O GLOSADOR E A GLOSA (Clerisvaldo B. Chagas. 10.12.2009) Para os que apreciam o mundo dos sonhos. Continuando para o leigo uma explanação so...

O GLOSADOR E A GLOSA

O GLOSADOR E A GLOSA
(Clerisvaldo B. Chagas. 10.12.2009)
Para os que apreciam o mundo dos sonhos.

Continuando para o leigo uma explanação sobre poesia popular, temos a glosa e o glosador. Geralmente o glosador é um poeta que não canta; um apologista que tenta; um violeiro repentista sem a viola. O glosador improvisa versos falando normalmente. A maioria dos casos com glosadores acontece em pé de balcão, em caminhadas com amigos, ou em rodas de repentistas em repouso. A glosa é uma composição poética que antes se repetia o tema ou mote feito nos últimos quatro versos (também chamados linhas ou pés) hoje em desuso. Ficaram, então, somente dois pés (os dois últimos) ou um pé só (o último da estrofe). A glosa de um só verso também é coisa rara. O mais comum é a glosa em décima de dois versos. O saudoso poeta Zezinho da Divisão (fronteira Santana/Carneiros) era mestre em glosa de um pé só. Exemplo: “Só vai arrochando tudo”. Um exemplo completo foi quando deram o tema em um pé só a determinado poeta: “Sua mãe foi fêmea minha”. Esse mote foi criado por um sujeito que não gostava de glosador e queria desmoralizá-lo. Recebeu como resposta mais ou menos o seguinte:

“Sua avó velha safada
Seu avô um beberrão
O seu pai foi um cornão
Sua tia depravada
Sua prima era falada
Sua irmã uma galinha
Seu irmão foi mariquinha
Com sua traseira gasta
Você mesmo é pederasta
Sua mãe foi fêmea minha.”

Outra glosa com o tema: "tudo é desgosto na vida".

O homem faz plantação
A chuva às vezes não tem
E quando essa chuva vem
Não dá preço o algodão
Mas se viceja o feijão
Vem a lagarta comprida
Se a safra não for perdida
Só querem comprar fiado
Pobre só vive lascado
Tudo é desgosto na vida.

Muita atenção porque como na cantoria, a exigência também é na rima correta (amor com temor; Sé com José). Rimar Ceará com ferrar, é crime na poesia dos repentistas. Outra coisa é o número exato de sílabas. São medíocres os versos que tem uma sílaba a mais ou a menos. Ferem os ouvidos. Algumas publicações gráficas na cidade estão nesse nível, mas não ousamos criticar ninguém. Apenas a minha leitura não passa da segunda estrofe.
O poeta Rafael Paraibano da Costa, professor de Zé de Almeida, era ótimo e tranquilo no assunto de glosar. É gostoso ouvir O GLOSADOR E A GLOSA.



AINDA OS REPENTISTAS (Clerisvaldo B. Chagas. 9.12.2009) Para os apologistas Fábio Campos, João Oniel - poetisa Andréia, Telma Cirilo e poeta...

AINDA OS REPENTISTAS

AINDA OS REPENTISTAS
(Clerisvaldo B. Chagas. 9.12.2009)
Para os apologistas Fábio Campos, João Oniel - poetisa Andréia, Telma Cirilo e poeta Carlindo

Não posso guardar apenas para mim as histórias de versos obras-primas dos cantadores nordestinos. Duas passagens importantes para nós apresentamos hoje. Uma com José de Almeida e outra com o poeta Granjeiro. Antes, porém, é preciso esclarecer que os repentistas tem suas regras obedecidas rigorosamente. Uma delas é o final da rima. Não cabe, por exemplo, Ceará com Alencar. Uma tem acento, a outra tem um “r”. Caso o poeta cometa esse erro, será um defeito grave. Outra coisa são as rimas pobres que não valorizam o verso a não ser que haja muita criatividade: “ão”, “ado” e “ia” estão nesse grupo. A rima sendo rara somada à criatividade pode formar a obra-prima; aquela estrofe que passa de boca em boca por gerações e pelo mundo encantado dos repentistas. Foi com a terminação “ó”, que José de Almeida foi ovacionado em Paulo Afonso há bastante tempo. Todos queriam conhecer o poeta santanense que se firmava na cantoria pegando fama. Convidado para cantar com Jó Patriota na “Capital da Energia”, José de Almeida apresentou-se primeiro com um poeta chamado Manoel de Filó (uma fera também assim como Jó Patriota). Na segunda baionada (parte), após o experimento, Almeida senta com Jó Patriota e inicia ─ para felicidade geral do mundo da viola – a seguinte obra-prima em sextilha:

“Já cantei com Manoel
Agora canto com
Um é cobra canina
Outro é cobra de cipó
Eu no mei’ me defendendo
Com um taco de mororó

Foi delirantemente aplaudido.

