BAIRRO PERDE O SÍMBOLO Clerisvaldo B. Chagas, 23 de abril de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.518        Na últ...

 

BAIRRO PERDE O SÍMBOLO

Clerisvaldo B. Chagas, 23 de abril de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.518

 



     Na última terça-feira (20) Santana do Ipanema perdeu um dos pontos de referência da cidade e o principal símbolo de origem de bairro. Com já foi historiado em outra crônica, vândalos derrubaram  um grupo de Cajaranas que davam nome ao lugar, na antiga rodagem, saída para Olho d’Agua das Flores. Tudo ficou por isso mesmo. O lugar tradicional “As Cajaranas”, caiu assim no anonimato histórico da cidade. Agora, por coincidência, longe dali a árvore Cajarana que deu nome as habitações da Cajarana, por trás do Hospital Clodolfo Rodrigues de Melo, tombou naturalmente, graças `a sua idade e os fenômenos da Natureza. A queda da árvore que originou o lugar Cajarana, danificou três casas vizinhas e teve, após, as ações do Corpo de Bombeiros.

Felizmente esse ponto de referência do Bairro Floresta, ficou imortalizado no livro “Negros em Santana”, de autoria nossa e parceiros. Agora só pode ser visto pela nossa foto imorredoura, pelas conversas de quem a conheceu ou pela memória dos que a vivenciaram. Cajarana (Spondias dulcis) é originária da Oceânia e, conforme a região tem outros nomes como Cajazeira, Cajá-manga e outros mais. Seu fruto é o cajá, azedo/doce, consumido in-natura e excelente para sucos, picolés e sorvetes. Sua madeira é mole e branca muito usada pelos artesãos em madeira. Em nossa juventude conhecemos o jovem filho do conhecido Ney Damasceno que fazia cabeças de piratas com o miolo da cajarana, à canivete. Uma perfeição.

Como a árvore foi cortada em pedaços, demos ideia ao Secretário da Agricultura e Meio Ambiente Jorge Santana, que oferecesse a madeira a um artesão de Senador Rui Palmeira e que tem seus trabalhos expostos na Feirinha Camponesa das sextas-feiras, em Santana do Ipanema. Lembrando também que, Cajazeira foi vulgo de um dos cangaceiros de Lampião que escapou do massacre de Angicos e chegou a ser prefeito da sua cidade, em Sergipe. O lugar Cajarana faz parte do Bairro Floresta, por trás do Hospital Clodolfo Rodrigues de Melo. É uma área muito sofrida e que recentemente foi contemplada com pavimentação em pedra. A Cajarana que lhe o título, já sofrera uma tentativa de incêndio por um morador local. Mas quis a natureza tombá-la pela idade centenária à base de chuva e ventania na parte alta da Floresta.

´CAJARANA EM PÉ (FOTO: LIVRO NEGROS EM SANTANA, B. CHAGAS). CAJARANA TOMBADA (FOTO: CORPO DE BOMBEIROS LOCAL).

 

 

 

 

  REMANSO Clerisvaldo B. Chagas, 22 de abril de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.517 ONTEM, 21 DE ABRIL FOI O DIA...

 

REMANSO

Clerisvaldo B. Chagas, 22 de abril de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.517

ONTEM, 21 DE ABRIL FOI O DIA DO RIO IPANEMA



 

Em tempos de cheias no rio Ipanema, o ponto predileto do banho era no Poço dos Homens, dividido em Estreitinho, Largo Fundo e Largo Raso. O Estreitinho era uma pequena garganta pedregosa no início do poço. Recebia as águas que por ali entravam. Era mais escondido e tinha a preferência de muitos banhistas e pescadores de anzol. O Largo Fundo, logo abaixo do Estreitinho, era aberto e mais exposto, tinha a preferência de vários banhistas e tarrafeiros. O Largo raso, vizinho e na parte de baixo, era mais usado pelas crianças e por aqueles que aprendiam a nadar. Assegurava pesca de litro para piabas.

