A TERRA DA MÃE DE DEUS Padre Cícero (III) série de 4 crônicas Clerisvaldo B. Chagas, 6 de agosto de 2014 Crônica Nº 1.234 Pa...

A TERRA DA MÃE DE DEUS



A TERRA DA MÃE DE DEUS
Padre Cícero (III) série de 4 crônicas
Clerisvaldo B. Chagas, 6 de agosto de 2014
Crônica Nº 1.234

Parte do Círculo da Mãe de Deus.
O homem havia participado da Sedição do Juazeiro a favor do padre Cícero Romão Batista. Lá na região da ribeira do Capiá, alto sertão de Alagoas, contava os casos acontecidos no Juazeiro do Norte, com detalhes. Entre eles falou o seguinte:
Jagunços defensores do Juazeiro.
Quando o padrinho soube que o governo ia atacar o Juazeiro, riscou no chão o lugar para se construir uma trincheira. Quando foi feita a defesa, ele disse que ao sermos atacados era para todos se defenderem sem sair do risco que ele havia feito. Os que estavam dentro do círculo estavam na “terra da mãe de Deus”, portanto, garantidos. Aconselhou a ninguém sair de dentro da sua marca. Ora, a briga começou e nós só se defendendo da tropa que queria tomar o Juazeiro e prender meu padrinho. Naqueles meios, lá vinha um cabra atacando com um chapéu de couro muito bonito, na cabeça. Aquele chapéu brilhava muito e chamou atenção de todos nós da trincheira. Na refrega, o cabra tombou assim pertinho de nós, uns dez ou 15 metros.  Um sujeito que brigava do nosso lado cresceu os olhos em cima do chapéu do cabra, foi arrancar e roubar o chapéu do defunto. Esse ficou estirado lá mesmo. Quando os atacantes debandaram, meu padrinho Cicero percorreu o círculo indagando se tinha morrido alguém. Mostraram o defensor morto e contaram o caso. O padrinho Cícero falou: “Eu não avisei que não saíssem da terra da mãe de Deus?”.
Floro comanda jagunços e romeiros.
A organização armada de defesa pertencia ao médico baiano Floro Bartolomeu da Costa que havia chegado ao Ceará em 1908, onde depois fixou residência em Juazeiro do Norte. Adquiriu farmácia e passou a atender à população como médico e como rábula. Ficou amigo do padre e o incentivou a ingressar na política, visto que o Vaticano suspendera suas ordens religiosas.
Quando o governador Franco Rabelo foi deposto, Floro foi eleito deputado estadual e, posteriormente, deputado federal.
Floro exerceu grande influência sobre o padre Cícero e sempre o defendeu tanto das investidas da Igreja quanto dos planos negativos do governo central. Foi um forte personagem na história do Cariri e do Ceará.
Em 1926 iria organizar o Batalhão Patriótico para combater a Coluna Prestes e convidar Lampião para integrá-lo, usando falsamente o nome do padre Cícero Romão Batista.
* continua amanhã.





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A SEDIÇÃO DO JUAZEIRO (Padre Cícero (II) série de 4 crônicas) Clerisvaldo B. Chagas, 5 de agosto de 2014 Crônica Nº 1.233 D...

A SEDIÇÃO DO JUAZEIRO




A SEDIÇÃO DO JUAZEIRO
(Padre Cícero (II) série de 4 crônicas)
Clerisvaldo B. Chagas, 5 de agosto de 2014
Crônica Nº 1.233

