Mostrando postagens classificadas por data para a consulta Zé de Almeida. Ordenar por relevância Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens classificadas por data para a consulta Zé de Almeida. Ordenar por relevância Mostrar todas as postagens

domingo, 27 de outubro de 2024

 

POETAS ESQUECIDOS

Clerisvaldo B. Chagas, 28 de outubro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.136

 

Sim, conheci ambos os poetas. Zequinha gostava de vestir uma roupa de mescla (azulão). Era cego e sempre aparecia nas feiras dos sábados com o seu guia. Usava um ganzá de flandres para cantar os seus versos que quase sempre eram de pedir. O homem era uma cachoeira de rima e morava no sítio rural Travessão.  Cantava na feira e pedia, pedia e cantava de uma vez só pelo meio da multidão. Mão no ganzá, outra abanando perto do olho. Dele ficou esta estrofe quando um cidadão disse: “Perdoe Ceguinho”:

 

A bacia do perdoe

Deixei lá no Travessão

Só homem não sou menino

Todo ser é assassino

Só meu padre Ciço não.

 

Já Zezinho da Divisão (sítio rural na divisa Santana Carneiros) se dizia galego buchudo. Poeta também fecundo, gostava de tomar umas e cantar putaria quando se via apertado num duelo. Assim foi convidado para cantar com Zé de Almeida na casa de um cidadão, no Bairro Camoxinga, em Santana do Ipanema. A cantoria estava quente quando pediram um tema: “Mais sou melhor do que tu”. Zé de Almeida disse:

 

 

Sou um tipo sem futuro

Desses que não valem nada

Sou igual a uma levada

Lugar que só tem monturo

Sou um recanto de muro

Onde só tem cururu.

Sou igualmente um tatu

Dentro dum buraco fundo

Sou a desgraça do mundo

Mas sou melhor do que tu

 

Zezinho já estava cheio da cana e muito vermelho. Vendo tantos aplausos para o parceiro, disse:

 

Já perdi a cerimonha

Só ando cambaleando

Tem gente até me chamando

De fumador de maconha

Juntei-me com u’a sem-vergonha

Levei ponta pra chuchu

Foi corno em Caruaru

Fui viado em Maribondo

Mesmo soltando o redondo

Mas sou melhor do que tu.

 

O dono da casa expulsou os dois.

Nunca tivemos registro de nenhuma homenagem feita aos dois fantásticos poetas.

 

 

 


Link para essa postagem
https://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2024/10/poetas-esquecidos-clerisvaldo-b.html

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

CACHAÇA DE QUEM MORREU

CACHAÇA DE QUEM MORREU
Clerisvaldo B. Chagas, 27 de dezembro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.031

ALMEIDA. (FOTO/DIVULGAÇÃO).
De vez em quando penetrando no mundo maravilhoso dos repentistas nordestinos, passo a repetir uma historieta. Quando o Zé de Almeida criava fama nos braços da viola, foi chamado para ser testado em Paulo Afonso. Lá estavam os veteranos Manoel de Filó e Jó Patriota (conheci o segundo). Após uma baionada com Manoel de Filó, Jó Patriota assumiu a vez e sentou-se ao lado de Almeida. O vate santanense estava inspiradíssimo e iniciou o segundo baião:
                            
                                      Já cantei com Manoel
Agora canto com Jó
Um é cobra canina
Outro é cobra de cipó
Eu no “mei” me defendendo
Com um taco de mororó.

Aplaudidíssimo.

Em outra ocasião, Zé de Almeida se encontrava no comércio de Santana do Ipanema. Um dos locutores da Rádio Correio do Sertão, veterano, irmão do bispo diocesano, Humberto Guerrera, acabara de sair da emissora. Além de ser experiente o apresentador também era muito querido e gente boa. Gostava, porém, de beber muito e foi alvo naquele momento do poeta Zé de Almeida. Quando o radialista foi passando defronte ao Bar Comercial, Almeida apontou para ele e disse aos que o cercavam:

Lá vai Humberto Guerrera
Locutor amigo meu
Já perdeu até as contas
Das cachaças que bebeu
Tá vivo daqui pra cima
Pra baixo a “Pitú” comeu.

Novamente aplaudidíssimo pela criativa estrofe.
Esse é o mundo encantado do repentista.
Depois tem mais.






