quarta-feira, 5 de outubro de 2022

 

O TIRO E O PENEIRA

Clerisvaldo B. Chagas, 6 de outubro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.780

 


A vida do homem da roça nunca foi fácil, principalmente do pequeno e médio agricultor. Tanto é que não foram poucos os que migraram para as periferias das cidades próximas. Dali fazem a vida dupla colocando filhos na escola e os encaminhando para empregos disponíveis na sede. Vão vivendo de uma aposentadoria rural e benefícios que emanam do governo. Entretanto, o sangue campesino não desgruda da sua figura e não deixa de ir ao roçado que deixou em aberto, todos os santos dias. Além do roçado que sempre aventura alguma coisa como o feijão, o milho, a mandioca ou a palma forrageira, também cria. É o carneiro, o porco, as galinhas e alguns garrotes que lhe complementam o valor da aposentadoria. Todo agricultor é criador.

Muitas vezes lá no cantinho da despensa tem uma espingarda tipo soca-tempero para defender seu galo, sua galinha e os pintos que – ainda novinhos – seguem a mãe pelo terreiro. Raposa, quando  não encontra comida, costuma rondar as casas de fazenda e fazer estrago nos galinheiros. Entre raposas, cobras e carcarás, também existe a ameaça do gavião. E o gavião tipo peneira (Elanus leucurus) é o mais conhecido. O seu nome popular gavião-peneira, vem da sua forma de observar o solo em busca da presa, peneirando no ar a cerca de 30 metros de altura. Um terror para os pintinhos, mas que também podem atacar tanto a galinha quanto o galo. Aí é quando o sertanejo diz: “Ah, uma boa imbiguda nos peitos!” Que é o tipo de espingarda mais usada para este fim.

O gavião é predador de topo de cadeia. Para muitos, uma ave cruel; todavia, faz verdadeira limpeza no meio em que vive, atacando e devorando cobras, ratos e outros pequenos animais da caatinga. Se o roceiro soubesse defender seu criatório miúdo dos predadores, o gavião seria apreciado como uma ave das mais incríveis do querido semiárido. Ainda bem que nos enche de prazer encontrar nas caminhadas rurais, o gavião e o carcará, relíquias do nosso Bioma e da Natureza. Carcará foi imortalizado na música do saudoso compositor José Cândido e o Gavião em página musical de Jackson do Pandeiro: Peneirou Gavião:

 

 

“Gavião bicho malvado

É tinhoso e aventureiro

Mas da minha fina massa

Gavião não vê o cheiro

 

Oi peneirou, peneirou, peneirou

O gavião nos ares para voar

Tu belisca, mas não come, gavião

Da massa que eu peneirar...”

 

GAVIÃO-PENEIRA (FOTO: WIKIPÉDIA).


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