DEPUTADO FLORO BARTOLOMEU E PADRE CÍCERO.
As desastradas fórmulas da chamada República Velha, fizeram com que acontecesse uma revolta no sertão cearense e que ficou na história como “A Sedição do Juazeiro”. Governava o país, Hermes da Fonseca, sobrinho do Marechal Deodoro, entre 1910 e 1914 quando nesse último ano a revolta foi gerada. Era a intervenção do governo central na política dos estados.
Querendo ampliar o mando da situação e impedir que opositores ocupassem cargos importantes como governador, Hermes criou a “política das salvações” para interferir nos estados contra seus opositores. O presidente apoiava as oligarquias estaduais em troca de apoio à Presidência.
No Ceará, Hermes da Fonseca procurava impedir o acesso das oligarquias de oposição ao governo do estado. O senador gaúcho José Gomes Pinheiro Machado liderava essas oligarquias. As medidas do presidente Hermes, causaram insatisfação nos políticos daquele estado.
Desde 1911 que havia uma disputa entre o padre Cícero e o presidente porque o padre queria manter a família Acioly no poder. Entretanto, em 1912, o presidente retirou os Acioly do comando. Nessa época o padre Cícero ocupava o cargo de prefeito do Juazeiro e de vice-governador do estado.
O interventor nomeado, Coronel Marcos Franco Rabelo, em 1914 começou a perseguir o padre Cícero. Destituiu o sacerdote dos dois cargos políticos e ordenou sua prisão. Os grupos oligárquicos revoltaram-se fazendo com que Floro Bartolomeu liderasse um batalhão formado por jagunços e romeiros em defesa do padre Cícero.
Franco Rabelo envia uma expedição para prender o padre Cícero. No Juazeiro do Norte, porém, havia sido construída uma trincheira em redor da cidade em apenas sete dias e que recebeu o nome pelo sacerdote de “Círculo da Mãe de Deus”. Houve vários combates, sempre com a vitória dos revoltosos. As tropas do governo retornaram à Fortaleza em busca de reforço. Floro Bartolomeu foi ao Rio de Janeiro em busca de apoio de Pinheiro Machado. Enquanto isso, os revoltosos partiram para Fortaleza e depuseram o governador Franco Rabelo.
O jeito que houve foi o presidente Hermes da Fonseca convocar novas eleições para o governo do Ceará. Ficou no cargo Benjamim Liberato Barroso e o padre Cícero retornou ao cargo de vice-governador do estado.
* Continua amanhã.


O SONHO DO PADRE CÍCERO (Padre Cícero (I) série de 4 crônicas) Clerisvaldo B. Chagas, 5 de agosto de 2014 Crônica Nº 1.232 ...

O SONHO DO PADRE CÍCERO




O SONHO DO PADRE CÍCERO
(Padre Cícero (I) série de 4 crônicas)
Clerisvaldo B. Chagas, 5 de agosto de 2014
Crônica Nº 1.232

Juazeiro do Norte, antiga. (Foto: Portal do Juazeiro).
Juazeiro, antigas. (Fotos: Portal do Juazeiro).
Após a sua ordenação, o novo padre permaneceu no Crato, aguardando o seu destino. Convidado para visitar um lugarejo chamado Juazeiro, pelo professor Simeão Correia de Macedo, o padre celebrou ali a missa do galo no Natal de 1871. Os habitantes dos ermos do Cariri ficaram impressionados com aquele jovem de 28 anos, olhos azuis, cabelos louros e voz melodiosa. A empatia também atingiu Cícero que, poucos meses depois, em 11 de abril de 1872, estava de volta com família e bagagem disposto a fixar residência no lugar.
Naquele lugarejo o padre, certa feita, fora descansar após um dia inteiro de confissões. O descanso fora num quarto contíguo à sala de aulas da escolinha onde improvisaram seu alojamento. Ao pegar no sono, Cícero teria tido uma visão que, depois, contada por ele, passou a fazer parte de vários livros a seu respeito. Viu Jesus Cristo e os doze apóstolos na mesma disposição da pintura “A Última Ceia” de Leonardo da Vinci. “De repente entra uma multidão carregando suas trouxas como os retirantes nordestinos. Cristo vira-se para aquele povo e fala sobre sua decepção com a humanidade, mas disse estar disposto ainda a fazer um último sacrifício para salvar o mundo. Porém, se os homens não se arrependessem depressa, Ele acabaria com tudo de uma vez. Naquele momento, Ele apontou para os pobres e, voltando-se inesperadamente ordenou: ─ E você, padre Cícero, tome conta deles!” Alguns livros falam que foi por essa razão que o padre resolvera fixar-se por ali.
O minúsculo arraial de casas de taipa tinha uma pequena capela erigida em honra a Nossa Senhora das Dores, padroeira do lugar, pelo primeiro capelão, padre Pedro Ribeiro de Carvalho. Cícero, com a cooperação geral, procurou melhorar o aspecto daquele templo.
O padre soube conquistar o povo com visitas, conselhos e pregações além de moralizar os costumes acabando com excesso de bebedeiras e com a prostituição.
Após essas iniciativas nunca vistas antes, muita gente vinha das redondezas para conhecer o novo capelão e ficavam morando por ali.
Cícero convocou, então, mulheres solteiras e viúvas e organizou uma irmandade leiga formada por beatas.
Ainda não havia acontecido o célebre milagre da hóstia.
O padre nascera em 24 de março de 1844 e se ordenara em 30 de novembro de 1870.
* Continua amanhã.