Link para essa postagem
https://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2018/12/cachaca-de-quem-morreu.html

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

REPENTISTAS


REPENTISTAS
Clerisvaldo B. Chagas, 24 de agosto de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 1.971
 
Repentistas Clerisvaldo Braga e Zé de Almeida. (Arquivo do autor).
Repentista filosofando sobre seca no Piauí:

“Eu tava me sustentando
De fruta de macaúba
Mas o galho ficou alto
Eu não conheço quem suba
De vara ninguém alcança
De pedra ninguém derruba”.

Repentista, após receber bom dinheiro de prostituta, na feira:

“Muito obrigado dona
Pela paga verdadeira
Mal empregado esse nome
Que lhe dão, mulher solteira
Rapariga é essas pestes
Que andam lisas na feira”.

Repentista recebendo no prato dinheiro mínimo de um pobre:

“Parece que seu Joaquim
Passou a noite no mato
Com uma faca amolada
Tirando couro do rato
Deixou o rato sem couro
Botou o couro no prato”

Repentista Zé de Almeida em Paulo Afonso:

“Já cantei com Manoel
Agora canto com Jó
Um é cobra caninana
Outro é cobra de cipó
Eu no mei me defendendo
C’um taco de mororó”.

Repentista de ganzá, cego Zequinha Quelé, do sítio Travessão, pedindo dinheiro na feira: “Perdoe, ceguinho”.

A bacia do perdoe
Deixei lá no Travessão
Sou homem não sou menino
Todo ser é assassino
Só meu padre Ciço, não.



Link para essa postagem
https://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2018/08/repentistas.html

terça-feira, 21 de novembro de 2017

XAMEGUINHO, SANTANA E FORRÓ

XAMEGUINHO, SANTANA E FORRÓ
Clerisvaldo B. Chagas, 22 de novembro de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.786

FORROZEIRO XAMEGUINHO. Foto: (Clerisvaldo B. Chagas).
Engavetada algumas composições de forró pé de serra com letras caprichadas, resolvi tirar algumas dúvidas e procurei o famoso cantor alagoano em Maceió. Recomendado pelo colega da música Valdo Santana, fui bater à porta de Xameguinho, ocasião em que fui bem recebido e passamos a trocar ideias. O conhecido forrozeiro confessou-me ser filho da zona rural de Atalaia, onde começou a mexer com música valendo-se ainda de sanfona rudimentar. Com persistência e talento conseguiu galgar os degraus da carreira até chegar à posição onde se encontra, sem ameaças de concorrência. Falou-me um pouco sobre o mundo musical, elogiou a voz de Valdo Santana e, saiu raspando bem das qualidades de Zé de Almeida, Benício Guimarães, Manoel Messias, inclusive das brincadeiras na chácara do Lira, em Santana do Ipanema.
Foi aí, meu amigo, que saí mostrando para o homem as minhas letras de Coco, rojão, baião, vaquejada... E enquanto lia passava a solfejar as musicas que vieram antes à minha cabeça. Todas as letras foram aprovadas, inclusive, os solfejos das melodias. Conversa vai, conversa vem, fui tentando compreender o mundo musical comparando-o à Literatura. Voltei satisfeito com a avalição de Xameguinho. Entendi perfeitamente outro viés. Caso eu queira gravar um disco de forró pé de serra, estão prontas as letras e as pistas das melodias. Xameguinho pode me entregar o disco completamente finalizado, com todo o trabalho de sua equipe, inclusive com sua própria voz. Uma vez de posse do meu próprio disco, posso oferecê-lo prontinho, prontinho ao cantor que eu quiser ou jogá-lo no mercado mesmo assim.
Ah, compadre, ia esquecendo. É preciso dispor de certa quantia para encomendar o troço. Ninguém faz nada de graça e, na área musical, há muito venho percebendo muito sede pelos “peixes”. Ainda estou pensando, amiga, se vale à pena.
Voltando ao Xameguinho, está escrito na sanfona dele mesmo o Xameguinho com “X”. E por enquanto, vamos escutando o forró alheio, esse que a gente pode ligar e desligar no momento que quiser.




