camisa 10 deve ter afastado de uma vez por todas a discriminação que rondava o futebol feminino. Uma Pelé de verdade. E usando a nossa expressão sertaneja nordestina emprestada à novela, estava VIRADA NO CÃO!

CONSCIENTIZAÇÃO (Clerisvaldo B. Chagas. 17.12.2009) Iniciando devagar igualmente às nascentes de um rio, foi surgindo à consciência ecol...

CONSCIENTIZAÇÃO

CONSCIENTIZAÇÃO
(Clerisvaldo B. Chagas. 17.12.2009)

Iniciando devagar igualmente às nascentes de um rio, foi surgindo à consciência ecológica no mundo. Pequenos movimentos ilhas começavam a ocupar minúsculos espaços nos jornais. Outras fontes de resistência foram aparecendo e como os pequenos afluentes, foram engrossando o todo que desembocou nas grandes reuniões de cientistas. Daí em diante foi como uma explosão que atingiu em cheio a sensibilidade ecológica adormecida. Os constantes alertas sobre uma hecatombe climática no planeta não está deixando mais ninguém quieto. Todos os meios sociais falam do assunto, principalmente nas escolas do governo e particulares. Ninguém quer ficar fora dessa onda boa para salvar o mundo em que vivemos.
Agora temos a “Conferência das Nações Unidas Sobre Mudanças Climáticas” na Dinamarca. Estão ali, além de representantes do mundo inteiro, várias ONGS, ativistas, jornalistas, pesquisadores e inúmeros curiosos vindos de todos os recantos do planeta. Mesmo sendo um país organizado, a emoção toma conta da desordem formada por uma multidão. De qualquer maneira, chegando ou não a um grande acordo, passos importantíssimos para a humanidade já foram dados. É a ocasião, inclusive, de muita gente aparecer, do famoso ao anônimo. Confusões, brigas, zoadas e cassetetes, mas com objetivos. Após essa conferência, seja como for, o mundo não será mais o mesmo.
A Dinamarca, cuja capital é Copenhague, está situada no Norte da Europa, na península da Jutlândia, banhada pelos mares Báltico e Norte. Faz parte de uma monarquia constitucional com sistema parlamentar de governo. É membro da União Européia desde 1973 e da OTAN, da qual também é fundadora. A Dinamarca pratica o governo do estado do bem-estar social. É considerado o “país mais feliz e o mais pacífico do mundo, bem assim como o menos corrupto entre as nações”. São eficientes os sistemas de Educação e Saúde. Aliás, os países nórdicos da Europa são ricos e de vanguarda.
Deixando Copenhague e se voltando para o Sertão de Alagoas, infelizmente as providências estão chegando quase tarde demais. Em alguns lugares, tarde mesmo. A caatinga original está praticamente fora do mapa. O desmatamento acelerado movido pela ignorância, aliado a omissão dos órgãos governamentais, deixou o bioma em situação caótica. Mesmo que haja um grande movimento de recuperação da caatinga, tudo indica, não escaparemos da catastrófica desertificação. Como já falamos dezenas de vezes, nós sertanejos somos os últimos a receber as novidades do progresso. Em Alagoas ─ continuamos a afirmar ─ os benefícios somem antes de descer a ladeira de Satuba rumo ao Sertão. Sempre foi assim. Não sabemos se sempre será.
Copenhague está distante. Nosso Sertão muito presente; sem onça, sem tamanduá, sem peba... Sem tatu. A bicharada foi extinta pelo desmatamento. Torcemos para que os gritos lançados na Dinamarca alcancem o Nordeste, Alagoas, o Sertão velho abandonado à própria sorte. CONSCIENTIZAÇÃO.

O NARIZ DE BERLUSCONI (Clerisvaldo B. Chagas. 16.12.2009) Certa feita Lampião caminhava em território baiano. Uma seca das maiores cast...

O NARIZ DE BERLUSCONI

O NARIZ DE BERLUSCONI

(Clerisvaldo B. Chagas. 16.12.2009)

Certa feita Lampião caminhava em território baiano. Uma seca das maiores castigava tudo. O bando enfrentava altíssima temperatura, levando o “Rei do Cangaço” ao desespero. Não suportando mais o calor contínuo e infernal, Virgulino jogou sua arma ao solo e pronunciou enraivecido: “Tomara que não chova mais nunca!”. Um dos grandes que marchava ao seu lado ─ cangaceiro Labareda ─ recriminou imediatamente o chefe, graças ao prestígio que desfrutava: “Não diga uma coisa dessas, capitão. Isso ofende o Nosso Senhor Jesus Cristo”. Virgulino refletiu com rapidez e aceitou na hora a censura do seu famigerado Ângelo Roque.
Quando eu era menino, minha mãe costumava comprar bananas a um homem feio de voz rouca, nas feiras dos sábados. Ele havia feito precisamente o contrário do ato de Lampião. Aborrecido com chuva demais em sua lavoura, o indivíduo pensava atingir Jesus Cristo dando um tiro na chuva. Dizem que por esse motivo ficou com aquele aspecto horrível que chamava atenção.
As duas histórias diferentes traduzidas pelo povo asseguram uma ofensa a Deus por atos e intenção. O caso do primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, parece com os dois exemplos, sendo muito mais pesado ainda. Ofensas contra Deus e contra o povo; inclusive orgias sexuais repetidas por Berlusconi, são mostradas constantemente pela internet. Formas de desprezo à sociedade em que governa. As gafes, à indiferença a outros chefes de estado, indicam um parafuso a menos ou a mais na cabeça do primeiro-ministro. Lembro-me de uma crítica antes da sua posse que dizia que a Itália estava sem opção. Os outros candidatos seriam piores que Berlusconi. Está aí a falta de opção.
O desavergonhado proceder de dirigentes pode chegar a um ponto perigoso. O episódio da estatueta arremessada por Massimo Tartaglia, apenas reflete a reação do povo sem mais paciência pelas presepadas nocivas do seu ministro. Paciência tem limite. O resultado do ataque de Tartaglia foi o nariz quebrado e dois dentes fora com escoriações no rosto do primeiro-ministro. Não sabemos se existiu também dor moral. Caras-de-pau não tem sentimento. Eles são colhidos, presos, ridicularizados. Tempos depois ressurgem diante das multidões como se fossem os heróis da pátria, Superman, Batman... Homem-aranha.
Nada justifica a violência. Para questões existe a Lei que deve ser respeitada por todos. Mas provocar as massas pode ser exceção como no caso italiano. Se a moda pega no Brasil, todos os dias teríamos dentes voando, escoriações faciais e ventas estatuetadas, mais ou menos como O NARIZ DE BERLUSCONI.