OS BOIS E OS CARROS Clerisvaldo B. Chagas, 17 de junho de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.556   No início da s...

 

OS BOIS E OS CARROS

Clerisvaldo B. Chagas, 17 de junho de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.556

 

No início da segunda metade do século XX, já havia bastante caminhões, camionetas e automóveis no Sertão das Alagoas. Inclusive o automóvel táxi, chamado na época de “carro de praça” ou “carro de aluguel”. O condutor tinha o nome de “motorista de praça” ou chofer de praça. Gostava de usar boné. E o povo, que nada deixa passar, dizia: “cabra de boné ou é corno ou chofer!”. Os mais antigos motoristas de praça que conhecemos foi o senhor Mestre Abel Mecânico e seus filhos, além dos senhores conhecidos como Zé V8 e Dota (Leopoldo). Mesmo assim, os carreiros do Sertão continuavam ainda muito fortes na atividade com os carros de boi. A convivência entre o motor e o animal, nunca foi obstáculo. Em Santana do Ipanema, os carros de boi vindos da zona rural, tinham como final de linha o poço do Juá, no rio Ipanema quando seco ou com pouca água.

O carro de boi trazia a produção do campo como o milho, feijão, algodão, queijos, suínos, galináceos e muito mais, descarregava no Juá, alimentava os bovinos com ração de palma forrageira conduzida no próprio carro, enquanto despachava a mercadoria e aguardava os produtos da feira e dos armazéns para levá-los ao campo. Alguns carreiros, arriscavam a entrada na feira aos sábados para apanhar mercadorias pesadas como tonéis e latas de querosene, arame farpado, ferramentas, móveis, tecidos, pequenos animais e produção das fabriquetas da cidade. Em tempos de cheias, a espera acontecia na margem direita do rio e os canoeiros do Juá se encarregavam do vai e vem do comércio sobre as águas.

Na gestão municipal 1961-1964, o prefeito Ulisses Silva arrancou o calçamento bruto do tempo de vila e o substituiu por paralelepípedos, pedras quadriculadas e pequenas. Isso no quadro comercial da cidade. Os carreiros foram proibidos de circularem com seus carros de rodas com aros de ferro, no centro de Santana. Logo alguns carreiros passaram a usar rodas de pneus à semelhança das carroças que assim já procediam.  O golpe foi tão grande que a maioria dos carros de boi, desapareceram da cidade e Santana deixou de ser a “Terra dos carros de boi”. Nem aos sábados se encontra esse veículo de madeira em Santana, nem mesmo para uma simples foto. Entretanto, eles continuam  vivos na zona rural e surgem às centenas e milhares na procissão da padroeira e em vários desfiles em cidades circunvizinhas como Inhapi, Olivença, Poço das Trincheiras e São José da Tapera, inclusive com carros de carneiros, bodes e jumentos.

Sertão é Sertão!

ESTACIONAMENTO DE CARRO DE BOI NO POÇO DO JUÁ, RIO IPANEMA. (FOTO: LIVRO SANTANA DO IPANEMA CONTA SUA HISTÓRIA).

 

  CADÊ O FEIJÃO? Clerisvaldo B. Chagas, 16 de junho de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.555   Para homenagear o h...

 

CADÊ O FEIJÃO?

Clerisvaldo B. Chagas, 16 de junho de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.555

 

Para homenagear o homem do campo, o produtor rural, foi criada a Festa do Feijão, em Santana do Ipanema. Tinha a participação de todos os municípios sertanejos produtores daquela leguminosa. A ideia partiu do saudoso Dr. Adelson isaac de Miranda rotariano, clube ao qual a festa passou a pertencer. A I Festa do Feijão, aconteceu em 1971, com a iniciativa do Rotary Clube em convênio com a prefeitura local e apoio do grupo Gazeta de Alagoas. Pode-se dizer que a festa foi um sucesso retumbante que abalou o Brasil inteiro. É de se notar que o ano de 1970, representou um dos mais seco da história santanense. Na época produzíamos muito feijão, Santana do Ipanema e Senador Rui Palmeira, notadamente. Contamos com 18 municípios participantes no evento.