Link para essa postagem
https://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2017/11/xameguinho-santana-e-forro.html

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

OS EXTERTORES DAS TRADIÇÕES



OS EXTERTORES DAS TRADIÇÕES
Clerisvaldo B. Chagas, 3 de novembro de 2015
Crônica Nº 1.492

Repentistas: Clerisvaldo e Zé  de Almeida na Matriz de Senhora Santana.
 Foto: (Clerisvaldo/Arquivo).
Vamos seguindo feira adentro; olhos perscrutadores nas bancas, no quadro, no povo. Não encontramos folhetos, emboladores, violeiros, vendedores de óleos estranhos para todo tipo de doença. Tudo parece mais escasso e pobre. Vão-se as tradições e surge o novo na continuação da vida, em ciclos de novidades cada vez mais curtos.
Não aparece diante das feiras de Senador Rui Palmeira, Olho d’Água das Flores, Santana do Ipanema, Carneiros, Canapi... Um vate popular que imite, ainda de longe, o cego pedinte e repentista do sítio Travessão, Zequinha Quelé, o gênio das feiras interioranas do sertão alagoano. “Perdoe ceguinho”:

“A bacia do perdoe
Eu deixei no Travessão
Sou homem
Não sou menino
Todo ser é assassino
Só meu padre Ciço não.”

Nem mesmo se encontra mais o violeiro nos bares, tomando uma, cantando repente, devorando temas, assim como fazia o poeta Zezinho da Divisão: “Só vai arrochando tudo”:

“Se a sua mulher não presta
Se o filho é um ladrão
Se o pai é um cornão
Que vive coçando a testa
Se na vida nada resta
Nem trabalho nem estudo
Falta dinheiro graúdo
Nesse seu bolso furado
Se dane a comprar fiado
Só vai arrochando tudo.”

A escassez de atrações nas feiras, entretanto, não faz diminuir a importância desse comércio livre de grande valia para produtores rurais e consumidores, além de amenizar os custos dos produtos comestíveis ofertados por famosos atacadões.
Afinal, a tradição também tem seu Dia de Finados.

Link para essa postagem
https://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2015/11/os-extertores-das-tradicoes.html

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

HELENA BRAGA EXALTA O FOLCLORE BRASILEIRO



HELENA BRAGA EXALTA O FOLCLORE BRASILEIRO
Clerisvaldo B. Chagas, 9 de setembro de 2014
Crônica Nº 1.257

Mais uma vez a Escola Estadual Helena Braga das Chagas, no Bairro São José, em Santana do Ipanema, homenageia o Brasil. Desta feita, os seus estudantes capricharam na apresentação folclórica que ocupou a manhã e à tarde de ontem, na referida escola.
Com orientação do corpo docente, as turmas iam apresentando seus trabalhos, enquanto os aplausos aconteciam misturados à chuva fina do “casamento da raposa”.
Os trabalhos em pauta contemplavam todas as regiões brasileiras com seus mitos, lendas, ditados, artesanato, culinária, música e muito mais. Foi apreciado o jogo de pinhão, amarelinha, brincadeira de anel, Saci Pererê, levantamento de arraia (pipa) e até mesmo músicas e vídeos de autores da terra, como Ferreirinha, Arli Cardoso, Zé de Almeida, Dênis Marques e outros.
Os alunos da Helena Braga já vinham trabalhando arduamente para esse dia de apresentação, fazendo com que os professores pudessem coroar essa importante atividade sobre as nossas raízes. Algumas manifestações praticamente estão desaparecidas em nossa área física, mas serviram de pesquisa e meditação como o reisado que muito contribuiu com as festas do interior e da capital de Alagoas.
Devido à inconstância do tempo, as apresentações aconteceram num espaço pequeno, mas o bastante para que se notasse a satisfação de todos por conta da alegria que preencheu o lugar.
O diretor da unidade, professor Marcelo André Fausto Souza, mostrava-se contente e elogiava a atuação dos seus comandados que assim motivavam a juventude do Bairro São José rumo à cidadania. A professora Maria Vilma de Lima, também ex-diretora da Escola Helena Braga dizia: “Temos condições de caprichar cada vez mais, para seguimos sempre na vanguarda da escola pública em Santana do Ipanema”.
O diretor Marcello Fausto complementou dizendo: “É assim que eu quero a nossa escola: professores competentes, motivados e alunos felizes com seus mestres, com seu estabelecimento, com o ensino de qualidade”.

Link para essa postagem
https://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2014/09/helena-braga-exalta-o-folclore.html