EU E AURÉLIO (Clerisvaldo B. Chagas, 9 de setembro de 2010)      Foi uma imensa honra, a presença e a palestra do professor Aurélio Buarque...

EU E AURÉLIO

EU E AURÉLIO
(Clerisvaldo B. Chagas, 9 de setembro de 2010)
     Foi uma imensa honra, a presença e a palestra do professor Aurélio Buarque de Holanda Ferreira na Faculdade de Arapiraca. Após a palestra atendeu a quem o procurava com uma simplicidade peculiar dos grandes homens. Deixou-se fotografar com quem o procurou e saiu do prédio sem alarde assim como havia chegado.
     Muitos e muitos anos após aquele encontro fiquei aceso ao manusear um dicionário velho, escrito em papel jornal, numa escola do município de Santana do Ipanema. Que coisa impressionante aquele volume que se abria diante da minha sede. Finalmente eu encontrara um dicionário como sempre havia imaginado. Com algumas dúvidas e sem poder retornar à escola que era longe, procurei a biblioteca pública e encontrei a mesma obra. Parti, então, para encontrar o dicionário atualizado e à venda. Quando consegui encontrá-lo através de vendedores, o preço era exorbitante. Fui intercalando o tempo de procura e em cada botada o preço corria mais do que eu. Os anos se passaram e finalmente com a nova ortografia, resolvi reiniciar o movimento. Navegando na Internet descobri que a 4ª edição iria ser lançado em setembro já com a Nova Ortografia e também em versão eletrônica. Deixei passar dois ou três meses aguardando o resultado da pesquisa errada. O dicionário já havia sido lançado na primavera de 2009. Quando descobri meu erro, comecei (na linguagem do povo, endoidei) a pesquisar exaustivamente e descobri a editora herdeira dos seus direitos autorais, a edição lançada, a versão e tudo mais. Deixei escapar um longo suspiro de contentamento pelos seus 435 mil verbetes (meu Aurelinho era apenas de 30 mil).
     Ao saber que uma livraria em Maceió representava a editora do Paraná, parti para o ataque definitivo numa ansiedade medonha. Cheguei à livraria, no Bairro do Farol, já na hora de fechar o comércio. Estava ali. Assim que entrei, vi logo. Ele estava ali! Cheio de satisfação e muita alegria comprei o bichão e fiquei alisando o plástico da capa dura, sem acreditar que havia vencido a batalha da tantos anos. Uma pessoa da família acabava de adquirir um carro zero e nele fui conduzido até a livraria. Coloquei o volume no colo e disse como meu pai diria: “Seu carro zero não me bate o papo. Mas cuidem bem desse bebê aí no banco traseiro que um grande sonho acaba de ser realizado”. E como a versão eletrônica não pode ser copiada, colocamos o CD original em vários computadores da família, compensando imediatamente o seu valor monetário. Não, não senhor, não estou ganhando nada para fazer propaganda. Quem ama as letras por certo sentirá essas palavras. Montado em 435 mil verbetes, com as esporas da Nova Ortografia, fica mais seguro correr nas caatingas devolutas da Língua Portuguesa. Eu sabia que iria adquirir o Dicionário tão procurado. Requeri aposentadoria para os outros todos que tenho em casa. Agora é enfrentar a Maria Gramática, a Mulher de Pedra. Puxa! Finalmente juntos: o computador, EU E AURÉLIO.




OS GONZAGA NO PODER (Clerisvaldo B. Chagas, 8 de setembro de 2010)      Quando Gonzaga viu a mulher apaixonou-se na hora. Procurou falar co...

OS GONZAGA NO PODER

OS GONZAGA NO PODER
(Clerisvaldo B. Chagas, 8 de setembro de 2010)
     Quando Gonzaga viu a mulher apaixonou-se na hora. Procurou falar com ela e o sentimento foi recíproco. O fazendeiro pai da moça foi visitado, ouviu de Gonzaga a sua pretensão de casar, mas respondeu que a sua filha não prestava para casamento, não dando maiores explicações e pondo fim ao diálogo. Gonzaga voltou a Alagoas e planejou roubar a moça. Preparado o plano, deixou a serra da Camonga, em Santana do Ipanema e partiu para Curaçá, Bahia. No caminho, começou a chover. Gonzaga contemplou alguns cavalos que pastavam na chuva, notando que apenas um deles recebia a água de frente. Foi a sede da fazenda dizendo que queria um comprar um cavalo. O proprietário mandou buscar os animais e pediu que escolhesse. Gonzaga, ao apontar o corcel que almejava (justamente o que recebera a chuva de frente), o fazendeiro disse que aquele era o mais fraco, escolhesse um melhor. Gonzaga relutou respondendo que só servia aquele. Comprado o animal, o viajor partiu e, no rio São Francisco fez um trato com um canoeiro para esperá-lo em determinado lugar. Uma vez roubada à moça, a capangada seguiu atrás. Ao chegar ao rio São Francisco, o canoeiro não havia cumprido o trato. Gonzaga ajeitou-se com a amada e vadearam o rio a nado, enquanto a cabroeira riscava os cavalos do lado sergipano. Uma vez no município de Santana do Ipanema, Gonzaga dirigiu-se ao sopé da serra da Camonga a três quilômetros da sede, aproximadamente, onde foi viver com sua futura esposa baiana.
     A família Gonzaga foi a que mais tempo dominou a política de Santana. Essa família possuía boa situação econômica e era proprietária de terras e engenhos nas faldas da serra da Camonga. Um dos seus membros, Luiz Gonzaga de Souza Góes, além de terras no lugar citado, foi dono de loja de tecidos e fábrica de beneficiamento do algodão. Eleito como segundo intendente de Santana, governou na primeira gestão de 1895 a 1896. Depois governou sucessivamente desde 1896 até 1914. Foram dezenove anos no poder vendo passar seis presidentes da República ao longo da sua permanência no cargo: Prudente de Morais, Campos Sales, Rodrigues Alves, Afonso Pena, Nilo Peçanha e Hermes da Fonseca. Ao se casar com a irmã do padre Manoel Capitulino de Carvalho, transferiu sua carreira política para o cunhado que o sucedeu na intendência em 1914, na gestão presidencial de Venceslau Brás (Ver futuramente “O Boi, a Bota e a Batina, História Completa de Santana do Ipanema”, do autor).
     O sacerdote que ficou conhecido simplesmente como padre Capitulino, governou Santana como intendente apenas de 1914 a 1915, cumprindo seu destino de viajante. Foi eleito várias vezes deputado, sempre influenciando a política santanense tendo a família Gonzaga como ponto de apoio. Por sua vez, formalmente os Gonzaga não mais voltaram ao poder municipal. Seis anos após a polêmica gestão do padre Manoel Capitulino de Carvalho, procedente de Piaçabuçu, a vila de Sant’Ana do Ipanema entra no rol das cidades brasileiras. Está dito e registrado: OS GONZAGA NO PODER.

