A BOLA
E O CEMITÉRIO
Clerisvaldo
B. Chagas, 23 de novembro de 2022
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.803
Esse
clima de copa, faz lembrar os áureos tempos do Ipanema Atlético Club, em
Santana. Os jogos ainda eram realizados com a bola número 5, profissional,
chamada “couraça.” Era bola de couro que não sabemos afirmar com certeza se era
comprada fora da cidade, até porque havia um sapateiro que já fora jogador do
Ipanema e fazia couraça sob encomenda e que era o Gérson Sapateiro. Nesses
tempos tão bons do futebol santanense, a bola era uma só em cada jogo. E quando
qualquer zagueiro bruto fazia a defesa dando chutaço ignorante, a que a plateia
chamava de “balão”, era uma angústia medonha pela sequência do jogo. Isso
porque a bola subia, subia que só um balão e caía fora do campo, ou na rua da
frente do estádio ou no cemitério contíguo, Santa Sofia.
O
estádio Arnon de Mello fora construído justamente vizinho ao cemitério na parte
alta e plana do Bairro Camoxinga, por ser um dos poucos lugares da urbe
adequado para essa finalidade. Quando a bola caía na rua demorava a chegar.
Quando caía além da rua, demorava muito mais e, quando caía no cemitério
demorava mais ainda. Era usado algum torcedor que assistia ao jogo em cima do
muro entre os dois locais, entrava pelo cemitério galgava a parede e, bem
sentado no muro, conseguia assistir ao jogo sem pagar. Outras vezes era o próprio zelador do
cemitério ou um coveiro que fazia esse favor de procurar a bola entre covas e
catacumbas, até achá-la. Só então a bola voltava com um chutão ninguém sabe de
quem e caía novamente em campo. Era uma vibração!
Com
o tempo, as partidas foram acrescentando outras bolas e, a couraça bruta cor de
terra foi aos poucos sendo substituída por essas bolas atuais compradas
facilmente nas lojas de esportes. Mas era um prazer enorme para o torcedor sem
dinheiro que ficava na rua, catar uma bola fruto de balão de zagueiro,
principalmente. E com aquele orgulho grande de tocar na “pelota” do jogo,
devolvia com outro balão vindo de fora. Já houve partidas que a bola gastou
mais de 15 minutos para retornar.
E
do lado de fora não era diferente de hoje. Vendedores de tudo na feira que se
formava na rua, defronte ao estádio. Petiscos e bebidas tinham êxito assegurado
em qualquer partida futebolística.
Ô Ipanema!
ESTÁDIO
ARNON DE MELLO EM 2013 (FOTO: B. CHAGAS).
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