PONTOS OBSCUROS Clerisvaldo B. Chagas, 7 de junho de 2011.           Entre as praças santanenses, destaca-se como a principal, devido ao t...

PONTOS OBSCUROS

PONTOS OBSCUROS
Clerisvaldo B. Chagas, 7 de junho de 2011.

          Entre as praças santanenses, destaca-se como a principal, devido ao tamanho e localização, a denominada Cel. Manoel Rodrigues da Rocha, construída defronte a Igreja Matriz de Senhora Santa Ana. Ainda sob a arquitetura da primeira reforma da igreja em 1900, pela batuta do padre Manuel Capitulino de Carvalho, a cidade ganha em 1931, esse logradouro pelo primeiro interventor municipal Frederico Rocha 1930-31. De início, o espaço recebeu o nome de João Pessoa, sendo reformado algumas poucas vezes, mas trazendo o nome novo de Manoel Rodrigues, chegando assim até os dias atuais.
          Tangido de Águas Belas pela prepotência do coronel Constantino, o sapateiro Manoel Rodrigues estabeleceu-se em Penedo onde trabalhou na curtição de couro. Prosperava e mantinha contato com pessoas influentes da região. Ampliou seus negócios para as margens sergipanas do rio São Francisco e casou pela primeira vez, cuja esposa faleceu prematuramente. Manoel Rodrigues conheceu e casou com a professora Maria Izabel Gonçalves Lima, moça prendada de Sergipe, em 11 de outubro de 1898. Com os negócios prosperando, resolveu abrir um entreposto na vila de Sant’Ana do Ipanema. Depois, notando que o negócio estava mal administrado, mudou-se definitivamente para Sant’Ana, em 1901, ampliando suas atividades em curtição de couro, beneficiamento de algodão, agropecuária e comércio com loja de tecidos e miudezas.
          Ainda pela memória do doutor Hélio Cabral, desfaz-se o mistério da construção dos três mais pujantes prédios da vila que resistiram às reformas da cidade, excluídos o “prédio do meio da rua” e o “sobrado do meio da rua”, demolidos na gestão Ulisses Silva, gestão 1961-65. Manoel Rodrigues construiu e morou no prédio onde por muito tempo funcionou a biblioteca pública, no comércio, ainda hoje original com o monograma MRR e estátua dedicada a Mercúrio, no frontispício. Construiu também o enorme prédio, vizinho, lado esquerdo, da Matriz de Senhora Santa Ana, que marcou a cidade muito tempo como o “Hotel Central” de Maria Sabão. A biblioteca pública chegou a funcionar ali por algum tempo. E, por fim, Manoel Rodrigues da Rocha construiu seu terceiro casarão na vila, defronte a Igreja Matriz, mas no lado oposto da praça que mais tarde levaria o seu nome. Mudou-se do primeiro para este em 1916 (gestão municipal do padre Manuel Capitulino de Carvalho) e ali passou cerca de quatro anos, pois faleceu em 5 de maio de 1920.
          Sem ser político, apenas com seu prestígio civil e solidez econômica, tornou-se Coronel da Guarda Nacional. Muito fez por Santana do Ipanema, hospedando e comungando ideias com vultos importantes como Delmiro Gouveia e governadores do estado. Na política, mandava os Gonzaga, transferindo o mando para o padre Capitulino que foi intendente. Mas na época, a força moral do Coronel Manoel Rodrigues da Rocha, combinava com o modo de ser e o prestígio do professor e chefe político, coronel Enéas Araújo. Importantes são os documentos para esclarecer PONTOS OBCUROS.

MULHER BELA E VAQUEJADA Clerisvaldo B. Chagas, 6 de junho de 2011. Um boi brabo que rompe os matagais Bem distante às léguas das restingas...

MULHER BELA E VAQUEJADA

MULHER BELA E VAQUEJADA
Clerisvaldo B. Chagas, 6 de junho de 2011.

