quinta-feira, 18 de abril de 2013

SEGUNDO TEMPO



SEGUNDO TEMPO
Clerisvaldo B. Chagas, 18 de abril de 2013.
Crônica Nº 1002

PAPAGAIO. Imagem: (search).
Livro-me de comprida espera, pois o ônibus chega primeiro. Alguns passos apressados e lá estou a bordo, cadeiras quase todas ao meu dispor. Nem acredito na esmola grande, mas o carro não estava quebrado e seguiria sim para o meu destino. “Hoje é o dia em que tudo dá certo”, pensei. E o motorista arranca com apenas quatro pessoas. O cabra é daqueles que amam pé em baixo e sai rompendo tudo. Os sinais quase sempre estão em verde, não há passageiros nos pontos e o trânsito está leve. É aí que uma senhora do banco de trás, imediato ao meu, dana-se no uso do celular. Fala alto como se estivesse absolutamente sozinha em sua casa. Presta informações, fala mal de outra pessoa, imita o jeito e a voz da vítima denunciada e não deixa de matraquear um segundo sequer. Em todo o trajeto apenas um novo passageiro sobe, a velocidade continua e o cobrador, coitado, cochila que faz dó. O novo passageiro entrara com um papagaio e, se é proibido não sei. Faz um sinal de bico calado para o bichinho e ele obedece. Basta a papagaia velha de duas pernas.
O Ônibus corre com sua zoada de lata velha. A mulher não para o badalo. Não fosse o gradeado todo e o cobrador, nos avanços dos cochilos, teria ido ao chão. Um dos passageiros, cabelos brancos, está impassível. Uma senhora lá atrás parece fora do mundo e, os sinais vão abrindo para o motorista. O papagaio quer também dá um cochilo, mas a concorrência não deixa. Finalmente, após várias e várias estações a voz se cala. Olho para o silêncio e vejo a mulher adormecer. Anuncio a descida, deixo o coletivo e a papagaia dorme. Não tenho certeza se a falante irá perder o ponto. Acho que estar descansando para o SEGUNDO TEMPO.

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