NO GRUPO ESCOLAR Clerisvaldo B. Chagas, 26 de abril de 2023 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.872     O gosto p...

 

 

NO GRUPO ESCOLAR

Clerisvaldo B. Chagas, 26 de abril de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.872

  

O gosto pelo turno de aula dependia das circunstâncias. A professora tinha muita influência na vontade de assistir a aula ou não. Ali, no Grupo Escolar Padre Francisco Correia, era servido como merenda, uma espécie de mingau no copo, bastante enjoativo e que às vezes a gente bebia, outras vezes derramava ao longo do pátio recreativo e arenoso. A diversão principal ainda era a ximbra, para meninos. De vez em quando surgia um “ganzelão” para correr por cima da murada de balaústre do grupo. Uma verdadeira loucura, como fazia o já rapaz Jorge de Leuzinger. Em um ano daqueles movimentados, surgiu uma equipe da Saúde vacinando contra a influenza. A vacina no braço era aplicada arranhando-se a pele com uma pena de escrever à tinta e que a marca ficava para sempre.

Ali, naqueles finais dos anos 50, não víamos a hora da batida de sineta, pela bedel dona Prisciliana, que anunciava o final das aulas.

Primeira grande escola do governo, fundada em 1938, foi o grande marco da Educação primária da terra. Ainda hoje suas finalidades continuam vivas, educando a juventude de Santana do Ipanema no Bairro Monumento. Estamos recordando porque estivemos no Posto de Saúde São José para tomar vacina contra a influenza e a bivalente ao mesmo tempo. Recordamos para quem não sabia que durante a Primeira Grande Guerra morreram milhões pelo mundo devido a essa gripe espanhola. Em Santana mesmo foi construída a igreja de São João no local Bebedouro contra essa perigosa gripe. O povo vinha do Bebedouro em procissão, pela noite, conduzindo velas e lanternas, entre orações e cânticos, pedindo São João contra a doença.

Mas se o grupo resistiu até hoje, a igreja de São João, construída pelo artesão de chapéu de couro João Lourenço, foi profanada, abandonada e terminou em ruínas. Não existe mais. Morreu assim como o seu fundador. E para uma doença que matou milhões de pessoas no passado, atualmente ainda é desconhecida para muitos e ironizadas por outros sua vacina. A humanidade evoluiu muito, porém, muitas cabeças ainda permanecem no obscurantismo medieval negando a religião e a ciência.

GRUPO ESCOLAR ATUALIZADO (FOTO B. CHAGAS/LIVRO 230)

    CONHEÇA O LAJEIRO GRANDE Clerisvaldo B. Chagas, 25 de abril de 2023 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.871   O B...

 

 

CONHEÇA O LAJEIRO GRANDE

Clerisvaldo B. Chagas, 25 de abril de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.871



 

O Bairro Lajeiro Grande, está situado ao norte de Santana do Ipanema. Sua topografia varia entre o plano e as ladeiras. É um dos bairros mais altos da cidade. Ali estão localizados o Estádio Arnon de Mello, O cemitério Santa Sofia, a escola municipal Santa Sofia, a chamada CONHAB Nova e a igreja do padre Cícero sobre o grande lajeiro que deu origem ao nome do bairro. Seu comércio e prestação de serviços são expansões do Largo do Maracanã e que subiram a comprida e central avenida Santa Sofia.  É um bairro com boa porção de terras semeadas de matacões, inclusive em muitos quintais e em terrenos abertos. Tudo leva a pensar que o Lajeiro Grande tenha o melhor microclima da cidade. Está completamento asfaltado ou calçado com paralelepípedos.

