terça-feira, 22 de novembro de 2022

 

A BOLA E O CEMITÉRIO

Clerisvaldo B. Chagas, 23 de novembro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.803

 



Esse clima de copa, faz lembrar os áureos tempos do Ipanema Atlético Club, em Santana. Os jogos ainda eram realizados com a bola número 5, profissional, chamada “couraça.” Era bola de couro que não sabemos afirmar com certeza se era comprada fora da cidade, até porque havia um sapateiro que já fora jogador do Ipanema e fazia couraça sob encomenda e que era o Gérson Sapateiro. Nesses tempos tão bons do futebol santanense, a bola era uma só em cada jogo. E quando qualquer zagueiro bruto fazia a defesa dando chutaço ignorante, a que a plateia chamava de “balão”, era uma angústia medonha pela sequência do jogo. Isso porque a bola subia, subia que só um balão e caía fora do campo, ou na rua da frente do estádio ou no cemitério contíguo, Santa Sofia.

O estádio Arnon de Mello fora construído justamente vizinho ao cemitério na parte alta e plana do Bairro Camoxinga, por ser um dos poucos lugares da urbe adequado para essa finalidade. Quando a bola caía na rua demorava a chegar. Quando caía além da rua, demorava muito mais e, quando caía no cemitério demorava mais ainda. Era usado algum torcedor que assistia ao jogo em cima do muro entre os dois locais, entrava pelo cemitério galgava a parede e, bem sentado no muro, conseguia assistir ao jogo sem pagar.  Outras vezes era o próprio zelador do cemitério ou um coveiro que fazia esse favor de procurar a bola entre covas e catacumbas, até achá-la. Só então a bola voltava com um chutão ninguém sabe de quem e caía novamente em campo. Era uma vibração!

Com o tempo, as partidas foram acrescentando outras bolas e, a couraça bruta cor de terra foi aos poucos sendo substituída por essas bolas atuais compradas facilmente nas lojas de esportes. Mas era um prazer enorme para o torcedor sem dinheiro que ficava na rua, catar uma bola fruto de balão de zagueiro, principalmente. E com aquele orgulho grande de tocar na “pelota” do jogo, devolvia com outro balão vindo de fora. Já houve partidas que a bola gastou mais de 15 minutos para retornar.

E do lado de fora não era diferente de hoje. Vendedores de tudo na feira que se formava na rua, defronte ao estádio. Petiscos e bebidas tinham êxito assegurado em qualquer partida futebolística.
       Ô Ipanema!

ESTÁDIO ARNON DE MELLO EM 2013 (FOTO: B. CHAGAS).

 


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