SABIA NÃO (Clerisvaldo B. Chagas, 7 de setembro de 2010) Quando perguntei ao matuto em quem ele iria votar para presidente, o homem rodeou....

SABIA NÃO

SABIA NÃO
(Clerisvaldo B. Chagas, 7 de setembro de 2010)
Quando perguntei ao matuto em quem ele iria votar para presidente, o homem rodeou. Disse que antes o pobre do campo procurava o fazendeiro e se oferecia para trabalhar. Na vez do preço da diária, o pobre achava pouco e o grande respondia aborrecido que “se não quiser, outro quer”. Agora com essa tal bolsa família todo mundo recebe alguma coisa do governo. Ele mesmo estava aposentado e a mulher também. O quadro social se inverteu. O fazendeiro, atualmente, é quem vai procurar o trabalhador braçal da roça. Quando diz quanto quer pagar, a vez de responder, aborrecido, é a do trabalhador: “Procure outro. Por esse preço não dou um dia de serviço nem a minha mãe”. E o matuto complementa afirmando que o fazendeiro e outros homens ricos dizem que a culpa é do Lula. E com sua moto nova e bonita guiada pelo filho, bancada por ele, responde finalmente a indagação: “Vamos votar na candidata do pai dos pobres”.
Percorrendo as estradas do Sertão alagoano, não vemos mais como antes, plantações em todos os lugares. Com o progresso urbano, os filhos dos agricultores foram estudar nas cidades médias e por lá foram ficando. Os pais que tinham família grande como mão-de-obra, ficaram praticamente sós no campo. Muitos até envelhecidos, já não tem como tocar as obras da agricultura. Por outro lado, é verdade que não encontram mais quem queira trabalhar, principalmente pelo preço oferecido. Se tiver algum jovem, esse prefere a carona do dinheiro da aposentadoria do pai, da mão ou da avó, mas trabalhar que é bom, nada. Os terrenos desmatados há décadas, pisoteado pelo gado bovino e miúdo, lavados pelas enxurradas, perderam os nutrientes. Acuado pela situação dupla de falta de mão-de-obra, o fazendeiro rico, médio ou pequeno, vai deixando o mato e o abandono tomarem conta de tudo. As terras sofridas voltam ao povoamento de vegetais, mas dessa vez de capoeiras, arbustos de espinheiros que cobrem todos os lugares. Inúmeros pássaros reaparecem por falta de gente para mexer nos seus ninhos ou atacá-los com petecas. Somente eles reaparecem. Os animais de grande, médio e pequeno porte também desapareceram. Nem cobra se vê mais, meu amigo. Para os proprietários, principalmente os menores, a saída é correr atrás do INSS navegando na mesma esperança dos seus antigos trabalhadores. Em uma terra em que se não mecaniza nada, nada mesmo resta. A maconha e a droga pesada já penetraram nos sítios e, muitos lugares que funcionam como bodega e bar, viraram antros de degeneração cabocla. Para o golpe final, os assaltos aos sítios, chácaras e fazendas, estão em evidência também no campo. E quando o velhinho não é assaltado em dia de pagamento na porta da agência bancária, fica sem o dinheiro no trajeto ou em casa onde os bandidos vão procurá-lo à noite. Muitos da cidade que procuravam comprar chácaras na área rural desistiram por causa da insegurança reinante. As terras ficaram sem valor, o preço foi para baixo. O desmatamento do que resta da caatinga continua sob os olhares de secretários de meio ambiente que nem tem meio nem ambiente. E da tal Ecologia, só o eco e não a jia que fugiu com o amante sapo, faz é tempo! SABIA NÃO?!