Entre os seus matacões foi descoberta uma mina de ametista que teve início de exploração, mas, dizem que houve falta de recursos para aprofundamento da coisa e terminou tudo com o buracão vertical abandonado. Estávamos em busca da Pedra do Barco (citada no primeiro documento que se tem sobre Santana do Ipanema, quando nos deparamos com o buraco enorme, sem nenhum aviso, sem nenhuma proteção. Não sabemos informar como está hoje a situação da mina. Na época deu muito o que falar. Quanto ao marco da Pedra do Barco, quando aí estivemos, particulares estavam destruindo a grande pedra para transformá-la em pias.  Santa ignorância coletiva e política! Já dizia o saudoso professor e compadre Marques “A sociedade deveria ser dirigida por filósofos e defendida por guerreiros”.

A propósito, esse primeiro documento sobre Santana do Ipanema, cita o início de terras vendida, na Pedra do Barco, indo até o riacho Mocambo, (imediações do atual povoado Pedra d’Água dos Alexandre) passando pelo sítio Lagoa do Mijo. Estando-se no lajeiro da igrejinha do padre Cícero, avista-se longe parte do Centro de Santana. Quem deseja cortar caminho para Águas Belas (PE) – estada de barro – passa pelo Bairro Lajeiro Grande e roda no asfalto até o cemitério São José, situado à margem da estrada no sítio Barroso. Como o bairro fica fora do eixo Comércio – saída e entrada da cidade, o turista somente sobe até o Lajeiro Grande se tiver negócio ou for dirigido.

IMAGEM DO PADRE CÍCERO NO TOPO DO LAJEIRO (FOTO: B. CHAGAS)

 

 

 

  VAMOS RODEAR Clerisvaldo B. Chagas, 24 de abril de 2023 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.870   Não havia pontes em S...

 

VAMOS RODEAR

Clerisvaldo B. Chagas, 24 de abril de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.870

 

Não havia pontes em Santana. Quando o rio Ipanema botava cheia, o grande número de mascates que negociavam nas feiras de Olho d’Água das Flores, Carneiros e Pão de Açúcar, principalmente, não sabia como driblar o rio. Mas quando surgiram os canoeiros que atuavam na parte mais larga do Panema, o poço do Juá, os mascates passaram a utilizar as canoas que transportavam gente e todas as mercadorias. Quando construíram a primeira ponte sobre o rio Ipanema, no local Barragem a 2 km do Centro, os caminhões de feirantes contornavam trechos do rio pela “Ponte da Barragem”, pelo lugar Volta (volta do rio) desciam e subiam a ladeira até a fazenda do senhor Marinho Rodrigues e que depois ficou conhecida como “a fazenda de Dr. Clodolfo”, herdeiro de Marinho (próxima ao hoje hospital dos SUS).

Entre os proprietários de caminhões, estavam o senhor Plínio e o senhor José Cirilo. Os mascates trafegavam para as feiras dos citados municípios acima, sentados sobre as mercadorias e com as pernas para fora nas partes laterais dos caminhões. Nas proximidades do destino, o motorista encostava no acostamento improvisado da rodagem, subia para a carroceria e iniciava a cobrança da passagem. Às vezes, ao retornarem à tardinha, das feiras, o valente riacho João Gomes não dava passagem. Sem ponte ainda, era duro o transporte de mercadorias de uma à outra margem (tipo baldeação forçada) e que depois iria ainda para o rodeio pela fazenda do Dr.Clodolfo até a passagem da ponte da barragem construída em 1951.

As viagens dos mascates, longe da monotonia, conversas animadas e piadas naquelas cargas de homens, mas que havia também raras mulheres que viajavam na boleia ou mesmo na carroceria quando não tinha vaga. As vezes surgiam cenas inusitadas pela rodagem e as piadas saíam de mascates gaiatos, assim como Geraldo, vulgo Rinchel. O transporte saía logo cedo e podia encontrar de tudo pelo trecho. Assim, um homem praticando zoofilia com uma jumenta foi visto num recanto de cerca e logo apontado por um dos passageiros: “Estar aplicando injeção na bichinha!”. E o caminhão muito veloz cobrindo o mundo de poeira.

A ponte sobre o rio Ipanema, em 1969, minorou vigorosamente aquelas epopeias.

PONTE DA BARRAGEM -1951.