O CÃO DA QUARESMA
(Clerisvaldo B. Chagas, 27 de outubro de 2010)
Apesar de estarmos longe ainda, a mídia faz-nos lembrar os tempos religiosos mais significativos. As coisas vão ficando mais modernas e a força da tradição vai-se esvaindo com motivos novos que percorrem o globo. Muitas vezes nem sabemos se novidades são melhores, corretas ou mais práticas em diversos setores das organizações. É de se notar que havia mais rigor na Igreja Católica, após o carnaval. A partir da quarta-feira de Cinzas a Igreja entra no período mais delicado das suas atividades e que perdura por quarenta dias. Esses quarenta dias recebem o nome de Quaresma, palavra de origem latina, quadragésima. A Quaresma é a etapa do ano em que acontecem os preparativos para comemorar a ressurreição de Jesus, no chamado domingo de páscoa. Essa fase também faz lembrar os quarenta dias em que Jesus passou no deserto em oração. A Igreja ─ na quarta-feira de Cinzas ─ apresenta três linhas de movimentos baseadas na oração, penitência e caridade. Para milhões de católicos, é um ótimo cenário para a reflexão, a esmola e o jejum. Assim os fiéis mais tradicionais se preparam para a festa maior que é a ressurreição. Dentro dos quarenta dias, os domingos não são contados, formando na verdade quarenta e sete. As imagens encontradas nos templos ficavam todas cobertas de pano roxo, dando certo significado de penitência. Conhecemos pessoas que bebiam normalmente, mas suspendiam a bebida em época de Quaresma. Em suma, havia um respeito profundo que hoje não parece tão profundo assim.
Visto a palavra quadragésima pelo ângulo acima, vamos contemplá-la através do prisma advocatício. A TV brasileira divulgou um vídeo que mexeu assombrosamente com o caso Bruno. Ah! Pode ficar certo de que a novela sobre o goleiro do Flamengo vai render bons dividendos para quem escrever um livro contando tudo. Os constantes desmaios dos personagens centrais, os desentendimentos entre familiares e advogados e as declarações do polêmico defensor do Bruno, fizeram o roxo do catolicismo empalidecer. As ameaças do doutor Ércio Quaresma diferem um bocado da Quaresma a que estamos acostumados. Na Quaresma da Igreja católica, o cidadão procura ficar o mais distante possível do inferno. No Direito, o doutor Quaresma afirma categoricamente que ele não é representante do satã, ele é o próprio diabo. E da maneira como fala na gravação apresentada, é bem capaz de ser mesmo verdade o que ele disse. A profissão de defensor vai ficando manchada com as descobertas mostradas pela Imprensa. Infelizmente tem muitos depositários de nomes magnânimos, envolvidos com o bicho preto até a alma. Envolvidos, dissemos. Mas o doutor Ércio afirma que é o próprio bicho. E se ele afirma, para que duvidar do engravatado, nervoso e satânico cidadão! O caso Bruno já prometia, imaginemos agora o desenrolar de investigações sobre o advogado embaixador do inferno. Com quem fica o caro leitor? Com a Quaresma para espantar o cão ou (apenas para soar mais bonito) O CÃO DA QUARESMA?
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