Um boi brabo que rompe os matagais
Bem distante às léguas das restingas
Senhor absoluto das caatingas
Rompedor de madeira e espinhais
Um cavalo nos quentes carrascais
Repentistas no solo genuíno
No cabelo perfume doce e fino
Da gostosa na cama madrugada
Mulher bela repente e vaquejada
Correm dentro do sangue nordestino

No trançado maldoso da favela
Ou nas unhas de gato nos gibões
O vaqueiro se eleva nos sertões
Sem tirar do juízo o nome dela
Pela tarde o encontro na cancela
Sob o Sol escaldante peregrino
Um vestido delgado e opalino
Transparente na moça apaixonada
Mulher bela repente e vaquejada
Correm dentro do sangue nordestino

No Sertão vale ouro a brincadeira
Um café um cigarro um tempo quente
Um cavalo um aboio uma aguardente
O momento infeliz da “saideira”
A viola que age mensageira
Uma noite a amante o desatino
Lábios doces de mel e de quinino
Que transformam o sujeito em quase nada
Mulher bela repente e vaquejada
Correm dentro do sangue nordestino

Um circuito, cavalos e chapéus
Garrotes carreiras campeões
Locutores cervejas repuxões
Vaqueirama repentes e troféus
Se é noite estrelas sob os céus
E a ronda de vulto feminino
Igualmente a Maria e Virgulino
Sai gemido na noite enluarada
Mulher bela repente e vaquejada
Correm dentro do sangue nordestino.

                                             FIM

LAMPIÃO, CACHIMBOS E CORONÉIS Clerisvaldo B. Chagas, 3 de junho de 2011.        Há mais de duas décadas, líamos a literatura cangaceira qu...

LAMPIÃO, CACHIMBOS E CORONÉIS

LAMPIÃO, CACHIMBOS E CORONÉIS
Clerisvaldo B. Chagas, 3 de junho de 2011.

       Há mais de duas décadas, líamos a literatura cangaceira quando uma coisa nos chamou atenção. Havia poucos policiais e muito espaço para cangaceiros. Para reforçar suas perseguições aos bandidos das caatingas, o governo aceitava civis agregados às forças policiais denominadas “Volantes”. A maioria desses civis era oriunda de fazendas de poderosos fazendeiros chamados coronéis, ou pela Guarda Nacional ou pelo poder aquisitivo. Cada um desses coronéis possuía homens armados na fazenda chamados, conforme a região, de jagunços, cabras, capangas ou meninos. A cabroeira servia, principalmente, para os confrontos raivosos entre os próprios coronéis. De vez em quando, parte dessa cabroeira era anexada à força volante no reforço à perseguição aos cangaceiros. O reforço desses homens às volantes dependia do interesse particular do coronel, do governo ou de ambos. Quando assim acontecia, esses capangas eram chamados pelas volantes de “contratados” e, pelos cangaceiros, pejorativamente de “cachimbos” (assim como atualmente são designados os “chumbetas”). Segundo Lampião, um desses coronéis que sempre mandavam contratados contra si era o Zé Rodrigues, de Piranhas, Alagoas.
          Ficamos muito tempo sem saber quem era na verdade Zé Rodrigues ─ um homem tão falado ─ e por que àquelas ações constantes em enviar “cachimbos” contra Virgulino Ferreira. Só agora de volta à ordem dos alfarrábios, encontramos por acaso duas respostas e duas novas perguntas. Descobrimos no pequeno livro “Os coronéis do sertão e sertão do São Francisco alagoano”, de Hélio Rocha Cabral de Vasconcellos que Zé Rodrigues era chamado coronel José Rodrigues de Lima, morava em Piranhas em luxuoso sobrado. Fora acusado de envolvimento na morte de Delmiro Gouveia e em atentado à vida do coronel Lucena Maranhão, verificado no dia 06 de abril de 1927. José Rodrigues foi assassinado quase em seguida, na calçada da igreja do Livramento, em Maceió, no dia 28 de agosto de 1927 (mesmo dia em que o governador Costa Rego lhe prometera proteção) e sepultado em Maceió, segundo Hélio Cabral de Vasconcellos. Essa foi à primeira resposta. A segunda, encontramos na papelada, foi saber que Lampião, antes, atacara a sua fazenda, daí o envio de “cachimbos” para persegui-lo. Agora as duas novas perguntas: Segundo ainda o mesmo autor acima, Zé Rodrigues era mau. Mas por que existe até hoje em Piranhas um silêncio em torno do seu nome se ele, bom ou mau, teve importância na história do Sertão do São Francisco e do cangaço? Segunda nova pergunta: por que Lampião atacara à fazenda do coronel José Rodrigues de Lima, se ele queria dinheiro, armas, munição e proteção dos coronéis?
          Se você, leitor, é um pesquisador sério e tem as respostas, escreva para o nosso e-mail que publicaremos nesse espaço. Pode publicar também de outra forma, para o nosso conhecimento e dos leitores aficionados em LAMPIÃO, CACHIMBOS E CORONÉIS.