Pela boca do cantador desistente como eu, José de Sebastião, funcionário público da prefeitura de Santana, ouvi essa outra história. O poeta Granjeiro (não lembro o primeiro nome) cantava em determinado lugar quando pediram um mote em décima: “No coração da criança/ não tem ódio nem rancor”. Ora, baseado em que São Miguel é quem pesa os pecadores, o poeta famoso em fazer belíssimas estrofes de tema ou mote, saiu-se com esta, após o seu parceiro:

“Quando morre um pequenino
Sobe envolto num véu
Chega às portas do céu
Miguel diz para o Divino:
“Vamos pesar o menino
Que é filho de pecador”
“Jesus lhe diz não senhor
Pode guardar a balança
No coração da criança
Não tem ódio nem rancor
”.

Quando acontece uma estrofe assim, é chamada pelos poetas de “verso grande” e de “impagável”, isto é, o parceiro não fará um melhor do que aquele. E depois de vibrantes aplausos da platéia entendida, o parceiro para essa baionada em sinal de respeito à estrofe tão criativa do colega.
No bizaco trago AINDA OS REPENTISTAS.
(Obs. Na crônica de ontem, “Possante Monumento”, parágrafo segundo, leia-se cúpula e não cripta.)

POSSANTE MONUMENTO (Clerisvaldo B. Chagas. 8.12.2009) Quando o Cônego Bulhões resolveu reformar a Igreja Matriz de Senhora Santa Ana, estav...

POSSANTE MONUMENTO

POSSANTE MONUMENTO
(Clerisvaldo B. Chagas. 8.12.2009)

Quando o Cônego Bulhões resolveu reformar a Igreja Matriz de Senhora Santa Ana, estava iniciando um arrojado empreendimento. História e reformas da igreja são contadas no livro inédito O Boi a Bota e a Batina, história completa de Santana do Ipanema. Terminada a reforma, com o Cônego Bulhões já enfermo, surgiu uma torre com 35 metros de altura numa época sem avançada tecnologia. Com as modificações narradas no livro acima, a igreja havia recebido ultimamente uma reforma externa na entrada principal sob a batuta do Cônego Delorizano Marques. Não satisfeito com apenas as modificações de entrada, o cônego planejou o recuo do altar-mor. Além do acréscimo de espaço, esse recuo proporcionou um novo quadro que agradou em cheio. Como ficamos ausentes das missas dominicais por certo período, tivemos a grata surpresa das modificações positivas daquele sacerdote. A reforma interior faz jus à tradição da igreja de Senhora Santa Ana. Notamos que os quadros da via-sacra foram substituídos por outros modernos e prateados que fazem um bonito efeito com a cor do teto. O granito negro do piso, juntamente com outras cores, ajuda o embelezamento daquele majestoso templo católico. O Cristo na cruz ─ confeccionado por um dos fundadores de Santana e primeiro padre Francisco Correia ─ recebeu prolongamento dourado nas extremidades da madeira. Ao fundo, quadro representativo da história cristã e desenhos do céu em azul profundo com nuvens esparsas e brancas, impressionam. E se a igreja de Senhora Santa Ana já era o mais belo monumento do Sertão, imaginem agora! Aliás, o Cônego Delorizano Marques, demonstrou bom gosto nas suas realizações físicas como o santuário dedicado à Virgem de Guadalupe, à margem da BR-316. Monumento esse também dedicado à passagem do século XX para o século XXI.
Destoando docemente da arquitetura sertaneja, o santuário visto ao entardecer das proximidades da UNEAL, com seu destaque de vidros azuis e cripta prateada, parece fazer parte de paisagem nórdica européia. Dessa maneira a cidade possui agora três marcos de passagem de séculos. O Cruzeiro do serrote e a igrejinha de Nossa Senhora da Assunção (XIX-XX) e o santuário da Virgem de Guadalupe (XX-XXI).
Voltando à Matriz de Senhora Santa Ana, continuamos com a mesma idéia já exposta várias vezes: cartão de visita da cidade deveria ser o ponto turístico número um se houvesse algum interesse sobre o ramo. Enquanto o turismo continua como um sonho distante, vamos nós mesmos, de Santana e das cidades circunvizinhas, curtindo a beleza do nosso templo maior. Queremos apreciar e estudar mais esse POSSANTE MONUMENTO.