Carros alegóricos saiam em desfile mostrando cenas diárias do campo, muitos discursos no palanque oficial sobre a Sorveteria Pinguim, no Bairro Monumento, políticos do estado todo, governador, autoridades diversas no miolo da agitação festiva. Houve bailes, concursos de misses e uma euforia nunca vista na cidade. Atraídas pela propaganda no país inteiro, quase todos os estados estavam aqui representados. A Festa do Feijão chegou a ser comparada com a Festa da Uva, no Rio Grande do Sul, sendo considerada a segunda festa do gênero.

Contudo, ninguém pensaria que a Festa do Feijão pudesse chegar ao pedestal em que chegou. Salvo engano, apenas três edições foram realizadas, pois devido a grandeza atingida, não havia condições de suportar tanta gente. Parecia até que o Brasil inteiro estava em nossa cidade. Isso em um tempo em que não havia tantos hotéis assim! As casas de morada enchiam-se de hóspedes e até se falava em organizar acampamentos. Temos a impressão de que ninguém foi culpado pela extinção da festa. Mas fica a lição de que é possível a realização de um sonho. Ninguém esperava tanto êxito apenas em três edições da festa. Foi assim que o anúncio do seu final foi um baque surdo que fez emudecer o Sertão.

Ainda bem que nunca faltou no prato o feijão nosso de cada dia.

UM DOS ASPECTOS DA FESTA DO FEIJÃO (FOTOS: SANTANA CONTA A SUA HISTÓRIA, LIVRO).

 

  POÇO DOS HOMENS Clerisvaldo B. Chagas, 15 de junho de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.554   Devido a pandemia nã...

 

POÇO DOS HOMENS

Clerisvaldo B. Chagas, 15 de junho de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.554

 

Devido a pandemia não foi possível fazermos lançamentos relâmpagos do livro “Canoeiros do Ipanema”. Aguardamos melhores dias para sairmos com os Canoeiros às ruas, às aglomerações, palestrando juntos sobre essa fase da história santanense que estava completamente esquecida. Entretanto, para se adquirir rapidamente um exemplar os pontos de venda estão divididos em três lugares, em Santana do Ipanema: Espaço Cultural, livraria à Rua Nova; Hiper Mercado Nobre e Salão Gil Cabeleireira. A parte física da história é o poço do Juá, no rio Ipanema, onde os canoeiros transportavam pessoas e mercadorias para ambas as margens do rio, e escoavam a produção das inúmeras fabriquetas da época.  Entretanto, a fama de outro poço parecia não a acabar nunca. Trata-se do Poço dos Homens, localizado logo abaixo do poço do Juá.

Desde cedo ouvíamos falar que a primeira pessoa que morrera no poço dos Homens, fora um cidadão chamado Zé Belebebeu, também chamado Jabobeu. Assim o poço foi virando assassino profissional e até as últimas notícias, há bastante tempo, contava com cerca de vinte afogamentos mortais. Sempre se dizia por ali: “Cuidado que Jabobeu puxa nas suas pernas, para o fundo do poço, rapaz!”. E de vez em quando surgia a notícia de mais um afogamento no poço. Lembramos da notícia de um homem de apelido estranho que morrera em suas águas, chamado pelo povo de “Tinteiro”. Após o finado Tinteiro, os banhistas ficaram mais cautelosos, principalmente em relação à bebida, que provoca um torpor e o cabra morre dormindo nas águas.

A ponte sobre o Ipanema, em 1969, foi o grande impacto que tornou o poço dos Homens inviável. A ponte ficou a pouco metros do poço e o casario de ambas as margens se aproximaram mais do rio. Do, praticamente, nada surgiram os Bairros Domingos Acácio, Floresta e Rua Santa Quitéria que atualmente é chamada também de Bairro. A estrutura atual da margem direita do rio Ipanema, corresponde praticamente a um terço da cidade. Possui hospital, faculdades federais, hiper mercado e um comércio não tão profundo mais bastante movimentado. O poço dos Homens não tem mais volta, mas também continua lá, sem clientes. Existe a necessidade de outra ponte que ligue à Rua São Paulo ao alto das antigas olarias, rodagem Santana – Olho d’Água das Flores

O poço dos Homens não mata mais, porém, vez em quando pula da ponte ali pertinho, um suicida! Ave!

POÇO DOS HOMENS, ENTRE PEDRAS NA PARTE CENTRAL DA FOTO. (FOT. B. CHAGAS).