MERECIMENTO (Clerisvaldo B. Chagas, 19 de outubro de 2010)      Não dispomos de estatística sobre o andamento da solidariedade no Brasi...

MERECIMENTO

MERECIMENTO

(Clerisvaldo B. Chagas, 19 de outubro de 2010)

     Não dispomos de estatística sobre o andamento da solidariedade no Brasil. Até porque o tema é muito abrangente e vai do estritamente pessoal até o encaixe nas grandes manifestações. Mas é de se pensar nos transportes rodoviários o que acontece no tombamento de algum veículo pesado pelas estradas gerais ou nas densamente povoadas. Pela primeira vez vimos falar em saques de cargas de caminhões no Rio de Janeiro. Um cidadão que transportava frangos tombou no pé de um dos morros cariocas. Ao invés da ajuda que esperava dos moradores, o que ele viu foi coisa bem diferente. Uma verdadeira enxurrada humana descendo o morro e praticando o saque sem nenhum constrangimento. Parecia no ato inglório um enxame desesperado por comida. Os mais fortes conduziam gradeados completos e desapareciam a galope nas vias tortuosas de habitações populares. Quem não podia com o peso da grade, pelo menos levava uma galinha ou duas, mas não deixava de participar do vandalismo. O caminhão continuava de pneus para cima e o motorista ferido se virava como podia. Para quem nunca tinha visto até o momento aquele tipo de manifestação, não deixa de ter sido um choque de incredulidade, mostrada a cena de como a vida é dura. Daí vem à expressão criada e transferida para o cinema: mundo cão. Em outras ocasiões semelhantes, a polícia chega atrasada. Quando surge a tempo é apenas para socorrer vítimas e registrar a ocorrência. O povo ulula em derredor como se ali não tivesse chegado uniforme algum.
     Depois do Rio vamos notando o aprendizado no Brasil inteiro. Aqui mesmo em Alagoas, principalmente nas rodovias mais movimentadas, o saque a caminhões tombados virou rotina. Agora não são ataques somente às cargas de comida ou bebida, mas a tudo. Material de limpeza, de construção, cigarros... Nada escapa da população. Impressiona a chegada rápida de pessoas saídas de todos os lugares que praticam o ato criminoso em poucos minutos. Nessas ocasiões o condutor do veículo fica em situação periclitante ao escapar do acidente. Pode ser assassinado a qualquer momento, caso traga algum dinheiro nos bolsos, relógio, corrente de ouro ou outra coisa pessoal. Como no meio da multidão tem de tudo, matar e roubar as vítimas não seriam coisas tão difíceis de acontecer. Em veículos menores, chamados carros pequenos, acontecem coisas parecidas. Hoje não se pode facilitar confiando nos socorristas. Escapar dos vândalos das estradas, agora é questão de sorte. Vamos perguntando aonde anda a solidariedade. O que não presta tem facilidade de propagação rápida. A violência vai se multiplicando numa velocidade que impede cabresto, ganhando novos adeptos que vão engordando o segmento. Ante a surpresa dessa gente desmiolada, somente Deus para proteger. Digo, se ainda tiver MERECIMENTO.





O EQUILÍBRIO AGRADECE (Clerisvaldo B. Chagas, 18 de outubro de 2010)      Essa coisa ainda nova e sem freios, chamada Web, continua fazendo...

