PRETO E CABELUDO Clerisvaldo B. Chagas, 28 de junho de 2012. Crônica Nº 806 Quando o circo chegava ao interior proporcionava um...

PRETO E CABELUDO


PRETO E CABELUDO
Clerisvaldo B. Chagas, 28 de junho de 2012.
Crônica Nº 806

Quando o circo chegava ao interior proporcionava uma grande alegria à população carente de diversões. Circo grande, enorme, descomunal ou circo pequeno, acanhado, sumido, sempre concentravam a força maior no palhaço e alguns até em dois palhaços. Poderia o circo dispor de ótimas apresentações em todo o seu quadro, porém, se não tivesse um excelente mestre do riso, seria motivo de brevemente levantar acampamento. Lembro que certa feita um bom palhaço assegurava semanas seguidas de espetáculos, por trás da atual Delegacia de Polícia, em Santana do Ipanema, Alagoas. Entre outras, o sem vergonha contou que seu primo andava perto da cidade quando avistou um bicho. Tentou correr, mas se deparou com o bicho na frente. Era um bicho preto e cabeludo. Ele voltou e entrou por uma vereda. Olhou para trás e, lá vem o bicho. Correu, correu em direção à cidade e o bicho preto cabeludo atrás. Ao entrar na cidade procurou um abrigo e nada. Lá na frente havia uma baiana da saia grande, vendendo acarajé e, o jeito foi meter-se debaixo da saia da vendedora. Pronto, respirou aliviado o primo, porém, quando pensava que estava salvo, olhou para cima e assustou-se mais ainda pois lá estava o bicho preto e cabeludo. O velho circo quase veio abaixo de tantas gargalhadas dos marmanjos.
Esta semana encontrei-me com um pretenso candidato, no comércio de Santana. O homem aproveitou para me dá um abraço de urso, perguntar pela família, pela saúde, pela situação e tantas coisas mais que eu pensei que o novo cara de pau, havia se convertido. Depois da ladainha de praxe, o sujeito confessou a sua pretensão. Perguntou-me animado se podia contar com a minha família, se não toda, mas pelo menos com a metade ou menos da metade porque por um voto apenas se ganha e se perde uma eleição. Diante da famigerada saia justa, fui salvo pelo gongo, quando outra vítima surgiu e nos cumprimentou. No desvio da atenção, saí alegando uma conversa futura, mas o novo passarinho ficou na mesma rede em que eu estivera.
Com duas quadras adiante, respirei aliviado. Quando olhei para trás, lá vinha o indivíduo nos meus calcanhares, estirando o pescoço igualzinho a jabuti. Dobrei a esquina e lá na frente olhei para trás, lá vem o homem. Entrei numa galeria que saía noutra rua, o candidato atrás. Imediatamente pensei apenas em três alternativas. Parar, aguardar e enfrentá-lo sem saber o que dizer. Disparar pela principal avenida como quem estava doido, foi à segunda, e, a terceira alternativa não podia acontecer porque não vi baiana nenhuma vendendo nada. Mas confesso meu amigo, com todo o risco do mundo que pensei forte no primo do palhaço. Não consegui escapar das unhas e das novas baboseiras de (quase digo o nome dele), mas bem que me deu muito mais coragem para enfrentar o BICHO PRETO CABELUDO.
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NÃO HÁ POSSIBILIDADE Clerisvaldo B. Chagas, 27de junho de 2012. Crônica Nº 805 Novamente sou obrigado a recordar conversas de ad...

NÃO HÁ POSSIBILIDADE

NÃO HÁ POSSIBILIDADE
Clerisvaldo B. Chagas, 27de junho de 2012.
Crônica Nº 805

Novamente sou obrigado a recordar conversas de adolescentes ao observar o quadro político na minha cidade. O saudoso companheiro José Lima, morando com a tia Maria Sabão no Hotel Central, descia as escadas de madeira do 1ª andar para a Esquina do Pecado. Entre suas anedotas, rápidas e inteligentes, o negrão falava sobre um gay que morava em Palmeira dos Índios. Muito educado e de frases elegantes, segundo o negrão, o gay de Palmeira não perdia o prumo. E depois de contar algumas passagens da criatura, Zé Lima quis provar que o danado era fino até na hora do ato sexual. Depois de chegar ao lugar adequado com um fulano, fizeram as preliminares, quando o gay tomou a posição de praxe. Naquele momento da felicidade, o gay lembrou-se de espiar para trás por cima dos ombros, ficando horrorizado com o que viu; mas o belo patricinho não perdeu a elegância uma fração de segundo. Simplesmente ergueu às vestes inferiores e afirmou, categoricamente, deixando o local do “crime”: “Estimadíssimo quadrúpede, não há possibilidade! Não há possibilidade!”.
A disputa política das eleições em Santana do Ipanema é igual à de qualquer outro lugar do interior. Existem os que detêm grandes condições e aqueles que desejam, mas são rejeitados pelo povo. Mesmo assim, sempre se registra a insistência robusta de querer entrar no céu a pulso. “Nós não o queremos” diz o povo. Mas o personagem faz ouvidos de mercador e aparece de chofre com a maior autoridade do estado para avalizar a sua vontade tresloucada de atropelar e ser prefeito. O resultado é a grande decepção, coleções de piadas e risos sem fim da parte popular. É certo que a maioria da população é analfabeta e não sabe o que quer, porém, sabe muito bem o que não quer. O exemplo acima é de um candidato fictício ou não, mas existem outros vários exemplos de desespero político, provocando risadas espetaculares. Enquanto isso os paióis das azulzinhas, ameaçam estourar a partir dos primeiros dias do mês de julho.
Diante do céu da prefeitura, portas estreitas e fortes aspirantes. Para os que procuram aliviar as suas taras nas partes íntimas do erário público, ficam parecendo o jumento de duas pernas da história do negrão Zé Lima. Conformem-se nas palavras buriladas do gay de Palmeira dos Índios: “Estimadíssimo quadrúpede, não há possibilidade! NÃO HÁ POSSIBILIDADE”.