AGRESTE E SERTÃO         Clerisvaldo B. Chagas, 23 de agosto de 2016 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica 1.565 Foto: (ga...

AGRESTE E SERTÃO

AGRESTE E SERTÃO
        Clerisvaldo B. Chagas, 23 de agosto de 2016
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.565

Foto: (galeriaporão - Gustavo Epifânio).
Quem mergulha numa benfazeja viagem pelo Sertão e Agreste de Alagoas, descobre um mundo histórico e paisagístico. Sertão da força do Coronel Delmiro Gouveia, primeiro homem a possuir automóvel no estado. Pioneiro da hidrelétrica e da estrada de rodagem, Delmiro também introduziu a palma forrageira na região, trazida da Califórnia. Furando mundo pela Depressão Sertaneja e do São Francisco, contemplamos o verde pálido do mau inverno. Capoeiras e mais capoeiras sucessoras dos cedros, angicos e pereiros, vítimas da brutalidade dos machados. Nas croas das serranias ainda o resto do bioma caatinga como a esperar à investida humana a qualquer momento. No lombo suave das montanhas, registros não cicatrizados do desmatamento. O rasga-beiço, velame, a urtiga, revigoram-se nas baixadas onde o esvaziamento do campo permitiu a volta da passarada.
E no Médio Sertão, o imenso descampado sinaliza com escuros juazeiros, partidos da palma melhorada ou o rigor sem roupa do solo avermelhado. Até as palhas do ouricuri, sofrem com a investida indígena das caieiras.
Apresentam-se para o viajor as primeiras terras do Agreste. Quase nunca se pergunta que monte é aquele, sucessivo e tão bonito. Os problemas internos têm prioridade sobre a Natura. E assim passa despercebida a serra do Japão, lugar de vaquejadas que ilustram bem o perímetro de Folha Miúda. Bela sim, mas também desbastada e devastada escondem-se de vez toda a vegetação original. É preciso perscrutar bastante para não fazer feio e trazer na foto alguma representação de verdadeiro Agreste. Talvez por ali pela serra das Mãos, Junqueiro ou Priaca...
Sem a análise de quem se liga aos cenários agredidos, passear sem compromisso pelo Sertão e Agreste de Alagoas é extremamente gratificante. Suas paisagens, gastronomia e hospitalidade vão tecendo a própria história de quem viaja. Tanto faz as alturas de Água Branca e Mata Grande, as planuras de Canapi, São José da Tapera, Ouro Branco ou as praias doces de Piranhas, Pão de Açúcar e o morro de Belo Monte.
O Agreste é um mundo à parte onde tudo tem. Para quem não o conhece, basta apressar o cavalo.



AUMENTE O SARRAFO Clerisvaldo B. Chagas, 22 de agosto de 2016 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica 1.564 FOTO DIVULGAÇÃO....

AUMENTE O SARRAFO

AUMENTE O SARRAFO
Clerisvaldo B. Chagas, 22 de agosto de 2016
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.564

FOTO DIVULGAÇÃO.
Meu pai costumava ilustrar suas lições indiretas e suaves de fé em Deus e dignidade. Não lia tanto quanto eu, mas aproveitava cem por cento o que havia lido. Não demorava muito para que a sua novo leitura tivesse um destino certo, pois quase sempre caía sobre o galego afogueado. E foi assim que ele falou sobre dois montanhistas em cima da serra, surpreendidos pela nevasca. Ambos trataram de descer imediatamente, mas iam sentindo cada vez mais dificuldades crescentes. O tempo piorava. Rogavam a Deus constantemente e deslizavam pela corda. Já exaustos, sem conseguirem enxergar mais nada, apelaram para Deus novamente. Uma voz chegou até eles dizendo: “cortem as cordas!”. Um deles não quis cortar as cordas e morreu congelado. O outro cortou as cordas quando caiu e notou que estava apenas a um metro do solo. Escapou.
Lembrei a lição assim que fui surpreendido por um fato inédito nas Olimpíadas. Particularmente escolhi o “meu herói” olímpico pela sua coragem, tirocínio e dignidade. Sem alternativa na busca do ouro, o jovem Thiago Braz deparou-se com um possível empate, uma prata ou um nada. Veio-lhe de repente um daqueles pensamentos históricos de Napoleão Bonaparte: “Aumentem o sarrafo!”. Uma coisa jamais vista numa Olimpíada, surpreendeu o mundo. E o francês... O francês campeão que se achava o máximo e desdenhava o brasileiro, morreu duas vezes na descida inglória.
E nós, tristes moradores de Deus, vamos seguindo na passividade de sempre; aguardando que os ladrões indiquem o caminho pátrio em que devemos seguir. Pobre povo brasileiro, driblado o tempo todo entre a corrupção, a “gang” engravatada e a injustiça. Onde está a coragem para cortar a corda?


A LENTIDÃO DAS PROVIDÊNCIAS Clerisvaldo B. Chagas, 20 de agosto de 2016. Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica 1.563 ILUST...

A LENTIDÃO DAS PROVIDÊNCIAS

A LENTIDÃO DAS PROVIDÊNCIAS
Clerisvaldo B. Chagas, 20 de agosto de 2016.
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.563

ILUSTRAÇÃO (agricultura.gov.).
Desde o título de “Terra dos Carros de Boi” – escrito ainda hoje de várias maneiras – na era de 1960, que esse tipo de veículo tomou novo rumo. Completamente modificado no seu aspecto de vila, Santana do Ipanema demoliu o cenário antigo, em relação aos prédios do meio da rua e o calçamento de pedra bruta. Proibido de rodar com aros de ferro, para não desgastar os paralelepípedos, o carro de boi ressurgiu com rodas de pneus, usando a surpresa da criatividade. Todo o Sertão foi aproveitando à moda e alguns desses veículos foram chegando apenas até os arredores das cidades. As fazendas ainda usam o primitivo carro, que coalhavam as areias do rio Ipanema.
Na busca em dia de feira, ficamos de queixo caído, sem encontrar um único carro de boi em todos os recantos de Santana. Durante a festa da Padroeira surge a Procissão dos Carros de Boi, com cerca de 1.500 veículos chegados de vários municípios. Vamos procurar, então, o rumo das propriedades rurais. Enquanto isso, fomos à famigerada “Ponte do Urubu”, área central, válvula de escape do trânsito e desprezada pelas autoridades.
Estão ali às carroças de aluguel, puxadas por burras treinadas e compradas na região de Palmeira dos Índios. O burro de sela e de carga também vai desaparecendo na região, tendo a motocicleta, principalmente, como substituta. Somente a fêmea dos muares guia as duas rodas.
O maltrato aos animais puxadores de carroças, estão em todos os quadrantes sertanejos. Reina o vício de bater constantemente sem motivo, usado pelo carroceiro desde o adulto sóbrio, bêbado e ignorante até filhos menores condutores enraivecidos. Não surge uma só pessoa, um delegado, um juiz, um promotor, ninguém, absolutamente ninguém para abolir o relho escravagista e punir rigorosamente a esse desafio desrespeitoso e criminoso que afronta à sociedade.
Ê, meu Pai do Céu! Olhai para esse sertão velho sem porteira!