O TIRO
E O PENEIRA
Clerisvaldo
B. Chagas, 6 de outubro de 2022
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.780
A
vida do homem da roça nunca foi fácil, principalmente do pequeno e médio
agricultor. Tanto é que não foram poucos os que migraram para as periferias das
cidades próximas. Dali fazem a vida dupla colocando filhos na escola e os
encaminhando para empregos disponíveis na sede. Vão vivendo de uma
aposentadoria rural e benefícios que emanam do governo. Entretanto, o sangue
campesino não desgruda da sua figura e não deixa de ir ao roçado que deixou em
aberto, todos os santos dias. Além do roçado que sempre aventura alguma coisa
como o feijão, o milho, a mandioca ou a palma forrageira, também cria. É o
carneiro, o porco, as galinhas e alguns garrotes que lhe complementam o valor
da aposentadoria. Todo agricultor é criador.
Muitas
vezes lá no cantinho da despensa tem uma espingarda tipo soca-tempero para
defender seu galo, sua galinha e os pintos que – ainda novinhos – seguem a mãe
pelo terreiro. Raposa, quando não
encontra comida, costuma rondar as casas de fazenda e fazer estrago nos
galinheiros. Entre raposas, cobras e carcarás, também existe a ameaça do
gavião. E o gavião tipo peneira (Elanus leucurus) é o mais conhecido. O
seu nome popular gavião-peneira, vem da sua forma de observar o solo em busca
da presa, peneirando no ar a cerca de 30 metros de altura. Um terror para os
pintinhos, mas que também podem atacar tanto a galinha quanto o galo. Aí é
quando o sertanejo diz: “Ah, uma boa imbiguda nos peitos!” Que é o tipo de
espingarda mais usada para este fim.
O
gavião é predador de topo de cadeia. Para muitos, uma ave cruel; todavia, faz
verdadeira limpeza no meio em que vive, atacando e devorando cobras, ratos e
outros pequenos animais da caatinga. Se o roceiro soubesse defender seu criatório
miúdo dos predadores, o gavião seria apreciado como uma ave das mais incríveis
do querido semiárido. Ainda bem que nos enche de prazer encontrar nas caminhadas
rurais, o gavião e o carcará, relíquias do nosso Bioma e da Natureza. Carcará
foi imortalizado na música do saudoso compositor José Cândido e o Gavião em página
musical de Jackson do Pandeiro: Peneirou Gavião:
“Gavião
bicho malvado
É
tinhoso e aventureiro
Mas
da minha fina massa
Gavião
não vê o cheiro
Oi
peneirou, peneirou, peneirou
O
gavião nos ares para voar
Tu
belisca, mas não come, gavião
Da
massa que eu peneirar...”
GAVIÃO-PENEIRA
(FOTO: WIKIPÉDIA).
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