quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O GLOSADOR E A GLOSA

O GLOSADOR E A GLOSA
(Clerisvaldo B. Chagas. 10.12.2009)
Para os que apreciam o mundo dos sonhos.

Continuando para o leigo uma explanação sobre poesia popular, temos a glosa e o glosador. Geralmente o glosador é um poeta que não canta; um apologista que tenta; um violeiro repentista sem a viola. O glosador improvisa versos falando normalmente. A maioria dos casos com glosadores acontece em pé de balcão, em caminhadas com amigos, ou em rodas de repentistas em repouso. A glosa é uma composição poética que antes se repetia o tema ou mote feito nos últimos quatro versos (também chamados linhas ou pés) hoje em desuso. Ficaram, então, somente dois pés (os dois últimos) ou um pé só (o último da estrofe). A glosa de um só verso também é coisa rara. O mais comum é a glosa em décima de dois versos. O saudoso poeta Zezinho da Divisão (fronteira Santana/Carneiros) era mestre em glosa de um pé só. Exemplo: “Só vai arrochando tudo”. Um exemplo completo foi quando deram o tema em um pé só a determinado poeta: “Sua mãe foi fêmea minha”. Esse mote foi criado por um sujeito que não gostava de glosador e queria desmoralizá-lo. Recebeu como resposta mais ou menos o seguinte:

“Sua avó velha safada
Seu avô um beberrão
O seu pai foi um cornão
Sua tia depravada
Sua prima era falada
Sua irmã uma galinha
Seu irmão foi mariquinha
Com sua traseira gasta
Você mesmo é pederasta
Sua mãe foi fêmea minha.”

Outra glosa com o tema: "tudo é desgosto na vida".

O homem faz plantação
A chuva às vezes não tem
E quando essa chuva vem
Não dá preço o algodão
Mas se viceja o feijão
Vem a lagarta comprida
Se a safra não for perdida
Só querem comprar fiado
Pobre só vive lascado
Tudo é desgosto na vida.

Muita atenção porque como na cantoria, a exigência também é na rima correta (amor com temor; Sé com José). Rimar Ceará com ferrar, é crime na poesia dos repentistas. Outra coisa é o número exato de sílabas. São medíocres os versos que tem uma sílaba a mais ou a menos. Ferem os ouvidos. Algumas publicações gráficas na cidade estão nesse nível, mas não ousamos criticar ninguém. Apenas a minha leitura não passa da segunda estrofe.
O poeta Rafael Paraibano da Costa, professor de Zé de Almeida, era ótimo e tranquilo no assunto de glosar. É gostoso ouvir O GLOSADOR E A GLOSA.




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