NEGROS EM SANTANA
Clerisvaldo B.
Chagas, 7 de abril de 2014
Crônica Nº 1163
Elemento negro do povoado Alto do Tamanduá - AL. |
Situado a 210
quilômetros de Maceió e a 300 da serra da Barriga, palco de luta do Quilombo
dos Palmares, o município foi colonizado pelos arrendatários de terras e
sesmeiros descendentes de portugueses. Pelo primeiro documento encontrado sobre
Santana do Ipanema, datado de 1771, vê-se claramente que a região sertaneja já
estava semeada de proprietários rurais instalados em léguas de terras selvagens
que caracterizam o início do povoamento branco. A área era ocupada pelos índios
Fulni-ô ou Carnijós que habitavam o território da vizinha Águas Belas,
Pernambuco. Os Fulni-ô foram acessíveis àqueles diferentes que chegavam ao
Sertão. As raças foram se cruzando, formando o mestiço curiboca, mameluco ou
caboclo, sendo esta última, a expressão mais usada até hoje. O caldeamento
branco mais índio formou assim um novo tipo humano resistente de pele branca, queimada:
o caboclo nordestino.
O gado há havia
invadido o rio dos Currais e as pequenas ribeiras do semiárido alagoano,
surgindo à figura destemida do vaqueiro, caboclo tratador do gado por
excelência e que ao boi dedicou a sua vida. Foram assim formadas a origem e a
descendência do povo santanense com a aristocracia rural branca de sangue
português e a coragem bravia dos índios da caatinga.
Os negros em Santana,
todavia possuem um elo que tentamos descobrir com o quilombo da serra da
Barriga. É bem possível que Martinho Rodrigues Gaia, fazendeiro vindo da Bahia,
tenha trazido escravos que ajudaram no abrir de picadas até Santana, em 1787,
data da fundação da cidade.
Moradores do povoado negro Tapera do Jorge - AL. |
Entre 1640 e 1695
(morte de Zumbi) ocorreu o auge e as guerras dos negros refugiados na Barriga. Levando-se
em conta a data de 1687, apenas 100 anos separariam o espaço entre os
acontecimentos. É de se supor, contudo, que, tanto pela extensão do quilombo de
Zumbi que ia até a foz do rio São Francisco, quantos pelos desertores das
várias batalhas com os brancos, tivessem chegado por aqui os primeiros e
esporádicos elementos ou representantes da raça negra. Mas, nem todos os negros
fugidos de fazendas iam para Palmares. Alguns, desorientados, procuravam apenas
ficar o mais distante possível do patrão. Na realidade, negros por essas bandas
já havia muito antes do primeiro documento, 1771. De qualquer modo a influência
negra pode ter sido maior do que os vestígios deixados no Município nas décadas
de 1940, 1950 e 1960. Negros em Santana eram tão raros que logo quando surgiram
eram apontados com a palavra “negro” à frente do nome: “negro” Fulano, “negra”
Beltrana.
·
Texto
e imagens extraídos do livro “Negros em Santana”.
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