XAXANDO FEIJÃO Clerisvaldo B. Chagas, 26 de fevereiro de 2021. Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.478   Na região do...

 

XAXANDO FEIJÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 26 de fevereiro de 2021.

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.478



 

Na região do semiárido o sertanejo não perde tempo. Mal chegaram as trovoadas em pleno mês de fevereiro, notamos a grande animação nos roçados, através das novas tecnologias. São dezenas e dezenas de vídeos na Internet mostrando a alegria sertaneja em relação ao campo. Agricultores cortando terras, plantando feijão e milho, tangendo gado pelos campos imensamente verdes e até mesmo xaxando o feijão.  Xaxar em nosso torrão é fazer uma das limpezas no feijoeiro, geralmente à base da enxada. Consiste em limpar os arredores do pé de feijão e ao mesmo tempo puxar a terra do entorno para os vegetais. Esse movimento faz um ruído característico da enxada na terra, um onomatopaico xá, xá, xá...

Daí ter se criado o termo “xaxá feijão”, isto é, ouvir o som da enxada na terra: xá, xá, xá...

No sertão de Alagoas, grande parte dos que cultivam o feijão e o milho, trabalha ainda no sistema arcaico do arado.  Um cidadão guiando uma parelha de bois ou garrotes puxa o arado enquanto outro homem denominado rabisqueiro equilibra atrás esse mesmo arado em terreno fofo ou pedregoso. A necessidade mexe com as ideias e tem gente utilizando até cavalo e jumento no lugar das parelhas bovinas. Tem agricultor usando lanterna adaptada à cabeça e outra adaptada à barriga para o trabalho de semeadura à noite e não perder tempo nessa época do plantio. Até mesmo para xaxar o feijão, teve agricultor inovando fazendo esse serviço que é individual com enxada, agora utilizando um jumento nas carreiras entre os feijoeiros adaptando uma enxada ao arado, puxado pelo animal asinino. O jegue não pisa nos pés de feijão e usa uma espécie de burga no focinho para não comer a lavoura ainda verde.

Pelo jeito, o sertanejo alagoano continua o preceito do padre Cícero Romão Batista quando o sacerdote mandava plantar assim que chovesse, sem esperar época fixa para esse fim.

Vem por aí boa quantidade de feijão-de-corda para vender e ser devorado com galinha de capoeira e manteiga de garrafa, compadre! Aprecia? Aguardemos.

Euforia geral no Sertão! Bênçãos merecidas.

ROÇADO DE FEIJÃO (CRÉDITO: PIXABAY).

  CABAÇAS E CABACEIROS Clerisvaldo B. Chagas, 25 de fevereiro de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.477   Foi bom...

 

CABAÇAS E CABACEIROS

Clerisvaldo B. Chagas, 25 de fevereiro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.477

 









Foi bom saber que o modernismo, não conseguiu extinguir por completo o plantio e uso da cabaça, fruto do cabaceiro. Até mais da metade do século passado, os sertões nordestinos usavam com bastante espontaneidade esse fruto plantado que nasce e se estira em ramas, igualmente à melancia. Feita a limpeza interior, a cabaça é utilizada para inúmeras tarefas domésticas. São elas de todos os tamanhos. Serve para transportar água dos barreiros para casa e também utilizadas como cantil nas longas viagens sertanejas. Mantém a água sempre fria em qualquer temperatura ambiental. Quando pequena, serve para guardar pólvora para espingarda tipo “soca-tempero”. São bastante usadas como boias amarradas à cintura de quem estar aprendendo a nadar.

A cabaça foi muito utilizada em forma de cuia pelos mendigos. E ainda em forma de cuia, utensílio usado nos barreiros para apanhar água. Foi bastante útil no passado como medida no comércio de farinha. “Uma cuia, duas cuias... De farinha. No Rio Grande do Sul a cabaça é chamada de Porongo, utilizado para cuia de chá mate. A industrialização e a popularidade do plástico, tornaram mais fáceis de se obter utensílios domésticos e consequentemente o desestímulo ao plantio do cabaceiro.

Em Alagoas temos a cidade de Coité do Noia e, coité é uma cuia da cabaça. Em Santana do Ipanema, temos na zona rural o sítio Cabaceiro, provavelmente antigo produtor de cuias e cabaças. O nome cabaça também era usado no masculino, mas infelizmente a criatividade humana o associou a virgindade feminina. “Arrancar o cabaço”, linguagem chula que significa tirar a virgindade, romper o hímen.

Documentos tricentenário sobre terras no sertão alagoano, registram o “riacho dos Cabaços”, no alto Sertão, como marco de sesmaria.

Foi gratificante para o sertanejo a exibição em vídeo de uma grande safra de cabaças no estado de Goiás. Destino: cuia de chimarrão.

Não temos informações, todavia, de alguma cultura na zona rural de Santana do Ipanema, hoje.  Aliás, o tempo muda, o produto escasseia, mas o sítio Cabaceiro continua testemunhando as etapas inexoráveis da história.

SAFRA DA CABAÇAS (CRÉDITO: PINTEREST).

 

  PARQUE DE VAQUJADA/CENTRO BÍBLICO Clerisvaldo B. Chagas, 24 de fevereiro de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.476 ...

 

PARQUE DE VAQUJADA/CENTRO BÍBLICO

Clerisvaldo B. Chagas, 24 de fevereiro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.476

 


No momento em que a Igreja também dá uma pausa nas suas atividades, devido a Pandemia que assola o mundo, passamos defronte ao Centro Bíblico de Santana do Ipanema, notando uma solidão de deserto nas ruas do entorno. Situado no Bairro Camoxinga, mais ou menos por trás do Estádio Arnon de Melo, o lugar, ainda sem habitações, não passava de uma pista de corrida de mourão com o nome de Parque Bela Vista pertencente ao Dr. Dalmário Nepomuceno Gaia. Alguns o chamavam de Parque de Vaquejada, onde a pega de boi na pista divertia o povo. Vendida depois, aquela área de terra passou a ser loteada e atualmente representa uma área residencial bastante concorrida. Foi ali erguido o Centro Bíblico, um lugar de estudos e ações católicas que atingiu o ápice tendo à frente os saudosos senhores José Vieira e José Nogueira, o primeiro, também fundador do Sindicato Rural.

Sob o comando do padre José Augusto, então, dirigente da Paróquia de São Cristóvão, o movimento bíblico tornou-se uma imensa força católica no município com movimentos produtivos e animados que atraíam multidões. Ali surgiram compositores que revolucionaram com novos cânticos para a Igreja. Após anos a fio de crescimento e vigor, o pároco José Augusto foi comandar outra paróquia na capital alagoana. Os líderes bíblicos citados acima, faleceram, o movimento arrefeceu e, o restante não sabemos contar de certo. Lugar bastante agradável, o Centro Bíblico físico continua de pé e como referência para a região onde se acha implantado.

A área em torno do antigo Parque de Vaquejada, foi valorizada pelas ruas planas, terrenos enxutos e pavimentação em paralelepípedos, mas a existência do Centro, deu atestado final à localidade. Formou-se na área uma pequena elite do poderoso bairro. Entretanto, apesar de bem localizada para moradias, as queixas mais comuns daquela região, é crucial. A chegada da água nas torneiras ainda é um grande problema, notadamente durante o verão.

Dizem que era mais fácil derrubar o boi na faixa, no tempo do Parque Bela Vista, de que chegar água todo dia no lugar onde o gado berrava.

Nem com as rezas poderosas do Centro Bíblico.

PARTE EXTERIOR DO EDIFÍCIO CATÓLICO (FOTO: B. CHAGAS)