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GARGALHADA DE LAMPIÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 25 de julho de 2012.
Crônica Nº 827
O que é que faz um
indivíduo procurar o perigo quando estiver ameaçado por ele? Foi o que aconteceu com o cidadão João
Barroso no sertão alagoano, na segunda metade da década de 20. A passagem de
Lampião por vários municípios, em 1926, provocou uma reação entre civis e um
sargento, tendo se formado um grupo para perseguir o bandido. Com a inutilidade
da ação, o grupo foi desfeito e tudo voltou à antiga rotina. Mas, certo dia
João Barroso foi alertado pelo parente Adriano, que Virgolino estava babando
para pegar alguns daqueles alistados para persegui-lo, inclusive, o próprio
Barroso. Alertava Adriano que o bom mesmo era que João Barroso fosse embora do
sertão que a coisa não estava boa para o seu lado. A qualquer momento, dizia
Adriano, a fera poderia aparecer, surpreendê-lo e lhe tirar o couro das costas.
O sertanejo marcado ficou muito pensativo, até porque Adriano era seguro
coiteiro de Lampião e lhe contara vários detalhes do que sabia. Barroso não
demorou a encontrar a solução. Fugir não fugiria. Pediu para que Adriano desse
um jeito de jogá-lo dentro do bando para ele ficar como coiteiro também,
naturalmente trocando o seu nome. “Não
pode com eles, junte-se a eles”, deve ter pensado o homem advertido.
Capa de livro apontado no rodapé. |
Foi uma loucura para Adriano
aceitar a ideia, mas assim foi feito. De repente João Barroso estava fazendo
muito bem o papel de coiteiro de Lampião. A eficiência era tanta que passou a
comprar víveres para o bando e até foi sondando pelo bandido para entrar nos
negócios de armas. Pulou fora com toda diplomacia, alegando que não tinha
cacife para tal negócio. Imaginava Barroso que arranjar armas para Lampião era
ajudar o cangaceiro a matar gente. O maioral não falou mais no assunto. Certa
feita, ao chegar à noite ao acampamento do bandido com víveres encomendados,
Barroso deparou-se com uma cena em que uma mulher dava parte de um cabra que
molestara a filha da mulher. Lampião tomou as providências, ocasião em que o
cabra dizia não pertencer ao bando dele e sim ao de Corisco. Lampião,
enraivecido com a resposta, disse muitas coisas pesadas ao comandado, depois
ordenou que o cangaceiro Cobra Verde, fuzilasse o cangaceiro de Corisco.
Barroso
ficou
chocado com o que viu, porém continuou na estratégia pela sua sobrevivência,
driblando a espionagem das volantes. Adriano foi morto pela polícia. Certo dia
aconteceu uma boa ocasião, para João Barroso dizer a verdade ao chefe do bando.
Esperto como era, pegou o chefão de bom humor. Virgolino abriu a bocarra com a
esperteza dos dois parentes e João Barroso viu o que pouca gente via: o encaixe
no momento certo da intensa GARGALHADA DE LAMPIÃO.
·
Crônica baseada nas
paginas 75-88, de “O cangaceiro Lampião e
o IV mandamento”
de Valdemar de Souza Lima.
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