O EQUILÍBRIO AGRADECE

O EQUILÍBRIO AGRADECE
(Clerisvaldo B. Chagas, 18 de outubro de 2010)
     Essa coisa ainda nova e sem freios, chamada Web, continua fazendo de tudo. Campo fértil para o que se imagina, essa descomunal rede de comunicações tanto eleva quanta destrói, dependendo da cabeça do usuário. Se a pessoa é do bem, produz o bem; se é mau, o que não presta faz vassalagem a seus pés. Condensando, a Internet é como o próprio mundo físico. Tem em generosa abundância do bom e, em viscosas teias do ruim. Os canalhas, encontrando terreno fértil para suas bestialidades, procuram aperfeiçoar e expandir os seus instintos. Os indefinidos, sempre escorregam para a podridão que parece ter força maior para seduzir. Afinal, atacar sem corpo, sem rosto, sem presença, demonstra ser negócio para as mentes indecisas. A diferença, então, entre o real e o virtual indica a ausência das leis no segundo campo, o que faz o bandido julgar-se seguro. Os crimes vão oscilando entre os mais leves e os mais profundos. Aonde o homem chega vai levando os seus aprendizados insondáveis, frutos da sua natureza. Aos desertos, a Internet, a Lua, chegam os complexos evolutivos ou degradantes, porque o todo não anda separado da cabeça. E como a lavoura cresce junto a erva daninha só o “fogo do fim do mundo poderá separá-las”, dizia meu pai.
     Trago meu endereço em aberto para coisas sadias. Para os mais diferentes tipos de conversas que possam no mínimo nos divertir, mas sadiamente, dentro do tolerável. Que prazer sentimos em conversar com amigos ou novos amigos sobre os mais variados assuntos! Mas a conversa franca, profunda ou supérflua, que ajuda a viver, conforta e eleva a alma. Ultimamente tenho recebido muitos textos de uma só pessoa que só envia lixo político. Não é um texto uma vez ou outra, é entre quatro e oito ao dia. Essa mulher parece não largar nunca o computador, nem mesmo para comer. Aliás, para se alimentar, deve ser como os astronautas para não ter que abandonar o mouse nem por alguns segundos. Quanto às necessidades fisiológicas, nem sei! Devem ser expelidas em forma de lixo eletrônico político, cujas lixeiras são os nossos computadores. Não escreve uma linha! É uma fábrica de transferência de imundície para as nossas máquinas. Calúnias, difamações, hipocrisia e toda baixeza encontrada sobre a respeitável candidata a presidência, são despejadas. Não tem paciência que aguente. Que satisfação satânica essa mulher deve sentir ao enviar essas porcarias! Os alvos maiores são o PT e a ex-ministra Dilma. Como pode uma pessoa alimentar tanto ódio assim? Seus atos e textos enojam-me minha senhora! Vá a um psiquiatra, procure o que fazer! Não gaste sua preciosa aposentadoria a semear a discórdia! Seus atos são assim, imagine sua língua. Quantas famílias já destruiu com ela?
     Não faltam boa clínicas aí em Maceió, para o seu caso. Podem até não darem jeito, mas pelo menos tente. Tenho absoluta certeza de que o mundo virtual ficará satisfeito, o EQUILÍBRIO AGRADECE.

O GRITO DO MATEU (Clerisvaldo B. Chagas, 15 de outubro de 2010) Para os poetas santanenses José Ormindo e Azevedinho      Debruçar-me-ei n...

O GRITO DO MATEU

O GRITO DO MATEU
(Clerisvaldo B. Chagas, 15 de outubro de 2010)
Para os poetas santanenses José Ormindo e Azevedinho

     Debruçar-me-ei na janela do tempo. Deliciar-me-ei com as facetas multicores do Guerreiro alagoano, folguedo arrojado que encanta nos umbrais do belo. Balancear divino, contorções mágicas, rostos ingênuos de folclore puro. No caldeamento de cheganças, pastoris, quilombos, caboclinhos, emerge o Guerreiro luminoso nos espelhos das catedrais. Curvar-me-ei diante das evoluções ímpares do festejo natalino. Sanfona, pandeiro, tambor, dançadores, cantores, atores congregados contando a história do Messias. Amorosa homenagem dos Reis Magos deglutindo o tempo. Índio Peri, Zabelê, Mateu, Doido, Sereia, Estrela D’alva, encarregar-se-ão de varar a noite, de conquistar a Lua, de saudar o Sol. Brincantes da minha terra! Figuras serenas de inimagináveis fulgores e encantos, vozes harmoniosas que elevam o canto. Representações de fidalgos, espadas em lutas, riquezas de simbiose nordestina na boca grande e noturna. Avivam-se cores, dobram-se joelhos, atiram-se ternuras diante do Menino.

“Ô minha gente
Dinheiro só de papé
Carinho só de mulé
Capitá só Maceió...”

xxx

     O Guerreiro alagoano, nascido em Viçosa, final da era de vinte do século passado, difundiu-se por todos os recantos. Aproximadamente, entre 1930 e 1950, esse folguedo foi muito apreciado no Sertão. É de se notar que o folclore predominava em época natalina, cujas diversões modernas ainda engatinhavam. Arruaceiros e mesmo volantes alopradas gostavam de praticar selvagerias contra essa e outras fontes de lazer dos sertanejos como bailes, reisados, coco de roda e pagode. O palhaço da brincadeira é o Mateu, que antes da festa, pelo dia sai anunciando o evento nas ruas da cidade. Chapéu típico, cara pintada de preto, relho a estalar, coloca menino para correr. Ainda hoje se diz no Sertão, referindo-se a má conduta: “Toda família tem um mateu”. Por outro lado, quando alguém desejava falar com Lampião pela segunda vez e, não sabendo onde o encontrar, logo achava a resposta. Virgulino mesmo dizia filosofando: “É só escutar o grito do Mateu.”
     Nos últimos anos, muitos valores inverteram-se. A exceção virou regra geral e o mundo parece andar de cabeça para baixo. As mais absurdas coisas são ditas e realizadas sem pejo, sem critério, sem honra. Se o fim está próximo, não sabemos. Somos apenas passageiros dessa nave que não para. Tornaram-se rotinas os rostos negros de carvão semelhantes ao personagem do Guerreiro das Alagoas. Já não precisa escutar eco nenhum no meio da caatinga. Basta olhar em torno e dispensar O GRITO DO MATEU.