Quanto ao movimento das águas, nós o dividíamos em Correnteza, Carneiros, Fervedouros, Panelas e Remansos.

Correnteza, o corpo mais forte das águas. Carneiro, corcovas sucessivas formadas na correnteza. Panela, forte redemoinho que funcionava como sugadouro, ao lado dos Carneiros. Fervedouro, Formação ao lado dos Carneiros com aspectos de água fervente no fogo. Remanso, retorno manso das águas nas laterais mais distantes da correnteza. Quase todos os santanenses tomavam banho no poço, até o, então, futuro governador Geraldo Bulhões. Houve muitas passagens engraçadas que foram narradas em nosso livro:” Ipanema um Rio Macho.” Bem que o Poço dos Homens merecia uma estátua de banhista anônimo nas pedras do Estreitinho. Uma bela estátua iluminada que desafiasse as cheias. Todos tinham medo das panelas, cujo redemoinho aquático podia levar o banhista ao fundo. O fervedouro paralisava os movimentos do banhista podendo levá-lo ao afogamento.

Felizmente sua memória está no livro citado acima, resgate único da maior fonte de lazer do santanense, antes da Ponte General Batista Tubino. ONTEM, 21 DE ABRIL FOI O DIA DO RIO IPANEMA.

RIO IPANEMA, SERENO (FOTO OBRA DE ARTE: JEANE CHAGAS)

 

 

  AINDA OS CASARÕES SANTANENSES Clerisvaldo B. Chagas, 21 de abril de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.516   Tu...

 

AINDA OS CASARÕES SANTANENSES

Clerisvaldo B. Chagas, 21 de abril de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.516



 

Tudo leva à década de 20 do século passado, a construção do enorme prédio do governo estadual no Bairro São Pedro.  Ficou conhecido pelo povo como o prédio do Fomento Agrícola.  Foi a época em que o governo resolveu apostar tudo na agricultura sertaneja, sendo designado para a missão o agrônomo Otávio Cabral que fundou o Sítio Sementeira para experimentos agrícolas e chegou a ser dirigente de Santana do Ipanema. Foi construído ainda o prédio em forma de sobrado chamado Perfuratriz, onde hoje funciona a Associação da Rua da Praia. O prédio da Perfuratriz (belo edifício) foi marco da cheia do Ipanema de 1941, a mais famosa da história. Esse foi demolido. O casarão do Fomento foi sendo desgastado pelo tempo até chegar a sua vez de desaparecer. Abrigava o primeiro tanque para corpo de bombeiros de Alagoas, diziam, ferrugem o devorou e, o prédio sem socorro, deixou de existir.

O casarão era como um senhor respeitável que atraía prestígio para o bairro São Pedro. Era muito imponente virado para a Rua São Paulo, início da antiga rodagem para Olho d’Água das Flores. Pertinho dali, no final da Rua Antônio Tavares, um segundo casarão havia, cheio de janelões e quintal chegando até a rua de baixo, na época chamada Rua de Zé Quirino. (Fora ele quem a iniciara). O casarão visto pela lateral de onde se avistava a metade dos seus janelões de madeira era realmente impressionante. O casarão era em preto, isto é, só tijolo e barro sem reboco. Ali funcionava a fábrica de colchões de junco do Sr. Júlio, vulgo Júlio Pezunho, por ter um dedinho a mais na mão, atrofiado.

Santana era a terra de casarões e sobrados que marcavam o tempo faustoso da época de vila. Construir casas enormes e sobrados demonstravam prestígio para os respectivos donos. A marcha inexorável do tempo, foi acabando com a moda que foi sendo esquecida na Santana moderna.

Raras fotografias vão contando uma história sem texto da Arquitetura dos ricos.

FOMENTO AGRÍCOLA EM RUÍNAS, 2013. (FOTO: B. CHAGAS/LIVRO 230)